A AUTÊNTICA QUESTÃO DE HEBRON


Incongruentemente chamada Beit Hashalom (Casa da Paz), o edifício na estrada que vai de Kiryat Arba à Cova dos Patriarcas de Hebron, tem-se convertido numa fonte de confrontações e altercados entre o Ministério de Defesa e as IDF (Forças de Defesa de Israel), duma banda, e os colonos e quem os apoiam, doutra. Que é o que se passa realmente? Trata-se do direito dos judeus a poder acceder a um dos mais sagrados lugares do Judaísmo, ou trata-se do dever das IDF de evitar a ocupação pelos colonos dum edifício que, segundo se nos diz, tem sido adquirido ao seu proprietário árabe sob circunstâncias legalmente questionáveis?

A teor da prevalecente legislação militar em Judea e Samaria, a adquisição de propriedades requere a aprovação do mando geral na área –noutras palavras, do Ministro de Defesa- e dado que a devandita aprovação não se tem producido pelo de agora, a adquisição, inclusso tendo sido executada adequadamente, não é considerada legal. Daí que o Governo considere que os ocupantes judeus do edifício estám violando a lei e que tenha declarado a sua intenção de expulsá-los pela força.

A primeira questão que surge, portanto, é qual é a política governamental respeito o acceso dos judeus à Cova dos Patriarcas (Machpelah, em hebreu), e qual é a razão para que o Ministro de Defesa não tenha aprovado a adquisição de Beit HaShalom?

Tanto como Jerusalém, Hebron, a cidade dos nossos antepassados, é a cidade pela que os judeus sentem maior apego histórico e religioso. Tanto como o Monte do Templo em Jerusalém, a Cova de Machpelah em Hebron, constitui o mais sagrado lugar do Judaísmo. Porém, tras a massacre da comunidade judea de Hebron em 1929, o acceso judeu à cidade foi limitado muito severamente, e desde então até o final do Mandato Britânico, aos judeus negou-se-lhes a entrada na Cova e não se lhes permitiu subir para além do sétimo escalão que dá acceso a ela. Durante os dias da ocupação jordana a cidade esteve completamente fechada para os judeus.

Só tras a Guerra dos Seis Dias puderam os judeus voltar a orar na Cova dos Patriarcas, e o Bairro Judeu de Hebron foi ré-estabelecido. De não ter sido pela presença dos colonos judeus na cidade, no Bairro Judeu e na colindante Kiryat Arba, o acceso dos judeus à Cova provavelmente não teria sido possível nos anos recentes.

Noutras palavras, o acceso judeu à Cova dos Patriarcas depende da presença de colonos na área de Hebron. Isto provavelmente siga sendo assim nos próximos anos, para além dos acordos que se cheguem a alcançar com os palestinianos ou os jordanos. Olhado desde esta perspectiva, a adquisição de Beit HaShalom, na estrada que conduze a Machpelah, é uma significativa contribuição para esse objectivo. Se a política governamental é assegurar o direito dos judeus a orar na Cova, o Ministro de Defesa deveria ter dado instrucções ao mando geral para garantir e aprovar a consecução do edifício. A falha de tais instrucções, a impresão cirada é que o Ministro de Defesa, e presumivelmente o Governo em geral, não têm interesse em assegurar dito acceso. Pelo contrário, semelha que quereriam que os colonos abandoem a área, e concilia-se com que os judeus no futuro tenham proibido o acceso à Cova dos Patriarcas e a cidade de Hebron em geral.

Se essa é a intenção governamental, daquela as suas tácticas nos dias recentes estám certamente tendo éxito.Declarações provocadoras, ameaças diárias de iminente evacuação forçosa, e o uso de impropérios como “crecimento cancerígeno” para descrever aos colonos, estám provocando a reacção agardada. O elemento adicional da rapazada do assentamento colono derivando em actos de hooliganismo, promove o antagonismo contra o movimento colono, o que é como fornecer de argumentos a evacuação forçosa de Beit HaShalom nos dias vindeiros.

O Governo deveria tomar uma decisão diâfana sobre se considera o acceso dos judeus à Cova dos Patriarcas um direito inerente e legítimo do povo judeu, que o Estado de Israel debe garantir agora e no futuro, ou se considera que carece de especial importância e está preparado para tomar passos que levem a condições que dificultem o exercício desse direito. Esta é a autêntica questão hoje em Hebron.



MOSHE ARENS *


Publicado em The Jerusalem Post

27 Yeshvan 5769 / 25 Novembro 2008

* Moshé Arens nasceu no 1925 em Lituânia e imigrou a Israel desde os Estados Unidos, onde cresceu, em 1948. Estudou Engenharia Mecânica no Massachusetts Institute of Technology e engenharia aeronáutica no California Institute of Technology.
Enquadrado no LIKUD, foi Prémio Israel de Defesa em 1971, e Ministro dessa mesma Carteira e doutras durante a sua vida política.

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