O GRANDE MUFTI E A SHOÁ



Pergunta-se Etgar Lefkovits se o US Holocaust Memorial Museum está tratando de tergiversar a biografia do Grande Mufti de Jerusalém na sua página on-line. Não exactamente. Quizá não o fazem malintencionadamente, mas do que não cabe dúvida é de que estám legitimando a tese da “incompatibilidade ideológica e estratégica entre Nazismo e nacionalismo árabe”.


Os factos principais da vida de Hajj Amin al-Husseini permaneceram numa nebulosa durante todo o século XX. Posteriormente, as “Memórias” do Mufti e outros estudos apareceram em árabe. Obviamente, os responsáveis do Museu –de certo que não eram especialistas no Meio Leste- desconheciam esses livros e, provavelmente, a língua árabe.


No discurso ao respeito do Museu, são evidentes grandes lagoas de conhecimento. Quase nada se diz dos seus 29 anos posteriores à 2ª Guerra Mundial, embora mencionem o conto de fadas da sua “fugida” de Paris a El Cairo em 1946. Mas fugiu realmente? Antes de que se passasse, os franceses asseguram que tinha liberdade de circulação.

Também esquecem que colaborou activamente na recolocação de milheiros de názis nos exércitos do Meio Leste, e empostos de seguridade e propaganda (muitos remataram convertendo-se ao Islam). Também se óbvia de onde procede a mortífera ideologia que teria precipitado a Israel a uma espiral de luta pela supervivência. Nesta exposição não se aprende nada sobre os contactos do Mufti no Líbano, Síria, Arábia Saudi, Yemen, Iran, Indonésia ou Pakistão. Nem nada se diz sobre a sua implicação no assassinato daqueles que estavam dispostos a chegar a acordos com o incipente Estado judeu, como o Rei de Jordânia Abdulla I.

Esquece-se a incitação permanente do Mufti à prática do terrorismo contra Israel e os judeus, o seu apoio ao seu protegido Yasser Arafat, e o seu papel em achar refúgio aos Irmãos Muçulmãos em cidades como Genebra ou Munich. Não podemos lêr nada sobre as organizações internacionais islamistas que ajudou a constituir até a sua morte em 1974.

Inclusso a data de nascimento do Mufti está entre aspas, embora ele manifestou claramente que foi em 1897. E assim, um feixe de equívocas secções, erros e omissões. Hitler, sem dúvida, apoiava os desejos árabes de independência, e ao Mufti como o seu mais destacado portavoz. E deixou de manifesto esta postura num encontro celebrado com o enviado Ibn Saud em 1939, e publicamente a finais de 1940 oferecendo todo tipo de garantias ao Mufti em pessoa um ano depois. O guião que exponhem no Museo esquece estes factos e evidências.

Berlin e Roma figeram uma declaração conjunta manifestando o seu apoio às aspirações árabes. Hitler repetiu-nas oralmente e por escrito. O Führer era um simpatizante pleno do Mufti. Até o final Hitler exigiu pleno apoio para ele –como corroborou o Ministro de Propaganda Joseph Goebbels em 1944. Inclusso tinham preparado um novo acordo de colaboração com o Mufti à altura de Abril de 1945.

Hitler veia ao Mufti como cúmplice necessário para o Holocausto planificado no Meio Leste, e como conselheiro pessoal em assuntos de âmbito muçulmão. Não há mais que lêr o seu chamamento “A todos os muçulmãos” –que não se cita no texto on-line. Num momento em que Berlin tinha vários projectos sobre a mesa sobre “como resolver a questão judea”, o Mufti fixo um chamamento aos muçulmãos para a Yihad, limpando a sua terra de judeus. Numa mescla de ódio religioso e razial, qualificava-os de “micróbios e escória de todos os países”.

Não por acaso, estreitaram relações a finais de 1937, quando Adolf Eichmann viajou a El Cairo, porque não se puidera reunir com o Mufti em Palestina. Husseini, então, propuxo um pacto aos názis: a câmbio da ajuda alemã em armamento para evitar o surgimento dum fogar nacional judeu, ele expanderia a ideologia názi e o terrorismo ao longo do território do Mandato britânico.

Embora as relações atravessaram distintas etapas, sempre teve oficiais de ligação nos quatro departamentos alemães mais poderosos. Disfrutou duma sólida relação com as SS desde 1937 (e não desde 1943, como diz a página do Museu). Tão próximo se sentia o Mufti a Hitler que inclusso lhe propujo uma arriscada proposta em Setembro de 1944: uma mediação entre Hitler e Stáline.

As protestas do Mufti contra o transfer de judeus a Palestina teve o impacto desejado. Ele fala disto e de mais coisas nas suas memórias, sem piedade nem arrepentimento.

Foi o mais eficaz executor do nazismo no mundo árabe, o que lhe reportou imensas quantidades de dinheiro e ajuda.

Pretender fazer uma biografia actual, e não mencionar o que se passou na Alemanha de 1943, resulta pasmoso. Nas suas memórias, o Mufti admite que Heinrich Himmler, um dos arquitectos principais do Holocausto, tinha-o por confidente nos assuntos que concerniam ao império alemão. Para além de comentar-khe que “investigavam na procura duma bomba nuclear”, falava-lhe da persecução dos judeus: “Até agora temos exterminado arredor de três milhões”. Este dato, que o Mufti admite nas suas Memórias de 1999 rematara -há mais de dez anos- com décadas de debate sobre se o Mufti sabia algo ou não do Holocausto.

O US Holocaust Memorial Museum oferece um texto lamentavelmente incompleto. Carol Greenwald, do Holocaust Museum Watch, tem dado o aviso de alerta para que se ajustem ao que deve ser considerado um modelo académico digno de respeito.


WOLFGANG G. SCHWANITZ*


* Wolfgang G. Schwanitz é escritor, e actualmente trabalha numa nova biografia sobre o Grande Mufti.


0 comentarios: