OUTRO PROCESSO DE PAZ


O conceito de “territórios por paz” está notavelmente distorsionado. A qué paz remite? Originariamente, a ideia era renunciar a áreas libertadas/ocupadas a câmbio de uma convivência razoável com os árabes. Moshe Dayan dixo tras a guerra de 1967, “Estou agardando uma chamada telefónica de [o príncipe jordano] Hussein”. Nenhuma chamada se produxo porém –suficiente indício de que aos árabes a terra que se lhes “arrebatara” lhes importava bem pouco. O primeiro objectivo do acordo de paz era rematar a beligerância com Egipto. Israel tem logrado uma trégua temporal mediante os Acordos de Camp David, ainda que o processo de paz actual tem pouco de pacífico. Ostensivelmente, Israel deveria estar interessada na não-hostilidade com Síria; isso, paradoxalmente, vinha estando sob controlo graças ao poder disuassório nuclear de Israel. Doutra banda, Síria não destruirá os seus arsenais de missis em aras de um tratado de paz com Israel, nem deixará de brindar apoio a Hizbulá, que é o principal braço de exército sírio no Líbano.
O plano de paz saudi é risoriamente arrogante: os saudis não estám em guerra com Israel –do contrário já teriam retrocedido à Idade de Pedra e os camelhos. Assim e tudo, o plano propunha a paz com todos os Estados árabes –e provavelmente muçulmãos- tras estabelecer um Estado palestiniano e devolver os Altos do Golan. A partir daí, os saudis e outros (incluíndo a Condi Rice) desdixeram-se afirmando que a constituição dum Estado palestiniano “não teria porque supôr imediatamente” uma normalização com os árabes. “Não teria porque supôr imediatamente” é um eufemismo em vez de dizer “Nunca”.
Meir Kahane dava-lhe a volta à oferta : cumpre manter os territórios e oferecer-lhes a câmbio paz. E por que não? Por que Israel não pode “pacificar” aos árabes palestinianos mais que entregando-lhes territórios? Queremos que nos deixem de rociar com os seus Qassam; por que não haveriam de querer eles que parássemos nós de os bombardear? Em vez de dar-lhes terras, podemos oferecer-lhes uns termos de paz muito mais ventajosos: assinade aquí e deixaremos de bombardear-vos. Esta é a maneira em que procedem todas as nações normais.
O que temos actualmente não é “territórios por paz”. Não só podemos lograr a paz sem entregar territórios, senão que entregar territórios é extremadamente errôneo para pacificar a região.
Os israelis, que criticam altaneiramente que as vítimas do Holocausto acudissem como anhos ao matadeiro, fazeriam bem em olhar-se no espelho, e ver como estám entregando a sua profundidade defensiva e resignando-se ante um Iran nuclearizado.


OBADIAH SHOHER

24 Kislev 5769 / 21 Dezembro 2008

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