O INIMIGO


Identificar ao inimigo é a premisa para afrontar e ganhar qualquer guerra –e os EEUU e Israel estám em guerra com o mesmo inimigo. Sem dúvida, a questão estratégica na eleição presidencial, a questão que mais claramente separa ao Senador Barack Obama do Senador John McCain, é precisamente a sua diferente percepção do inimigo. E deve ser dito que Obama carece de um conceito sério do que é um inimigo.

Quiçá ninguém tenha entendido qual é o inimigo dos EEUU melhor que Lee Harris. O seu livro “A civilização e os seus inimigos” é um clássico, e agás que o próximo Presidente dos EEUU seja capaz de captar a sua perspicácia, a civilização occidental, em inegável caída livre, pode desaparecer.

Harris sinala dois tipos de inimigos: “Em primeiro lugar, o inimigo pode ser alguém a quem temos maltratado ou oprimido. Em segundo termo, o inimigo é alguém que exige ser reconhecido pela sua superioridade”. O segundo tipo é o que se corresponde com o Islão, que contempla a todos os “infideis” como infrahumanos.

Se o inimigo fosse simplesmente um grupo oprimido lutando por um reconhecimento equitativo do seu estátus inter pares, a sua inimizade poderia ser anulada ou gradualmente reduzida garantindo-lhe o estátus que exige.

Mas se o inimigo exige um reconhecimento da sua superioridade, só ficam duas opções: ou render-se às suas exigências e passar a ser os seus servos, ou derrotá-lo. Mas devemos derrotá-lo de maneira que nunca mais se poda plantejar essa suposta superioridade –como foi o caso da devastação da Alemanha názi e do Japão imperial na 2ª Guerra Mundial. Esse tipo de devastação imissericorde foi necessário devido a atroz natureza do inimigo.

Os EEUU e Israel enfrontam-se a um inimigo não menos atroz, o Islão. Semelha, sem embargo, que nenhum país, sumidos no humanismo democrático, é capaz de congregar a determinação precisa para medir-se a este tipo de inimigo. Esta indecisão é especialmente evidente entre os intelectuais de esquerda. “A grande ironia do intelectual de esquerdas”, dize Harris, “é que se converte em inimigo da civilização ao rechaçar a ideia de que a civilização poida ter inimigos, sonhando num mundo no que as pessoas não se deixaram conduzir pelo que Francis Fukuyana denomina “o desejo irracional de ser considerado superior aos demais””.

Ao igual que este tipo de intelectual, o Senador Obama não apreça o sobérbio orgulho cultural dos dirigentes islâmicos. Absorto na sua própria oratória, acredita que ele pode convencer ao presidente iranião Mahmoud Ahmadineyad para que suspenda o desenvolvimento de armamento nuclear. Esta visão das coisas impregna o discurso da esquerda progressista que se tem feito com o controlo do Partido Democrata. (Basta com sinalar à Portavoz na Câmara de Representantes Nancy Pelosi e o líder da Maioria no Senado Harry Reid).

Obama deixou ao descoberto o seu zeitgeist –o seu cosmopolitismo esquerdista- quando soltou em Europa: “Eu são um cidadão do mundo”. Aparentemente, Obama embriagou-se do esquerdismo acadêmico dominante durante os seus anos na Universidade de Columbia e Harvard. (Um estudo revela que a proporção de de esquerdistas respeito aos conservadores nas universidades dos EEUU é de 10 a 1).

O ánti-americanismo é um produto da Nova Esquerda que surgiu no mundo acadêmico nos anos sessenta. O senador Obama não deixar de ser um vástago da Nova Esquerda. De orientação marxista, Saul Alinsky e o Reverendo Jeremiah Wright –ambos inequivocamente ánti-americanos- têm sido os seus mentores.

Como os esquerdistas em geral, o Senador Obama acredita num mundo rigorosamente igualitário. Deplora a ideia do “excepcionalismo” americão, ou dos EEUU como a única potença democrática que pode salvagardar a civilização contra as ideologias totalitárias. Dado que a civilização requere tolerância e rechaço da violência, isto é suficiente para indicar por que os EEUU, hoje, é o gardão da civilização e por que o Islão é o inimigo da civilização. Mas isto fica para além do entendimento de Obama.

O Islão não só se nos amosa como superior a todas as demais culturas, senão que, como apontámos, exige que issso seja reconhecido pelos demais. Daí derivam duas conseqüências lógicas. A primeira, que os dirigentes muçulmãos não sentem inclinação a manter negociações sinceras que conduçam a acordos estáveis com os “infideis” –um processo que requere concessões mútuas ou reciprocidade. A reciprocidade supõe admitir a discusão num plano de igualdade, o qual é anatema para o Islão. Isto é aplicável aos iraniãos, da mesma forma que aos dirigentes de Al Fatah ou Hamas.

Subestimar a ameaça de Ahmadineyad da “morte aos EEUU”, como uma simples bravuconada, é um erro fatal, e não só porque um Irão dotado de armas nucleares poderia fechar o Estreito de Hormuz através do que discorre o 40% do petróleo mundial. A existência dos EEUU como potença planetária interpõe-se no caminho das ambições globais do Islão. Portanto, um Irão nuclearizado é fundamental para lograr a desaparição dos EEUU. (De forma semelhante, os muçulmãos não podem aceitar a existência de Israel como Estado soberano, dado que isso seria uma afrenta para o Islão ao contradizer uma doutrina de 1.400 anos de dhimmitude).

Para além de tudo, na medida em que o inimigo exige o reconhecimento da sua superioridade, deverá recorrer à violência se esse reconhecimento não é previssível. Isto significa que a Yihad é um princípio essencial e consubstancial do Islão. Tudo isto leva-nos à conclusão de que o discurso de Obama sobre a diplomácia com Irão é insustentável.

O mesmo poderíamos dizer da Administração Bush. Duma banda, fala de extender a democracia pelo Meio Leste. Doutra, apoia a criação dum Estado palestiniano cujos líderes não só têm educado às suas crianças no ódio aos judeus, senão que os têm utilizado (e às suas mulheres) como bombas humanas para assassinar judeus –como se tudo isto fosse irrelevante do carácter do Estado palestiniano! Insustentável, também, e isso que se dizem amigos de Israel...

Como adverte Harris, porém, “num mundo cheio de tramposos o mais implacável será sempre o vencedor” –sim, e ninguém é mais tramposo que o inimigo. Este é um motivo suficiente para afirmar que o Senador Obama não está qualificado para enfrontar-se ao inimigo.



PAUL EIDELBERG

(27 Elul 5768 / 27 Setembro 2008)

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