QUÉ FAZER COM GAZA?


Israel emprega a estrategia clássica em Gaza. A denominada terceira opção de Beaufre*, foi praticada exitosamente pela URSS: pressão militar, económica e diplomática combinadas com o uso da força. Por que não funciona aquí? Muito singelo, porque Israel actualmente não utiliza nenhuma dessas formas de pressão.

Os esforços de isolar a Hamas diplomaticamente fracassaram. O grupo terrorista disfruta de relações com Rússia, Síria, Irão, Egipto e Arábia Saudi. Até os EEUU tacitamente reconhecem-os e negociam a nível de assessores. A própria Israel está em permanente contacto com Hamas.

A pressão económica sobre Gaza é semelhante às sanções sobre um arrabaldo dependente de subsídios mais do que da actividade económica. Seja qual for o escasso fluxo de ingressos que Israel provocar através do feche de fronteiras, a UNRWA* e Irão compensam a Gaza mediante subsídios. A vida de Gaza aproxima-se ao paraíso naquilo do que carece: não têm impostos, não têm necessidade de trabalhar, não têm responsabilidades.

Israel suprimiu a sua pressão militar. Limitando os ataques aos terroristas, como podemos esperar exercer pressão sobre a população em geral? Israel logrou temporalmente enfrontar aos libaneses contra Hizbollah pela considerável destrucção que causaram aos civis durante a guerra de 2006; mas Hizbollah recuperou o seu prestígio pagando os destroços com dinheiro procedente de Irão.

A ameaça com o uso da força por parte de Israel é inexistente. Tem-se tornado não-crível pela sua deixadez durante os sete anos de bombardeos com cohetes desde Gaza e o processo de desconexão; não semelha muito perigosa a primeira vista. Todo habitante de Gaza com um aparelho de TV conhece o cenário das invasões israelis: greves de protesta, submetimento das heróicas vítimas do terrorismo, e veloz retirada ante a pressão das condeas internacionais.

Israel intentou uma guerra limitada em Gaza, mas esqueceu que a guerra limitada só pode ser exitosa se está respaldada por uma ameaça crível de guerra total, como as operações dos chineses contra Índia perto do Tibet. Uma vez que os de Gaza se decatam de que não são susceptíveis de serem bombardeados numa campanha tipo Dresde, não têm razão alguma para render-se de imediato às demandas de Israel.

Em termos tácticos, Gaza é um grande obstáculo. Não há focos da menor resistência a serem invadidos e explorados, nem enfrontamentos entre exércitos rivais, nem um fronte particular que ser aterrorizado, nem pontos industriais vulneráveis para ser destruídos. Gaza é uma área urbana densamente povoada e abarrotada de terroristas. Nenhum comandante sensato conduziria às suas tropas ali, a não ser que previamente a polícia tenha feito no lugar o seu trabalho de rutina. Mas isso significaria voltar a ocupar Gaza. As incursões de castigo teriam sido uma boa opção, mas a pequena Israel não poderia aturar as hostilidades no interim dessas incursões: inclusso os tiroteos esporádicos desde Gaza perturbariam a indústria e negócios no Negev, Ashkelon e Ashdod.

Faluya não serve como modelo para Gaza. A cidade iraqui tem muitas razões para cooperar com os americãos e nenhuma para opôr-se a eles. Os americãos não pretendem invadir o território iraqui. Troujeram dinheiro e certo grau de liberdade. Tratam de extender a seguridade. Não assim em Gaza, onde os seus habitantes lembram perfeitamente que os judeus conquistaram a sua terra. O processo de paz, visto em perspectiva, não devolverá aos residentes em Gaza os seus fogares de Haifa, Yaffo, e outros pontos sob jurisdicção de Israel. Hamas, antes que Israel ou os colaboracionistas de Fatah, tem dotado de um semblante de lei e orde a Gaza. A gente sinte uma lealdade natural a Hamas, que trabalha honestamente e combate ao seu serviço.

A moderação é difízil que coalhe em Gaza. A burguesia palestiniana poderia constituir um partido e inclusso ter um apoio significativo, mas de onde sacariam os militantes?: da Yihad Islámica?, dos 80.000 membros da polícia de Fatah? A sociedade palestiniana não tem desenvolvido o nível de obediência às leis requerido para a moderação. O exemplo de Arafat demonstra que, inclusso um homem forte como ele, não puido permitir-se politicamente o luxo da moderação

Hamas desenvolve uma imensa campanha de propaganda que os israelis confundem com uma guerra de tipo terrorista. Seguindo a máxima de Mao, Hamas “não luita por luitar, senão com a finalidade de inocular propaganda entre as massas”. Quanto mais combata Israel a Hamas, maior apoio conseguirá esta.

Israel destruiu a OLP no Líbano, mas Peres troujo ao impotente Arafat desde Túnez. Em quanto a OLP deixou de bailar ao ritmo que marcava Israel, alimentámos a Hamas como alternativa de Fatah. Hamas é uma organização honesta, decente desde o ponto de vista de eles, que persegue o melhor para os palestiniãos mais do que a destrucção de Israel. Casualmente, ambas coisas são o mesmo.

Cada Primeiro Ministro de Israel desde Rabin tem posto o seu grao de areia para o desenvolvimento de Hamas. A desconexão de Gaza ratificou a vitória da banda, e Sharon, o único governador militar exitoso em Gaza, sabia-o melhor que ninguém.

Os judeus têm criado um monstro. Ninguém mais que eles pode matá-lo.



OBADIAH SHOHER

(19 Tammuz 5768 / 22 Julho 2008)


• Nota de Simon Bar Kochba: André Beaufre foi um grande e inovador militar francês do século passado que sintetizou magistralmente a evolução do pensamento estratégico desde Von Clausewitz até a era nuclear. Foi correspondente do The New York Times durante a Guerra de 1956. O seu livro mais nomeado é “Dissuasão e estratégia” , escrito em 1964.
• UNRWA: Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestiniãos.

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