EFEMÉRIDES DE PURIM

Como todas as festividades históricas judeas, Purim é uma celebração banhada em sangue.


Em Pesaj, D’us revelou-se aos israelitas através duma matança a grande escala de egípcios (Éxodo 7:5 e 14:17). Os judeus eram daquela muito politicamente incorrectos. De facto, a única vez que a Torá utiliza a palabra “vizinho” para referir-se aos nossos inimigos foi quando arramplamos com todas as joias dos egípcios sem intenção de lhas devolver.



Em Hanuká, celebramos a vitória na brutal guerra civil onde os judeus ultraortodoxos macabeus derrotaram aos progressistas que anelavam incorporar elementos da cultura helenista e de tolerância face as demais religiões. A Guerra dos Macabeus não teve nada a ver com a independência: Judea simplesmente passou das mãos sírias ao protectorado romano.


Em Purim, não celebramos a libertação do diabólico Haman, que já caira nove meses antes (Ester 8:9) devido a duas ofensas: conspirar contra as gentes de Ester e intentar, aparentemente, violar a esta (7:8), sendo Mardoqueu nomeado na sua sustituição. É impensável, nessa orde de coisas, que a massacre planificada de judeus chegasse a ser levada a cabo. Nos costumes do Meio Leste, um edicto sem pressão caía enseguida no olvido, e tras a morte de Haman os judeus estavam a salvo, para além do facto de que o edicto criminal de Xerxes não tivesse sido rescindido formalmente.


O que esta celebração rememora é o assassinato judeu “daqueles que os odiavam” (9:1). Não foi uma represália tipo “olho por olho”, nem sequer a rabínica de “Mata tu primeiro àquele que venha a te matar a ti”, dado que a Midrash relata que as crianças dos ánti-semitas também foram sacrificadas. Foi, mais bem, a clássica guerra preventiva, se bem é certo que algo tardia. Haman é qualificado como Agagita –descendente do Rei de Amalek, Agag, a quem Saul inicialmente perdoara, e que o profeta Samuel seccionou pela metade. Padecimos a debacle de Haman porque vários séculos antes Saul, um bom rei judeu, praticou “a piedade dos parvos” –tras derrotar aos amaquelitas, teve piedade daqueles que nunca teriam amosado piedade por nós.


O exemplo de Haman corresponde-se com a lógica de extermínio da Torá. D’us ordeou aos hebreus não deixar nem rasto dos nativos na terra que nos entregara. Se preferissem marchar, poderiam tê-lo feito, mas ao optar pelo combate, deviam ser exterminados até a última criança. A lógica divina não deixa lugar às dúvidas: se se lhes permitia ficar, os nativos sempre lembrariam que os judeus arrebataram a sua terra, odiando-nos e combatendo-nos por sempre, convertendo-se em espinhos ao nosso redor. Sob o liderádego de Mardoqueu, os judeus chegaram à conclusão de que não podiam consentir que os que os odiavam seguissem vivos –e mataram-nos. Fazer a vista gorda com as crianças só teria perpetuado a violência, quando as crianças crescessem e tomassem vingança.


Os judeus prevaleceram sobre os seus inimigos o 13 do mes de Adar (9:1). No dia 14 os judeus descansaram (9:18) e mataram alguns inimigos. Quando o 14 de Adar celebramos Purim, comemoramos a matança dos inimigos mais que a nossa salvação.


Isto pode soar extranho para os que acreditam na parvada de que o judaísmo é amor. Sinto-o. Os judeus só têm obriga de amar aos seus vizinhos que observem a Lei; os inimigos e trangressores devem receber despreço e serem expulsos. Os judeus são gente normal, e como o resto dos povos estamos chamados a odiar e eliminar os nossos inimigos; matamos ao jeque de Hamas Ahmed Yasin junto com a sua família exactamente igual que há 2.500 anos aforcamos a Haman e os seus dez filhos. E no caso de que vos digam que Amalek não existe hoje em dia, Rashi é categórico ao dizer que Amalek equivale aos názis alemães, e o Rabino Chefe askenazi, Yona Metzger, sustenta categoricamente, hoje em dia, que os árabes são Amalek. Se o que procurades é consolo, procurade-o no facto de que os colonos europeus conquistaram América à maneira bíblica, exterminando aos nativos, edificando um país bonito e liberal nos territórios conquistados. Dentro de doiscentos anos, não me importaria ter que pedir desculpas pelo que figemos aos nativos da Terra de Israel quando a conquistámos.


Em Purim, os judeus devem embriagar-se até o ponto de não distinguir entre o bendito Mardoqueu e o maldito Haman. In vino veritas. A gente bébeda esqueze o politicamente correcto e regressa às verdades fundamentais: a bendição de Mardoqueu consiste em maldizer a Haman; a sua morte é a nossa recompensa.


Para evitar que os judeus acreditem que o sucedido em Purim é algo antiquado, os nomes das personagens são bem sugerentes: Mardoqueu por Marduk, e Ester por Astarte. Os salvadores eram dois judeus assimilados cujos nomes, inclusso, eram paganos. Uma era uma cortesana judea, o outro, um dirigente judeu ansioso de convertir-se em cortesano.


No momento crítico, ambos transformaram-se.



OBADIAH SHOHER



13 Adar 5769 / 9 Março 2009-03-09



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