O ataque das IDF sobre Gaza procede de uma convergência de múltiples interesses. Kadima e Avodah poderiam ter saído derrotadas das eleições amplamente se Hamas tiver continuado machacando Israel com foguetes ao ritmo alcançado durante o mes de Dezembro -de várias dúzias ao dia. Uma campanha exitosa em Gaza melhora seriamente as possibilidades eleitorais da esquerda. Fatah estava resignada a perder ao seu Presidente, dado que o seu mandato expira em duas semanas; derrotar a Hamas militarmente é a única opção de Abbas para seguir à fronte dos destinos de Fatah, mais alá dos praços legais. Hamas fracassou em levar a prosperidade a Gaza, e o éxito militar contra o sionismo é a sua única baça para manter a sua popularidade. Síria necessita amosar a sua força nesta guerra periférica antes de emprender conversas directas com Israel. A Egipto encanta-lhe demonstrar a Occidente que é a única capaz de sustentar a paz na zona: uma vez que a mediação egípcia entre Israel/Hamas fracassou, a guerra desatou-se. Iran tem que embrolhar a Israel numa sorte de debacle semelhante à do Lïbano, a fim de distrair aos judeus do ataque sobre [as instalações nucleares de] Natanz.

A operação das IDF demonstra que os povos não aprendem dos seus erros; não os judeus, senão qualquer. Tivemos exactamente o mesmo problema nas duas guerras do Líbano: conquistar é fázil, mas manter a tranquilidade é impossível. Israel pode reduzir tudo a pó, mas as guerrilhas seguem merodeando entre os edifícios devastados. Têm a ventagem do factor surpresa, dos escudos humanos e dos "direitos" humanos. Sobretudo, têm o tempo ao seu favor: em poucos dias –provavelmente de modo imediato- o mundo começará a pressionar de todas as maneiras a Israel para que cese o fogo. Os árabe-israelis já estalaram em revoltas. Hamas emergerá das catacumbas e cantará vitória. Os batalhões (entrenados pelos EEUU) de Fatah ponherão a prova o seu poderio contra a diezmada guerrilha de Hamas –ou quizás eles próprios se convirtam numa facção sem lei.

O ataque israeli pode destruir as chozas de Hamas. Mas que se passa com a Yihad Islâmica, o FPLP e os Comitês de Resistência Popular que não contam com edifícios contra os que tomar repressália? Existem facções militantes, como os Dugmushes, que se infiltram em vizindários residenciais; é de supôr que um exército observante dos direitos humanos será menos poderoso contra eles.

Existem várias formas, porém, de derrotar amplamente às guerrilhas atricheiradas. A mais comum e solvente, historicamente, é despovoar a zona; o Governo israeli não tem colhões para fazer isso.

Em segundo lugar, está a opção policial: ocupar o lugar e começar a caçaria dos terroristas. Sharon fixera-o exitosamente quando era governador militar de Gaza. A operação policial supõe inerentemente um longo praço, requere controlo absoluto do território e dúzias de milheiros de agentes. Em ressumo, significaria reverter o processo de desconexão, ré-ocupar Gaza, e pôr em perigo diariamente aos soldados judeus no combate urbano. O Governo israeli também não tem colhões para isso. Os esquerdistas acreditam que tudo tem uma solução pacífica e resistem-se a admitir que determinadas situações podem tardar séculos em apaciguar-se.

Também está a opção SLA (South Lebanon Army) –ou “colaboracionista”. Israel incitou ao Exército do Sul do Líbano a fazer o “trabalho sujo” contra os palestinianos. Mas em Gaza carecemos de aliados naturais; todos estám na nossa contra. Se os judeus se apoiam em Fatah, os votantes palestinianos darão-lhes a espalda; uma vitória a curto prazo que seria como cavar a sua própria tumba para Fatah. Inclusso se Fatah combate e –muito hipoteticamente- venze a Hamas, isso não afectaria à FPLP e aos PRC, que são a facção secular dos combatentes nacionalistas da OLP.

Maquiavelo apontava uma opção teórica de ganhar a o inimigo para a tua causa utilizando a bondade; mas não imagino que tipo de bondade dos judeus seria capaz de aplacar a Hamas…

Se Hezbolá apoiará a Hamas com ataques simultâneos, é questão de meras conjeturas. Provavelmente não, dado que Síria não se quere enfrontar em excesso a Israel, e o governo libanês –actualmente alinhado com Hezbolá- teme uma repressália massiva. Isso sim, os grupos terroristas palestinianos afincados no Líbano poderiam lançar esporadicamente foguetes sobre Israel.

A operação israeli em Gaza conferiá legitimiade internacional a Hamas, da mesma forma em que a 2ª Guerra do Líbano lha otorgou a Hezbolá. De ser um grupo terrorista, Hamas passará a ser considerado um combatente, e portanto um exército legal defendendo os seus direitos. Hoje foi a primeira ocasião em que a oficina do Primeiro Ministro reconheceu de modo oficial que existira um alto o fogo com Hamas. Com anterioridade, Israel negara qualquer acordo formal com Hamas, e referia-se a ele como um “entendimento”.

Em termos militares, a operação está muito longe ainda de ser exitosa. Uns escassos centenares de baixas palestinianas já têm desatado o pranto internacional, a pesar de que as baixas colaterais estám sendo destacadamente poucas. A destrucção de todos os complexos de seguridade em Gaza dificilmente supõe diminuir os arsenais de Hamas –já que este grupo muçulmão seria gilipolhas se armazenasse o seu armamento nos objectivos mais óbvios de ataque israeli. A demolição de todas as instalações policiais de Gaza incrementará o caos e vai em contra do ano longo de intentos de Hamas por instituir algum tipo de orde nesse território sem lei nem governo.

Tras o primeiro shock, as guerrilhas palestinianas reagruparão-se e prepararão-se para a invasão das IDF. No melhor dos casos, o exército não repetirá os seus maiúsculos erros de 2006, como enviar tanques ao combate urbano sem cobertura de helicópteros, e limpará as estradas antes de mandar tanques. Mas Hamas tem acumulado significativos arsenais de foguetes ánti-aéreos utilizáveis contra os helicópteros israelis. As IDF não têm equipado a maioria dos tanques com defesa activa, e são muito vulneráveis aos baratos RPGs*

Mentres a Força Aérea se preocupará de manter-se fóra de alcanço em Gaza, o Governo de Olmert verá-se obrigado a declarar uma vitória provissional e aceitar um alto o fogo –ou bem invadir Gaza. A segunda opção não é muito “eleitoral” para Kadima, devido às perdas humanas que suporia e à ausência dum horizonte claro de vitória a curto prazo. Portanto, uma invasão a grande escala de Gaza é improvável: Israel seguirá aferrada à desacreditada táctica do tira e afrouxa.

OBADIAH SHOHER

30 Kislev 5769 / 27 Dezembro 2008

* RPGs: [Rocket Propelled Grenades], Granadas de Propulsão por Lançafoguetes. Ao respeito sinalamos que a companhia israeli Rafael Armament Development Authority Ltd., tem desenvolvido um prototipo denominado Trophy; é um novo sistema para proteger os tanques dos RPGs, consistente na criação dum “campo de força” que destrui o missil antes de que chegue ao veículo.

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