MICHAEL E A GUERRA DOS SEIS DIAS

A actual degradação de Israel remonta-se até o fracasso do Governo em traduzir a miragre da Guerra dos Seis Dias em Junho de 1967 a política oficial. Antetudo, vejamos alguns comentários do livro de Michael B. Oren, “Seis dias de Guerra” *.


O historiador Oren sinala que no primeiro dia da guerra, em pouco mais de meia hora, a Força Aérea Israel destruiu 204 aeronaves –a metade da força aérea egípcia- todas elas, agás nove, antes de que tivessem tempo nem sequer de despegar (e destruíram seis aeródromos egípcios, quatro no Sinaí e dois em Egipto).

“Os israelis”, diz Oren, “estavam atónitos. Ninguém era capaz de imaginar que um só esquadrão puider neutralizar toda uma base aérea” (p. 175).


No segundo dia, continua o historiador, o Coronel Avraham Adan, observando a devastação do exército egípcio, estava “anonadado”. “Passamos entre montões de chatarra carbonizada e, de súpeto, vimos que esse imenso exército –demassiado imenso como para o quantificar- estava extendido numa área imensa, que não se podia abarcar a simples vista…Não era uma visão prazenteira a de contemplar aquele gigantesco exército, conscientes de que nós só contávamos com um singelo batalhão de tanques” (p. 216).


Oren sublinha que Moshe Dayan não estava menos desconcertado: “Embora Israel tivesse ganhado o controlo aéreo, as cidades egípcias não foram bombardeadas, e as unidades armadas egípcias poderiam-nos ter atacado aínda sem apoio aéreo” (ibid).


Segue Oren, citando ao General Avraham Yoffe: “Carecíamos de uma estratégia antes da guerra sobre o que deveria fazer o exército para além do eixo al-’Arish-Jabal Libni, nem sequer faláramos da questão. Ninguém acreditava que poderíamos avanzar tanto ou que os egípcios colapsariam daquele modo tão rápido” (ibid).


Neste ponto, Michael Oren, ainda sendo um judeu secular, cita o Levítico 26:8: “Cinco de vós perseguirão a um cento deles, e cem de vós perseguirão a dez mil; [e os vossos inimigos cairão à espada diante de vós]”. A fim de contas, as observações dos generais que ele cita, testemunham o que contemplam como um “enigma”, por não dizer como um fenômeno miragroso.


Pouco importa o comentário do Sr. Oren Consideremos o Governo. A inquestionável presença da mão de D’us durante a Guerra dos Seis Dias levou ao Governo –tratava-se dum Governo de unidade nacional- a declarar a soberania dos judeus sobre Judea, Samaria e Gaza, que as IDF conquistaram junto com o Sinaí e os Altos do Golan. Mas para apreciar este miragre plenamente, um breve repasso às circunstâncias actuais amosam que o Governo de Israel poderia ter criado, sem dúvida, uma mais “Grande Israel”.


Em Junho de 1967 os EEUU estavam empantanados no Viet-Nam, e muito preocupados com a expansão soviética no Meio Leste em geral, e a penetração da URSS no próspero Golfo Pérsico, em particular (do que, sem dúvida, dependia a economia do mundo occidental). Lembremos que Egipto, Síria e Líbia eram daquela aliados soviéticos, e que Egipto pretendia tomar o controlo sobre a estrategicamente situada Yemen. Lembremos, também, que Israel utilizara aviões e armamento franceses na sua veloz vitória sobre Egipto, Síria e Jordânia.


Aquela vitória fixo que Washington reparasse no valor estratégico de Israel, sobretudo se se fechava a Canle de Suez à flota soviética do Mar Negro. Este importante brazo da armada soviética, estava daquela obrigada a navegar só através do Estreito de Gibraltar ou bordeando o Cabo de Buena Esperanza se queria projectar o domínio soviético ao longo do litoral oriental africano e no Ocêano Índico, as rutas marítimas dos petroleiros procedentes do Golfo Pérsico. A extraordinária Força Aérea Israeli poderia também proporcionar ajuda ao flanco sul da OTAN no Mediterrâneo oriental.


Os EEUU necessitavam um aliado forte e estável numa região tão cambiante do Meio Leste. Uma Israel microscópica, confinada nas precárias linhas do armistício de 1949, dificilmente podia servir para essa função.

Em conseqüência, num memorándum secreto, agora desclassificado e datado em Junho de 1967, a Junta de Chefes do Exército norteamericano recomendava que Israel mantivesse o controlo sobre a cadeia montanhosa de Judea e Samaria, supervisando desde ali os seus vulneráveis centros de população na planície costeira, assim como o controlo de Gaza, os Altos do Golan, e uma parte do sul do Sinaí, para assegurar o acceso de Israel ao Mar Vermelho através do Estreito de Tiran.


O historiador Michael B. Oren, sem embargo, carecendo do saber estratégico da Junta de Chefes de Estado Maior dos EEUU, avoga por ceder esses territórios aos inimigos jurados de Israel. Só um observador superficial como ele passaria por alto a “coincidência” da Guerra dos Seis Dias e a hecatombe dos EEUU no Viet-Nam.


Como se passa com o Governo israeli, só um Governo irresponsável e desleal trivializaria a importância histórica da vitória israeli na Guerra dos Seis Dias rechaçando declarar a plena soberania judea sobre os territórios conquistados pelas IDF. De facto, estava legitimado a fazê-lo não só desde a perspectiva da lei israeli, senão inclusso desde a da comunidade internacional, como o estudoso Howard Grief tem amosado brilhantemente em destacados ensaios.


Mas, por suposto, isto está para além da competência –e da mentalidade- de historiadorescomo Michael B. Oren. Baste sinalar que o que realmente subjaz a tese do seu livro é relativismo cultural puro e duro. “O meu propósito”, escreve, “não é demonstrar o justo dum ou doutro bando na guerra, ou assignar culpabilidades pelo seu início” (p.xv). O Sr. Oren seria, sem dúvida, um destacadíssimo embaixador de Israel na -qualquer coisa menos neutral- ONU.


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*Michael B. Oren, Six Days of War (NY: Ballantine Books, 2003)

Ed. em castelhano, "La Guerra de los Seis Días", RBA, 2005



PAUL EIDELBERG


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