CARTA ABERTA AO PRESIDENTE HUGO CHÁVEZ

Querido Presidente Chávez,


Estivem sentado entre as 70.000 pessoas do Encontro Alternativo das Américas, ao longo das três horas do teu retórico discurso, tão carregado de cordialidade e machismo. Baixo a chuva torrencial, rematamos todos empapados no Estádio a céu aberto de Mar del Plata. Éramos reféns da tua oratória, já que também não havia melhor sítio onde guarecer-se no exterior.


Entre todos os teus “compañeros”, quiçá, não seja irrespetuoso dirigir-me a ti como Hugo.


Na véspera do Natal, dois anos atrás, advertímos que o teu discurso sobre “os assassinos do nosso Senhor, possuidores da maior parte dos recursos económicos do mundo” era politicamente incorrecto, na medida em que concedia demassiado crédito aos velhos contos da Igreja Católica, e todos sabemos o que ti pensas da Igreja…


Talvez estavas tomando em consideração as obsessões do teu velho amigo –o neofascista argentino Norberto Ceresole- respeito as falsidades da Rússia zarista recolhidas em “Os Protocolos dos Sábios de Sião”. Daquela intentáramos explicar-che que os que padecem trastornos obsessivo-compulsivos respeito à conspiração judea mundial, rematam por não ser tomados em consideração.


Mas, pouco depois, enviaste à tua polícia secreta à Escola Judea de Caracas a atemorizar aos rapazes e às suas nais. Muito próprio dum macho como tu, Hugo, embora não estivesses presente. E não estavas porque a incursão teve lugar mentres tu aterrizavas em Teheran –já que alguém tinha que inaugurar a linha de voo Caracas/Teheran, da Iran Air-. A fim de contas não deve ter muitos mais destinos.


Foi provavelmente à tua chegada, Hugo, quando aprendeste do teu outro grande amigo, o Presidente Mahmoud Ahmadinejad, que o Holocausto, na realidade, foi uma patranha. E, sendo assim, quiçá pensaste que alguns desses milhões de judeus chegaram a América Latina e, especialmente, a Venezuela. É esse o motivo pelo que não asinaste a Declaração Contra o Antisemitismo com Argentina e Brasil umas semanas atrás?.


Agora, a sinagoga de Caracas tem sido vítima dum ataque com nocturnidade. Não muito próprio dos machos. Como ratas surgidas duma alcantarilha, profanaram os rolos da Torá e o recinto de oração com pintadas obscenas. Mas, roubaram os objectos de prata? Não. Só roubaram os ordenadores.


Hugo, que poderão encontrar os ladrões nesses discos duros?. Listas de famílias judeas não registradas nas escolas judeas?, de “proprietários da maior parte dos recursos económicos”?, dos que em secreto acudem também a misa os Domingos?, dos que acudem a escuitar-te aos estádios baixo chuvas torrenciais?


Hugo, estás em perigo. Lembras quando o Rei de Espanha che dixo “Por que não te calas?”. Um comportamento escassamente de macho. Agora pensa: quantos espanhois são de orige marrana? E, não esqueças, que entre outros títulos oficiais a sua majestade possue também o de “Rei de Jerusalém”. Foi “Por que não te calas?”, acaso, um código cifrado que significa realmente “Shalom”? É Chávez, talvez, apelido de procedência judea? Enfim, dado que já expulsaste ao embaixador israeli, fazer aliya a Israel creio que já não é uma boa opção para ti.


“Compañero” Hugo, o poder judeu é tão complicado…!


Mas, em qualquer caso, bemvindo à conspiração.



SHIMON SAMUELS *


* Shimon Samuels é director de relações internacionais do Centro Simon Wiesenthal em Paris.


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