QUEM MATOU A YITZHAK RABIN?


A começos da primavera de 1996, surgiram novas evidências de que Yigal Amir utilizara munição de fogueo, e que Rabin fora assassinado com balas autênticas dentro do seu automóvel –não pelas falsas que Amir disparara.

O 3 de Maio de 1996, os advogados de Yigal Amir apelaram contra a sua reclasão diante da Corte Suprema argumentando que não tinha sido demonstrado que fossem os seus projectis os que acabaram com a vida de Rabin. Adjuntavam a testemunha do Dr. Skolnickm do Hospital Ichilov, onde fora operado o Primeiro Ministro, e nela estabelecia-se que as feridas que apresentava o corpo não tinham correspondência com o relato oficial, segundo o qual Rabin fora alcançado a um metro de distância por Amir. Skolnick explicava que o tamanho da ferida e o sinal da queimadura, assim como os restos de pólvora evidenciavam que alguém efectuara os disparos a canhão tocante.

A mediados desse mesmo mes de Maio, doze médicos e o pessoal que estava de servizo quando Rabin chegara ao hospital receberam várias ameaças de morte anônimas. Em Junho, uma sessão a porta fechada da Corte Suprema tomou testemunha a um condutor de táxi. O dia em que Amir foi julgado, recolhera a um passageiro que portava uma tarjeta de controlo do hospital que o identificava como patólogo. Este passageiro teria-lhe comentado que o processo de Amir era uma farsa e que as feridas de Rabin foram efectuadas a queimarroupa.

Os advogados de Amir argumentaram que os projectis poderiam ter sido manipulados, dado que não existe constância documental de que se fixo com eles desde o momento em que se retiraram do corpo de Rabin, na noite do 4 de Novembro, até que foram enviados ao Instituto Forense Abu Kabir, na noite do dia seguinte.

Os informes médicos indicam que Rabin ressultou morto dum disparo efectuado com uma pistola apoiada contra o seu corpo –não a um metro de distância.

Os advogados de Amir adjuntaram também um informe do polícia experto em balística, Baruch Glatstein, onde se indicava que a primeira das balas que o alcanzou fora disparada a menos de 25 cms. de separação, mentres que o segundo disparo fora efectuado por um canhão apoiado na sua roupa. Glatstein também examinou a camisa do gardaespaldas de Rabin, Yoram Rubin, achando rastos de chumbo e cobre nas feridas de bala. Segundo o informe forense aportado por Glatstein, os projectis que alcançaram a Rabin nunca puideram proceder da arma de Amir. As balas de Amir estavam fabricadas com cobre puro, mentres que Glatstein achou restos de chumbo mescladom com cobre no burato da camisa de Rabin.

Um dos primeiros informes dos mass media sobre o assassinato foi a testemunha dada à TV israeli por Miriam Oren. Esta mulher dixo que quando viu entrar a Rabin no seu veículo “não semelhava em absoluto que tivesse recebido disparo algum”, e que subiu pelo seu próprio pê. Quando o vídeo de Kempler se reanuda tras os disparos amosa o carro de Rabin partindo a toda velozidade. Justo antes de arrancar, a porta traseira do auto fecha-se (Rabin accede pela porta do acompanhante seguido de Rubin). Alguém, portanto, estava já no assento traseiro do veículo agardando pelo Primeiro Ministro quando este entra, e cerra a porta traseira desde dentro.

A apelação de Amir baseava-se também na testemunha de dúzias de testigos presenciais que afirmaram que Amir nunca estivera o suficientemente perto de Rabin como para ter efectuado esses tiros a canhão tocante. As testemunhas manifestaram que os disparos soaram dum modo extranho e peculiar, mentres que as provas realizadas com a arma de Amir amosaram que soava absolutamente normal. No mes de Julho, o oficial da polícia, Yossi Smajda, era mencionado no Maariv afirmando que ele estava praticamente ao lado do lugar do assassinato e que se escuitaram cinco disparos: três diâfanos e dois atenuados.

O que estas pessoas escuitaram foram os disparos amortiguados das balas que mataram a Rabin no interior do carro. Amir contou à polícia imediatamente depois do atentado que ele pugera as nove balas no carregador do seu revólver. Dado que quatro balas as disparou supostamente contra Rabin –duas que o alcançaram, outra que feriu a Yoram Rubin, e outra que se perdeu entre a multidão, mas que foi achada a posterióri no lugar- deveriam ficar cinco na recâmara. Sem embargo, havia oito.

Também contamos com a testemunha de Shimon Peres, que viu o corpo de Rabin no hospital. Manifestou a Yediot Ahronot a finais de Setembro de 1996 que a fronte de Rabin estava hinchada e com magulhaduras –o que ele atribuiu a que fora empujado ao chão tras ser disparado. Isto, porém, entra em contradicção total com o informe da testigo Miriam Oren, que se encontrava junto a Rabin tras o disparo de Amir. Ela manifestara à TV israeli poucos momentos depois do incidente que Rabin entrara no veículo pelo seu próprio pê. Onde e como se produziram as feridas que Rabin apresentava no rosto?

Por último, contamos com a prova irrefutável oferecida ingenuamente pelo ajudante de Rabin, Eitar Haber. Mentres Rabin era operado no Hospital Ichilov, por razões aínda não esclarecidas até a data, Haber rebuscou na chaqueta de aquele e nos petos da camisa na procura de algo, e achou a folha com a partitura que Rabin levara durante a Marcha pela Paz. Haber amosou-na às câmaras quando anunciou a morte de Rabin. A folha apresenta um burato de bala e restos de sangue. Não sendo que Rabin a levasse num inexistente peto na espalda da sua chaqueta, foi disparado desde em frente.

O 20 de Setembro, dois jornais israelis publicaram sendas entrevistas com os mais inesperados avogados da tese conspiracionista. Tras nove meses de silêncio, Shlomo Levy concedeu uma entrevista ao Yerushalayim. Levy era o sócio dum conhecido de Amir que trabalhara na Brigada de Inteligência das IDF. Trasescuitar as ameaças de Amir de que atentaria contra Rabin, informou ao seu comandante que o remitiu a declarar ante a polícia. A polícia tomou-lhe testemunha o 6 de Julho de 1995 e a transferiu ao Shabak, onde foi ignorada até três dias depois do assassinato.

O informe concluia que “o de Levy foi só um da multidão de informes que o Shabak ignorou respeito a Amir…O facto de que o Shabak deixasse que esses informes seguissem sepultando-se baixo o pô até que Rabin morreu, alimentam a teoria da conspiração”.

Perguntou-se-lhe a Levy: “Se você agiu correctamente, por que tem estado oculto até agora?”, ao que este replicou: “O Shabak é grande e poderoso e eu só sou um pobre tipo. Quem sabe como teriam reagido naquele momento se me tivesse deixado entrevistar”. Esse mesmo dia, o filho de Rabin, Yuval, era entrevistado no Yediot Ahronot. Perguntado sobre se acreditava que o seu pai fora assassinado numa conspiração –pregunta que dizia muito sobre o crescente interesse do público- ele contestou: “Não podo dizer sim ou não. É duro aceitá-lo…Mas uma coisa está clara, ninguém recebeu um castigo. O pior que se passou a algum agente do Shabak foi perder o emprego”.

Considerando todas estas evidências, Yitzhak Rabin não foi assassinado por Yigal Amir. É provável que a maioria dos gardas de seguridade de Rabin, e provavelmente o próprio Rabin, acreditassem que ía ter lugar um plano bem elaborado para desarticular à “direita radical”. Yigal Amir seria capturado com as mãos na massa. Provavelmente teria sido drogado ou enganado para que pensasse que as suas balas eram autênticas e que ele realmente seria o executor de Rabin. Fora programado para asumir as culpas.

Quem quer que estivesse detrás do crime, contou com a ajuda da Comissão Shamgar, cujas conclusões vinheram simplesmente a reforçar a image fabricada durante anos pelos mass media no imaginário colectivo israeli de que o extremismo judeu era o responsável do assassinato.

A cobertura foi, sem dúvida, tão insidiosa como o próprio crime.



BARRY CHAMISH


* [Este artigo foi publicado em 1996]

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