UM ESTADO JUDEU NO NORTE DE ÁFRICA




Que farias se o teu grupo nacional já tivesse quase duas dúzias de Estados sobre seis milhões de milhas quadradas de território, quigesse ainda um Estado mais, mas o Estado de outro povo único, minúsculo, resucitado, se interpugesse no caminho?

Faz o favor de lêr a resposta nas amiúde citadas declarações do membro executivo da OLP, Zuheir Mohsen, ao jornal alemão “Trouw” em Março de 1977:
“O povo palestinião não existe. A criação de um Estado palestinião é só um meio para continuar a nossa luita a prol da unidade árabe contra o Estado de Israel. Na realidade, actualmente não existe diferência entre jordãos, palestiniãos, sírios e libaneses (…) Só por razões tácticas e políticas falamos da existência dum povo palestinião, dado que o interesse nacional árabe exige que postulemos a existência de um “povo palestinião” diferenciado que opôr ao sionismo”.

Antes de ter que tratar com, quando menos, uma parte das sensibilidades de Occidente, os árabes simplesmente passavam muito das tácticas de Zuheir Moshen.

As populações nativas eram singelamente conquistadas e arabizadas à força no nome da Nação Árabe e a propagação do Islám –imperialismo e colonialismo- pura e simples. Milhões de nativos egípcios coptos, nativos da África negra, kurdos, bereberes, judeus e outros sofrem ainda as consequências desta supeditação criminal.

Sem embargo, na era post-Holocausto, na carreira por conquistar corações e mentes, como podem exigir os árabes vinte e dois Estados e negar um só aos judeus?

A resposta, como sinalava Mohsen acima, procurade-a vós próprios.

A partir de agora sodes “palestiniãos”. Só depende da ignorância da maior parte do mundo que trunfe a vossa demanda: “Se os judeus têm um Estado, por que não os palestiniãos?”. E não esqueçades, os “palestiniãos” são os novos apátridas judeus de antanho.

Esquecede os factos. Como o facto de que à maioria dos árabes jamais lhes importou a terra dos judeus –Judea- até que as suas conquistas imperiais os levou fóra da Península Arábiga no século VII da EC [Era Comum], quando se expandiram em todas direcções.

Ou o facto de que o própio nome, “Palestina”, era o alcume que dou a Judea o Emperador Adrião tras a segunda revolta independentista dos judeus. Para botar sal nas suas feridas, ele renomeou a terra dos judeus com a denominação dos seus inimigos históricos, os Filistinos –um povo do mar não semítico (portanto, não árabe) da zona circundante a Creta. Tácito, Dio Cássio e outros historiadores romãos escreviam sobre Judea e os judeus, não sobre “Palestina” e os “Palestiniãos”. Olhemos umas linhas do Vol.II Livro V da obra de Tácito:

“Vespasiano sucedeu no mando (…) estava furioso porque os judeus eram a única nação que ainda não se rendera (…) Tito, proposto pelo seu pai para completar a rendição de Judea (…) mandou três legiões em Judea (…) Entre os seus aliados havia bandas de árabes que gardavam grande rencor aos judeus, a amarga animosidade habitual entre nações vizinhas”.

Ou o facto de que uma imensa quantidade de árabes fossem recém chegados ao Mandato de Palestina, tras a ruptura do Império Turco-Otomano, que controlara o território durante quatro séculos. Quando a UNRWA começo a asistir aos refugiados árabes (depois de que meia dúzia de Estados árabes invadiram a nascente Israel em 1948 e fracassaram), a própria palavra “refugiado” teve que ser redefinida havida conta do seu significado prévio de “pessoas que habitual e tradicionalmente residem”, por “aqueles que viviram no Mandato por um período mínimo de dois anos antes de 1948”. O próprio santo patrão de Hamas –que dá nome à sua brigada terrorista e os seus foguetes, Sheikh Izzadin al-Qasam- era de Latakia (Síria).

E assim sucessivamente.

Utilizando esta mesma táctica, os sérbios têm sido machucados de maneira similar.
Albânia é uma nação independente do suloeste da antiga Jugoeslávia. Sérbia livrou a sua maior batalha por Kosovo contra o expansionismo islamista (daquela dirigido pelo imperialismo turco) em 1389. Albânia converteu-se, quando menos nominalmente, ao Islám através da conquista turca. Ao longo dos séculos, os etnicamente albanos invadiram devagar os territórios tradicionalmente sérbios.

A finais do século XX, todo o mundo sabia que com a morte do Mariscal Tito, o Estado artificiosamente encolado de Jugoeslávia romperia em pedaços. Se ti es um albano em Sérbia, e já tens um Estado étnico albano (não podendo reclamar “inexistência de um Estado”), como podes ter a desvergonha de reclamar um território adicional a costa de outro povo (os sérbios)?

Seguide o conselho de Zuheir Mohsen. Renomeade-os passando a chamar-vos “kosovares” e preparade-vos a receber yihadistas do resto de todo o mundo árabe e muçulmão –assim como apoio da OTAN. Uma grande parte do conflito tras a dissolução de Jugoeslávia foi uma conspiração deliberada contra os sérbios. As atrozidades sucederam (como tem sucedido durante séculos), mas em ambos bandos, e com os ´serbios como vítimas frequentes –vítimas que o Departamento de Estado dos EEUU e os muçulmãos ignoraram. Os bombardeios americãos pugeram o ponto final.

Hitler desenvolveu uma partida similar com a grande população de alemães de étnia nos Sudetes checoslovacos. A 2ª Guerra Mundial veu acto seguido, na medida em que as suas miras estavam postas para além dos domínios checos e eslovacos.

Daqui podem tirar uma lição os judeus, os kurdos, os bereberes e outros. Em vez de exigir o direito ao seu próprio Estado, os judeus devem pedir mais Estados.

Por exemplo, os judeus têm uma longa história em Marrocos –séculos antes de que a invadiram os árabes. Arredor de 600.000 judeus marroquinos vivem actualmente em Israel, como parte do problema dos refugiados do Meio Leste do que nunca se fala. Isso supõe uma maior quantidade de judeus marroquinos que árabes têm a sua nação nos Estados de Kuwait, Abu-Dhabi, etc. Adicionalmente, muitos mais judeus marroquinos vivem nos EEUU, França e outros sítios na actualidade, incluíndo Marrocos.

Por que os árabes podem ter múltiples Estados e os judeus não?

Já nos remotos tempos dos romanos, os judeus que fugiram da guerra com Roma começaram a despraçar-se pelo norte de África forjando laços com os bereberes [Imazighen], especialmente nas montanhas do Atlas. Através das montanhas do Atlas, A Raínha Dahlia al Kahina (à que o célebre estudoso muçulmão Ibn Khaldun, chamava “a judea”) uniu a judeus e bereberes para combater contra o invasor árabe, que mais adiante subjugaria e massacraria a ambos povos.

Por que não há Estados para os habitantes da cordilheira do Atlas –pelo menos um Estado para os judeus e outro para os bereberes- no norte de África?

Por que “palestiniãos” e “kosovares”, mas não “atlasiãos”?

Mentres damos voltas a isto, 35 milhões de kurdos seguem sem Estado. Os kurdos são anteriores aos árabes tanto na “árabe” Síria como em Irak, ou na “turca” Turquía. Mas todos sabemos o que tem sucedido quando os kurdos têm intentado fazer valer os seus direitos ali. A sua maior esperança actualmente está no lugar no que se lhes prometera independência tras a 1ª Guerra Mundial –no norte de Mesopotâmia (parte do actual Irak). Se os kurdos jogassem a baça árabe, cambiando “árabe” por “palestinião”, a quantos Estados kurdos não teriam legítimo direito?

A pesar de que não agardo que nada do acima sinalado suceda, não estaria de mais perguntar aos académicos, colegas do Departamento de Estado e outros profissionais do hipócrita doble raseiro: Por que não?

A realidade, por suposto, é que todos esses povos ainda luitam por lograr ou manter direitos humanos ou políticos básicos no que os árabes denominam “estrictamente patrimônio árabe”. Que outros segam o jogo à sua mentalidade subjugante é uma autêntica farsa.


GERALD A. HONIGMAN

(26 Av 5768 / 27 Agosto 2008)

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