A MALVERSAÇÃO DA PIKUAH NEFESH


E dixo-lhes [Moisês]: “Assim dixo HaSheem, Deus de Israel: ponha cada um a sua espada ao costado! Passade e repassade pelo campamento de porta em porta e matade cada um ao próprio irmão, ao próprio companheiro, ao próprio parente!”. E os filhos de Levi figeram conforme a palabra de Moisês; e naquele dia cairam do povo uns trêss milheiros de homens. E dixo Moisês: “Consagrade-vos hoje a Deus pois cada um tem procedido contra o seu filho e contra o seu irmão, para que Ele vos dea hoje benção” (Éxodo 32:27-29)

Os rabinos ateus adoram o conceito de pikuah nefesh * que é tão gratamente progressista: a vida é valiosa por riba de todas as coisas. Os outros, os rabinos bem formados, entendem que essa interpretação é disparatada mas a admitem, porque assim se podem abster de passar à acção política, ostensivelmente no que a salvar vidas se refere. Inclusso Meir Kahane condescendeu parcialmente ante essa interpretação, e declarou que ele não era partidário de impôr alguns valores judaicos aos judeus por temor a desatar uma guerra civil.

O problema de Gaza que afrontamos actualmente tem um precedente histórico. Arredor de 35 séculos atrás, quando abandoamos Egipto, “Deus conduxo-os não pelo caminho da terra dos filistinos, apesar de que estava mais próximo”, mas para Deus: “não seja que por ventura a gente se arrependa em quanto presinta guerra e regresse a Egipto””. Não é que os árabes actuais tenham nada a ver com os antigos filistinos, mas a analogia mantem-se. Aquí jaz a morte da malversada pikuah nefesh: “não seja que a gente se arrependa em quanto presinta guerra”. A guerra, pela sua natureza, tem prioridade sobre as vidas. Isso rege não só para as guerras directamente sancionadas por Deus, senão para qualquer guerra que os judeus decidam afrontar, inclusso as guerras de expansão, como as do Rei David. Deus dificilmente observava a pikuah nefesh quando massacrou aos primogênitos egípcios, ou os judeus quando acabaram com os já inofensivos babilônios em Purim e com os judeus progres na guerra civil que celebramos cada Hanuká.

Se a vida debe prevalecer sobre todos os valores, daquela os judeus deveriam pensar em converter-se ao Islam (que, sem dúvida, não é idólatra) e salvar-se das guerras com os árabes. Josué Bin Nun passava bastante da pikuah nefesh quando incitou aos hebreus a cruzar o Rio Jordão e lutar contra os canaanitas. Frequentemente, não matar ao inimigo árabe supõe permitir que sejam eles quem assasinem judeus, assim seja no futuro. Não importa se os inimigos estám no correcto; Amalek provavelmente agia correctamente defendendo o seu território contra os refugiados hebreus procedentes de Egipto. Em termos de salvar vidas, o nosso único objectivo debe ser salvar as vidas dos judeus razoavelmente rectos –mas eles devem demonstrar a sua rectitude estando dispostos a matar e pôr em risco as suas vidas em aras dos valores da judeidade.

Os rabinos ignorantes aludem ao facto de que um só debe pôr em risco a sua vida para abster-se de cometer idolatria, incesto ou assassinato; pouco importa que eles practiquem idolatria continuamente e admitam a assimilação, que não é melhor que o incesto. Essa regra aplica-se aos judeus observantes. A tradição judea economiza em palavras; escrita de maneira explícita, a regra deveria ser algo semelhante a isto: “Um observante judeu só debe arriscar a sua vida se se vê forçado a cometer idolatria, incesto ou assassinato”. Os judeus apóstatas serão executados da forma habitual. Se a apostasia é pública, executá-los é uma obriga religiosa de primeiro rango; não se requere o veredicto de nenhum tribunal. Pinjás ganhou-se a benção eterna para os seus descendentes quando matou a um judeu que casara pacificamente com uma shiksa **.

De forma contrária à pikuah nefesh, a Torá não valora todas as vidas, senão só a vida das pessoas razoavelmente rectas: defende-os com uma eficácia brutal “golpe por golpe”. A Torá não duvida em promulgar castigos capitais para os actos criminais, a violação do Shabat, a imoralidade religiosa, e outras variantes de conduta ánti-judaica. Os judeus são convocados a aceitar a morte antes de serem obrigados a violar em público qualquer Mandamento. “Em público” refere-se a na presença de ao menos 10 pessoas. Quanto elogiamos esse tipo de judeus no Livro dos Macabeus!

Os sábios talmúdicos acrescentaram de forma enorme o número de ofensas capitais. Os rabinos mais razoáveis detalharam como pendurar, asfixiar, queimar, decapitar e lapidar aos ofensores. Seguramente se amosariam algo surprendidos se soubessem que “salvar vidas é o principal mandamento da Torá”. Estritamente falando, tal mandamento nem sequer existe. Em tempos recentes, o absolutamente autorizado Orach Chaim, baseado no Talmud, estabelece que os judeus devem combater inclusso em Shabat se o inimigo quere “palha ou erva”. Os rabinos progres deveriam lêr isto: os judeus devem matar aos inimigos em qualquer conflito, por cima do valor duma disputa por “palha ou erva”. As autoridades religiosas judeas desde Moisês, passando por Maimónides até o Rav Kook, estabeleceram que as vidas carecem de valor algum quando os interesses nacionais judeus estám em perigo.

Deus coincide. Ele puido salvar muitas vidas sementando no coração dos canaanitas a ideia de abandoar a terra. De facto, assim o fixo em 1948. Deus, sem embargo, ordeou aos hebreus libertar um espaço para eles, perdendo na empresa a muitos dos nossos e matando a muitos canaanitas no processo.

A Deus, que nos ordeou aniquilar a Amalek, importavam-lhe as vidas?
Tratando de emulá-lo: devem importar-nos a nós?



OBADIAH SHOHER



* Pikuah Nefesh: Soe-se traduzir como a obriga de salvar a vida em perigo, e deriva do versículo do Levítico 19:16, “Não serás indiferente ao sangue do teu vizinho”.

** [Um dos fragmentos mais controvertidos da Torá é o de Números 25:10-30, referido à apostasia israelita em Shittim. Conhecida como a Parshat de Pinjás, narra como HaSheem em recompensa pelo seu acto intrépido (executar a Zimri e Kozbi, a princesa midianita) outorga a sua benção à descendência de Pinjás].

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