O MECANISMO GENOCIDA

Os superviventes dos genocídios em Rwanda e Darfur falaram em Genebra esta semana na conferência paralela sobre direitos humanos, que se desenvolveu à vez que o evento patrocinado pela ONU de Durban II. Escuitando-os descrever como foram sistematicamente demonizados pelos assassinos fica claro que os genocídios não se produzem no vazio. O ódio latejante numa população desejosa e ansiosa de cometer genocídio precisa ser alimentado. O genocídio debe ser apresentado positivamente para lograr o suficiente apoio público.

Habitual na formação do cldo de cultivo de todo genocídio é uma demonização de tipo muito específico. Em Rwanda, os hútus diziam que os Tútsis eram cascudas e serpes. As mulheres tútsi eram retratadas como astutas seductoras que utilizavam a sua beleza e poder sexual para conquistar aos hútus. Em Bósnia, um informe fictício proclamava que os muçulmãos botavam de comer aos animais do zoo de Sarajevo rapazes sérbios vivos. Radio Rwanda repetia permanentemente a advertência de que os hútus íam ser atacados pelos tútsis, para convencer àqueles de que necessitavam atacar primeiro para proteger-se.

Esta demonização incluia duas componhentes específicas. Primeira, as vítimas tinham que ser percebidas como uma ameaça clara e imediata, de modo que os assassinos estivessem convencidos de que actuavam em defesa própria. Segunda, as vítimas eram deshumnizadas, a fim de que os assassinos se autoconvencessem de que não estavam destruíndo seres humanos.

Uma pessoa decente nunca participaria num assassinato de inocentes, mas uma pessoa decente poderia unir-se no extermínio de seres infrahumanos que ameaçassem a sua própria existência. Disfarçando o genocídio como legítima defesa, converte-se a pessoas decentes em assassinos. A protecção das suas crianças e da família pode converter a um tranquilo vizinho num excitado criminal, porque a auto-defesa sempre estaria justificada.

Em Darfur e Rwanda, tudo o preciso para converter a uma sociedade de gente normal numa horda de assassinos foi convencê-los de que estavam em perigo, e que os que os estavam pondo em perigo eram seres infrahumanos.

Miranda atrás, na história judea, está claro que o método utilizado para fomentar a violência contra os judeus participava de idêntica cobertura de “auto-defesa”, e só variam pequenos detalhes.

Quando os judeus eram acusados falsamente de envelenhamentos na Idade Meia, provocando milheiros de mortes, inclusso a gente decente unia-se ao progromo. Não tinham a percepção de serem uns assassinos, porque pensavam que se estavam limitando a defender-se a sim próprios e às suas famílias.

Quando os judeus foram acusados de utilizar sangue de crianças para fabricar as matzot de Pesaj, inclusso a gente mai decente sentia-se bem massacrando judeus, pois estavam defendendo às suas crianças de uma tortura terrível.

Inclusso Hitler utilizou este argumento da auto-defesa no Mein Kampf: “Neste caso [dada a ameaça judea contra os alemães] a única táboa de salvação é a guerra, guerra com todas as armas que o espírito e a razão poidam hurdir…Se o judeu resulta vitorioso…será vitorioso sobre todos os povos do mundo, e a sua coroa trunfal será a coroa fúnebre da humanidade…Por isso sei que estou agindo dacordo com os desejos do Criador todopoderoso. Quando me defendo do judeu, estou fazendo um trabalho divino”.

Hitler, também, disfarçava o seu genocídio como legítima auto-defesa. Os detalhes câmbiam em cada sociedade, mas o discurso é sempre o mesmo.

Examinando a promoção do ódio palestiniano actual, é especialmente desconcertante e inquedante que essas componhentes de passados genocídios contra os judeus sejam os elementos prominentes do ódio despregado pela Autoridade Palestiniana e Hamas contra os judeus e os israelis.

Dois exemplos tomados da TV de Hamas a começos deste mes documentam isto diafanamente.

A TV de Hamas emite um sketch no que uns actores com indumentária de judeus ultraortodoxos representam a um pai e um filho, discutindo sobre o ódio que a religião judea incita face os muçulmãos. O pai inclusso revive o antigo libelo de que os judeus bebem sangue de muçulmãos: “Shimon, olha, meu filho, quero ensinar-te um par de coisas. Tens que odiar aos muçulmãos…queremos matar aos muçulmãos, nós, os judeus, queremos beber o sangue dos muçulmãos”. Mais tarde critica ao seu filho por lavar as mãos antes de rezar: “Temos que lavar as mãos com sangue de muçulmão” (Al-Aksa TV, 3 de Abril). Ironicamente, a acusação de Hamas de que os judeus bebem sangue muçulmão reapareceu justo a semana anterior a Pesaj, o aniversário de muitos terroríficos libelos de sangue.

Esse mesmo dia, um dirigente religioso de Hamas rematou o seu sermão com a promesa dum eventual genocídio dos judeus. Mas para apresentá-lo adequadamente, começou por uma descripção dos judeus como inimigos da humanidade. Os judeus são inerentemente malvados, querem controlar o mundo e ameaçam aos muçulmãos e a toda a humanidade.

Este é o modo em que Ziad Abu Alhaj apresentou as coisas: “O ódio face Mahoma e o Islám está no espírito dos judeus, estám predispostos por natureza a ele. Israel é um cancro que quer governar o mundo”. Concluíndo que os judeus estám destinados a serem aniquilados. “O dia chegará, com a ajuda de Alá, em que as suas propriedades sejam destruídas e as suas crianças exterminadas, e em que nenhum judeu ou sionista fique na faz da Terra” (Al-Aksa TV, 3 d Abril).

Esta demonização e deshumanização dos judeus não se limita a Hamas. Embora titubeante de exigir explicitamente o assassinato de judeus –a causa das remesas de dinheiro occidental- a Autoridade Palestiniana continua o seu implacável emascaramento do genocídio como auto-defesa e bem comum.

Nos mass media de Fatah e da Autoridade Palestiniana, os judeus e israelis são demonizados através de maliciosos libelos, que incluim mentiras como a afirmação de que Israel inocula o SIDA e as drogas intencionadamente entre os palestinianos, que leva a cabo experimentos médicos názis com prisoneiros palestinianos e que está planificando a destrucção da Mesquita de al-Aksa.

Segundo o máximo dirigente de justiça religiosa palestiniano, Tayseer al-Tamimi: “O assunto da SIDA merece toda a atenção devida desde que somos vizinhos de uma sociedade [Israel] onde a enfermidade está muito extendida e que intenta contagiá-la [a SIDA] à sociedade palestiniana. As autoridades ocupantes, especialmente em Jerusalém, trabalham para propagar as drogas e a adicção às drogas entre nós, sem nenhum género de dúvidas” (Rádio da ANP, 7 de Fevereiro de 2008).

E segundo o Dr. Mutawakil Tahalk, portavoz do Sindicato de Escritores Palestinianos e antigo ministro da ANP: “Vímos como eles [os sionistas] apunhalaram os ventres de mulheres prenhadas, desquartizaram crianças e os comeram vivos a sangue frio. Mataram as crianças e arrancaram os úteros das fémias para que não se pudessem reproduzir” (ANP TV, 4 de Março 2008).

Um artigo de 2008 no Al-Ayyam acusava aos colonos israelis de ceivar ratas na Cidade Velha de Jerusalém “para que convertessem a vida dos residentes árabes num inferno, obrigando-os a marchar…”(17 de Julho de 2008). Um vídeo clip da ANP TV justapõe cenas reais dum tanque israeli com cenas fictícias de um rapaz sendo disparado, criando assim a ficção de que os israelis disparam deliberadamente contra os rapazes palestinianos (ANP TV, 15 de Maio de 2008).

Igual que os tútsis eram descritos como cascudas e serpes, tanto Hamas como a AP descrevem aos judeus como repugnantes e perigosos animais, incluíndo cascudas, serpes, escorpiões e lagartos.

Embora todos os libelos têm algo de diferente, a sua essência é idêntica: os israelis e os judeus são perigosos, não são humanos, necessitamos defender-nos de eles e estamos plenamente justificados para fazê-lo.

Resulta trágico que esta conversão do genocídio em legítima auto-defesa tenha obtido um éxito tão rotundo.

Uma enquisa tras o assassinato o passado 6 de Marzo de 2008 de oito estudantes na Yeshiva de Merkaz Haarav, dava como resultado que o 84% dos palestinianos apoiavam o ataque terrorista (enquisa do Palestinian Center for Policy and Survey Research, The New York Times, 19 de Março de 2008). Como pode a prática totalidade da sociedade palestiniana apoiar o assassinato de crianças? Está claro: a identificação de judeus e israelis como algo mortiferamente perigoso para os palestinianos tem resultado exitosa.

Israel agora enfronta-se a uma sociedade que já tem superado a etapa do genocídio encoberto e que admite o assassinato de israelis –incluíndo as crianças- como algo justificado. O único do que carece a sua população para levar o prescrito até as suas últimas conseqüências são os médios materiais.


ITAMAR MARCUS*

* Itamar Marcus é director de Palestinian Media Watch.

The Jerusalem Post

1 de Iyar de 5769 / 25 de Abril de 2009

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