A RELIGIÃO É RACIONAL





Muitos judeus de direita, que são na actualidade profundamente religiosos, começaram sendo ateus. Nem sequer estou a falar daqueles judeus russos que sintem um pulo tipicamente eslavo face uma ideia elevada. Entusiastas comunistas antes, agora são igualmente ferventes crentes.

Os patriotas judeus procuravam uma base firme para a sua ideologia, e deste modo Abraham Stern abraçou o judaísmo. Aqueles que não o figeram deixaram raízes pouco profundas: os filhos de Herzl, de Ben Gurion, de Jabotinsky têm sido assimilados.

Os humanos temos uma tendência natural a acreditar em algo; as crenças formam sociedades. Os comunistas paganos encomendaram a vida às suas deidades, nomeadamente Stáline. Os antigos paganos de Roma combatiam pelo dinheiro. Não é singelo convencer aos judeus de que combatam pelo bem da gloriosa tradição ou pelo patrimônio cultural. Depois da guerra de supervivência de 1973, fixo-se extremadamente difizil chegar a um consenso para as subsequentes operações militares a afrontar. Os judeus necessitam uma razão poderosa para permanecer em Israel, um Brooklyn de fala hebrea, melhor que emigrar a América. Nada, agás a religião, fornece-os de uma resposta sólida.

Alguns patriotas chegam à religião porque o judaísmo é o melhor, provavelmente o único, modo de confirmar as suas crenças e intenções. Os nacionalistas exigem reter Jerusalém e Judea, mas, por que? Judea é só importante para nós desde um ponto de vista religioso. Os argumentos da necessidade militar são artificiosos: na medida em que o alcanço balístico dos missis aumenta, um punhado de milhas deixa de ter importância. O judaísmo é a maneira mais singela de responder aos detractores: em vez de escrever muito duvidosas apologias como “O caso de Israel”, basta-nos com afirmar que Yahveh nos deu esta terra e nos obrigou a conquistá-la tras o regresso do exílio (Deuteronómio, 30).

Antigamente, houvo um bandoleiro chamado Yiphtah. Filho de pai judeu e uma concubina, fogiu do seu fogar e encabeçou uma famosa cuadrilha. Num momento dado, os Amonitas figeram público um ultimátum à sua tribo paterna de Gilead: devolvede-nos as nossas terras, que os judeus têm ocupado, e viviremos em paz – se não, viviremos em guerra. Exactamente igual que a actual disjunctiva israeli. Yiptah ofereceu várias justificações políticas de por que ocupavam essas terras, especialmente referindo-se à expiração de um estatuto de limites, embora admitindo a fraqueça dos seus argumentos; finalmente, recorreu a um argumento incontestável: qualquer terra que Yahveh nos tenha entregado seguirá sendo nossa. Não porque a tenhamos conquistado, senão porque Yahveh no-la entregou. Em termos lógicos, Yiphtah argumentou desde a autoridade, a autoridade última neste caso. Foi à guerra e venceu. O mesmo acontece hoje: tanto se oWest Bank permaneze ocupado ou se entrega, os direitos dos judeus acham-se submetidos a um debate legal. Se Yahveh entregou Judea aos judeus no 1967, a discussão está rematada.

A religião consolida a identidade judea como nenhuma outra coisa. Os filhos dos mais prominentes patriotas sionistas estám assimilados, mas os netos dos religiosos judeus seguem sendo judeus.
Quiçá alguma gente convenceu-se devido aos miragres que Yahveh tem levado a cabo por Israel: a salvação do Holocausto, a fogida do holocausto russo em 1953, o voto da ONU a favor da criação do Estado de Israel, as conseguintes vitórias militares, o rechaço de Arafat de aceitar a oferta de Barak por Jerusalém, etc.

Eu, estava mais que convencido no teísmo para além dos miragres, da mágia e da bruxeria que analisei durante anos de interesse nas ciências ocultas. As mentes racionais podem chegar à religião estudando adequadamente a língua hebrea. É artificial, desenhada conscientemente mais do que produto de uma evolução natural, como podemos observar na sua gramática matematicamente precisa, as suas raízes, e outros aspectos técnicos. Dificilmente um lingüísta genial saiu da sua gruta numa soleada manhá de há quatro milheiros de anos e desenhou esta maravilhosa linguagem. O hebreu que se ensina nas escolas israelis é um argot abominável.

A Torá planteja assombrosamente uma coerente teoria política e moral (lede o meu livro, “A ética da sociedade livre”). Tenho estudado filosofia política e outras religiões, e nenhuma se aproxima à Torá em coerência e sutileça. Conheço a muitos editores, e a Torá não é um produto de editores, a sua meticulosa sabedoria, onde afirmações dispares se reforçam umas às outras sem contradizer-se nunca, está para além do humano.

E por riba de tudo, a aposta de Pascal semelha razoável: vive como se Deus existisse, pois se não existe nada tes que perder.


OBADIAH SHOHER
(17 Tammuz 5768 / 20 Julho 2008)

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