A MASCOTA

Quando tinha tão só seis anos, um rapaz judeu foi parar aos boscos tras contemplar como a sua mãe, irmão e irmã eram assassinados pelos názis. Oculto, morde-se a mão para evitar proferir um berro de angústia e dor que o descobra. No meio dos frondosos boscos de Bielorrússia, no leste europeu, sobreviveu comendo ervas selvagens e encaramando-se às árvores para fogir das bandadas de lobos. A criança ressultou depois rescatada pelos soldados do III Reich que –ignorando que se tratava dum judeu- converteram-no na sua mascota.

O jovem judeu fixo-se passar por názi durante a 2ª Guerra Mundial. Os seus captores vesteram-nos com um uniforme a medida das SS e adoptaram-no como a sua mascota, levando-o com eles nas suas missões de razzia contra a população judea.

Esta história, que semelha um relato de ficção dos irmãos Grimm, dou pê ao livro do escritor australiano Mark Kurzem “A mascota: aclarando o mistério do meu pai judeu”.

Durante anos o pai de Kurzem contara-lhes a ele e os seus irmãos um relato da sua infância no que ele seria o filho dum pastor de porcos russo que se perdera no bosco, e que foi achado por uns soldados de Letônia e, depois, adoptado por uma acaudalada família que possuia uma fábrica de chocolate.

Em 1949, quando a família imigrou a Austrália, ele teria-se despraçado com eles. Mas isso era só uma verdade a médias, que seria completamente desvelada anos depois quando lhe dixo ao seu filho Mark: “Quero que fagas algo por mim, filho, quero que averígues quem sou”. Queria saber a sua esquecida e autêntica identidade e depositar uma flor na tumba da sua mãe.

Para começar, Alex (o pai) conta-lhe a Mark que é judeu –algo que nunca antes revelara, nem sequer à sua dona, uma mulher católica. E depois vai lembrando o resto do que se passou. Num relato angustiado surgido da zona gris que flue entre o sentimento de culpabilidade e o de supervivência. Mentres durou a guerra, lembra como viajava com o comando que o rescatara presenciando atrozidades, centenares de judeus introduzidos e queimados vivos numa sinagoga, entre outras barbaridades. Alex rematou por converter-se num arma de propaganda, o mais jovem názi do III Reich, protagonista de artigos de jornais e dum documental.

Mark Kurzem converte-se no livro numa espécie de Virgílio redivivo, guiando ao seu pai através do submundo do seu próprio passado. Como numa grande novela, culmina com um episódio aínda mais emocionante. Alex Kurzem regressa ao lugar em que a sua mãe e os seus pequenos irmãos foram assassinados. Um monumento comemora ali às 1.600 pessoas entrerradas numa fosa colectiva. Como figera o dia em que presenciou como eram espidos e massacrados diante de ele, Alex volta morder a mão para evitar exteriorizar tanta dor.

Baseado no livro, este documental, do que reproduzimos uma reportagem a continuação, ganhou numerosos prémios nos certames de cinema de Sidney, Varsóvia e no London Festival.


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