NIHILISMO DA ESQUERDA

Nos nossos dias a esquerda já não é nem esquerda. Tradicionalmente, a direita consistia em conservadores que procuravam preservar a orde estabelecida das coisas, e a esquerda tratavam de cambiá-la por algo que considerava que era melhor. Dese Platão, a mais destacada qualidade da esquerda era a sua crença em que as complexas sociedades humanas podiam ser interpretadas na sua integridade –e, portanto, re-desenhadas e reformadas.


No século XIX dou-se uma tendência face o nihilismo: os pretendidos esquerdistas não intentavam criar nada novo (embora fosse equivocado), senão tão só destruir a orde existente. Como tudo o que brilha baixo o sol –desde a Explosão Câmbrica de há 580 milhões de anos-, essa tendência não era novedosa: o nihilismo tem aflorado à superfície intermitentemente ao longo da história, geralmente em sociedades estabelecidas e acaudaladas. Por que? Porque algumas classes emergentes não achavam acomodo na ierarquia afianzada ou na burocracia estabelecida. A sua única via face o poder consistia em destruir a velha orde. O nihilismo é muito simples: qualquer pessoa pode chegar a ser um prominente nihilista. Desde os sofistas da antiga Grécia, passando pelos franciscanos radicais de finais da Idade Média, até os actuais pacifistas “ressolve-nada”, os nihilistas apresentam-se como esquerdistas –mas são, na realidade, uns ignorantes impenitentes. Contrariamente aos esquerdistas, os nihilistas carecem duma agenda positiva; só pretendem incordiar nas distintas modalidades de sociedade.


E aquí é onde se faz diâfana a futilidade de debater com os nihilistas no seu terreno. Como os seus predecessores, os sofistas, exigem aos seus oponentes que demonstrem todas e cada uma das premisas –algo que resulta impossível. Nas ciências naturais, incluíndo o discurso sociológico e político, o processo de prova é distinto que nas matemáticas. Nenhuma hipótese pode ser formalmente demonstrada, mas em tanto que seja simples (a Navalha de Occam) e não refutada pelas evidências disponíveis, é tomada como verdade. Por exemplo, como sabemos que a Terra gira arredor do Sol? Quizá todas as evidência tenham sido falsificadas numa imensa conspiração, mas na ausência duma refutação evidente, admitimos que a teoria heliocêntrica é certa.


Os nihilistas admitem que através da história não tem existido boa vontade entre as nações, e que os conflito só têm rematado pela força do poder. Perguntam, sem embargo, como sabemos que um enfoque diferente –por exemplo, o “amor universal”- não teria trunfado? Podemos demonstrar formalmente que a guerra é a única via para a paz? Por suposto, não podemos; repetimos: nenhuma hipótese no campo das ciências naturais tem sido provada formalmente. Mas também não podem demonstrar o seu ponto de vista os próprios nihilistas. Inclusso, é mais fazilmente refutável tomando a casuística do mundo real: o povo de Laos, paradigma da paz, foi bombardeado pelos EEUU e invadido pelos vietnamitas. Os judeus da Diáspora, paradigma da humildade, foram constantemente aniquilados. Quando debatimos com os nihilistas, não devemos cair na sua “trampa lógica” de ter que demonstrar formalmente as nossas posições. Demonstrade-lhes que as vossas afirmações são consistentes à luz dos factos históricos, e replicade-lhes que sejam eles os que demonstrem as suas supercharias.


Chegados a este ponto, os nihilistas começarão a dizer que não existem evidências que corroborem as suas hipóteses porque ninguém tem AÍNDA intentado levá-las à prática; a resolução pacífica dos conflitos seria um exemplo. Nesta altura da discusão teredes duas opções. Se sodes bons conhecedores da história, podedes demonstrar fazilmente que inclusso esse tipo de medidas já foram intentadas várias vezes ao longo dos tempos –e que fracassaram. Do contrário, podedes aduzir o inapropriado de experimentar com as sociedades. Pensade nisto: os nihilistas protestam contra a experimentação com animais, exibindo de passo uma feroz aversão ao progresso obtido por meios eticamente questionáveis. Ao mesmo tempo, propõem experimentos com humanos –inclusso com populações inteiras.


Quando uma secta religiosa ou filofófica quere assentar os seus princípios sobre a terra, primeiro estabelece uma comunidade –geralmente, uma comunidade própria. Promocionando o seu próprio éxito, como prova do éxito fenomênico das suas propostas, intentam depois convencer aos demais.


Traído ao nosso caso, os nihilista deveriam intentar estabelecer uma comunidade pacífica, digamos que no Líbano ou em Gaza, e se são capazes de viver em paz e harmonia com os árabes durante umas quantas décadas (ou tão sequer, durante uns meses), isso constituiria uma sólida evidência em favor das suas hipóteses, que poderiam usar legitimamente como propaganda.


Em vez disso, os nihilistas subvertem o processo democrático obrigando aos políticos israelis a agir em contra das suas promesas eleitorais. Incapazes de penetrar na opinião pública, os nihilistas infiltram-se cinicamente nas elites. As massas adoptam a actitude dessas elites, crendo que assim são mais aceitáveis e fashions. E os nihilistas rematam obtendo o apoio popular mediante enganos.


Nas ciência naturais, toda teoria pode ser contrarrestada mediante a pregunta: “E se…?” Os nihilistas aproveitam-se desse tipo de argumento. E se os judeus tivessem sido mais amáveis no período prévio à independência? E se tivessemos aceitado as exigências de Arafat em 1988? E se unilateralmente nos retirássemos do West Bank? Mas não há necessidade de debater cada um de esses “E se…?” A cárrega da prova corre de conta dos nihilistas. São eles os que têm que demonstrar, para além de toda dúvida, que se abandoamos o sentido comum, a conduta conforme à história, os ressultados seriam distintos. Nós só seguimos a senda transitada por incontáveis gerações de humanos; se os nihilistas querem uma volta atrás, que demonstrem que a sua proposta é menos dôrosa e sanguenta que a nossa. Na ausência de demonstrações empíricas do seu método (que nunca tem sido levado à prática em nenhum momento), será difícil que exibam as suas provas.


Observade as deliberações nos tribunais de justiça. Na vida real –não no que se passa nos filmes- os juízes raramente dam crédito ao argumento dum criminal. Inclusso a mais nímia excusa é questionada, e até as provas de ADN são submetidas a várias interpretações. Os juízes acumulam argumentos persuasivos em distintos graus sabedores de que, na suma total, os seus argumentos darão lugar a uma explicação aceitável.


Seja qual seja o argumento que exponhades, os nihilistas rebaterão-no fazilmente. O direito religioso à Terra de Israel: “como sabemos que D’us existe?”. O direito histórico: “Se D’us não existe, os relatos da Bíblia são falsos”. O direito nacional: “por que vai ter uma nação que possuir um Estado? A maioria dos grupos étnicos e religiosos carecem de um”. O direito de conquista: os nihilistas declaram-no expirado. Assim que não vos molestedes em procurar um bom argumento, porque os perversos nihilistas acharão imediatamente uma réplica. Em vez disso, acumulade os vossos argumentos como evidências circunstanciais: cada parte pode que seja refutável, mas a totalidade resultará plausível. Pelo contrário, atacade os argumentos nihilistas. Têm tão poucos argumentos –e os que têm são tão enrevesadamente teoréticos- que serão incapazes de apresentar um córpus de evidências circunstanciais sólidas como para apoiar a sua agenda.


Se vos sentides com humor para debater com os sofistas, tomade um argumento irrefutável. Será uma falácia segundo a lógica aristotélica, porque por definição tal argumento nunca poderá ser refutado, mas resultará efectivo contra os sofistas. Por exemplo este: Esta Terra pertence-nos porque D’us no-la entregou, e a Torá é certa até a sua mais insignificante palavra. Esta é uma afirmação de fê, fechada a toda cháchara nihilista.


O nihilismo nada tem que fazer contra a fê verdadeira.



OBADIAH SHOHER


20 Iyar 5769 / 14 Maio 2009

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