A FARSA DOS ESSÊNIOS


Os estudosos da Bíblia têm sustentado durante anos que os heréticos Manuscritos do Mar Morto foram o trabalho duma comunidade célibe e ascética de judeus conhecida como os Essênios, que floresceu no século I d.n.e. nos infernais canhões desertos próximos ao Mar Morto. Agora uma prominente erudita israeli, Rachel Elior, assegura que os Essênios nunca existiram –uma afirmação que tem comovido os alicerces da investigação bíblica.


Elior, que ensina mística judea na Universidade Hebrea de Jerusalém, diz que os essênios foram uma invenção do historiador judeu-romano Flávio Josefo, e que as suas elocubrações foram dadas como autênticas ao longo dos séculos. Segundo explica Elior, os essênios não fazem menção a sim próprios ao longo dos 900 rolos achados por um pastor beduíno nas covas de Qumran em 1947, perto do Mar Morto. “Têm-se investido sessenta anos de investigação intentando achar o rasto dos essênios nos rolos”, dixo Elior numa reportagem da revista Time, “mas não existiram. É uma lenda sobre outra lenda”.


Elior sustenta que Josefo, um antigo sacerdote judeu que escreveu o seu relato mentres estava cautivo em Roma, “queria explicar aos romanos que os judeus não eram todos uns traidores e perdedores, que havia judeus excepcionais, religiosos devotos, e heróis. Poderia-se dizer que elaborou a primeira das refutações contra a literatura ánti-semita”. Elior acrescenta que “Josefo esteve provavelmente inspirado pelos espartanos. Para os romanos, os espartanos eram o mais elevado ideal de conduta humana, e Josefo intentou retratar aos judeus como alguém muito próximo aos espartanos nos seus ideais e alta virtude”.


As primeiras descripções dos essênios, feitas pelos historiadores gregos e romanos, apresentavam-os como uma comunidade formada por milheiros de pessoas que viviam de modo comunal (“seriam o primeiro kubbutz”, bromea Elior) e que tinham renunciado à prática do sexo –o qual iria contra o mandato judeu de “crescer e multiplicade-vos”. Elior diz: “Carece de sentido contar com milheiros de pessoas vivendo contra a Lei judea e não fazer menção de eles em nenhum dos textos judeus e das fontes daquele período”.


Portanto, quem foram os autênticos autores dos Manuscritos do Mar Morto? Rachel Elior sugire que os essênios eram realmente os filhos renegados de Zadok, um casto sacerdote que fora expulsado do Templo de Jerusalém por intrigar com os dirigentes gregos no século II a.n.e. Quando marchara, levou consigo a fonte da sua sabiduria –o seus rolos. “Em Qumran, foram achados os restos duma imensa biblioteca”, afirma Elior, com alguns textos hebreus datados no século II a.n.e. Até o descobrimento do Rolos do Mar Morto, a versão mais antiga do Velho Testamento estava datada no século IX d.n.e. “Os rolos avalam uma herdança bíblica sacerdotal”, sustenta Elior, que especula com que os rolos foram escondidos em Qumran para mantê-los a salvo.


A teoria de Elior tem caído como uma bomba no enclaustrado mundo da investigação bíblica. James Charlesworth, director do Projecto dos Rolos do Mar Morto no Seminário Teológico de Princeton, e experto em Flávio Josefo, diz que não é raro que a palavra “essênios” não apareça nos manuscritos. “É uma etiqueta forânea”, manifestou a Time. “Quando se referem a sim próprios, é como ‘homens de santidade’ ou ‘filhos da luz’”. Charlesworth argumenta que ao menos oito eruditos no mundo antigo falam dos Essênios. Uma prova da autoria essênia dos Manuscritos, afirma, é o grande número de tinteiros achados pelos arqueólogos em Qumran.


Mas Elior diz que esses antigos historiadores, nomeadamente Filo ou Plínio o Velho, entram em várias contradicções entre sim e utilizam dados de segunda mão como se fossem factos provados. “Plínio o Velho descreve aos essênios como uns tipos que ‘eligiram a companhia dos dáteis de palmeira” junto o Mar Morto. Sabemos que Plínio era um grande leitor, mas provavelmente nunca visitara Israel”, manifesta.


Sobre as críticas que tem levantado a sua teoria, Elior afirma que “habitualmente os meus oponhentes só têm lido a Josefo e as outras referências clássicas sobre os Essênios. Deveriam lêr os Rolos do Mar Morto –os 39 volumes. As provas estám aí”.



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