A QUEM LHE QUERES VENDER A MOTO?

Leio um texto recente de Iolanda (ou Yolanda, como prefire ela e queda mais “chic”) Castaño e fico abraiada. Tanta pose de postmodernismo sinistro –variante gore- e resulta que a nossa poeta nacional colhe, vai, e se nos bota ao monte.

I(Y)olanda Castaño é uma profissora, poeta e notável do mundinho cultural galego, que dirige a Galeria Sargadelos na Corunha, posto que ocupa tras uma soada e ágria polêmica na que resultara defenestrado o histórico intelectual Isaac Díaz Pardo.

Castaño tem, para servidora, o mérito de ter escrito um dos artigos mais infames que tenho lido em toda a minha vida contra a liberdade de mercado –quer dizer, contra a liberdade. “Cultura galega e mercado”, chama-se a joia. Outro dia que não tenha lentelhas ao fogo ponho-me com ele.

Também tem deixado patente o seu despreço face o Estado de Israel em quanto lhe têm brindado a ocasião; veja-se, a modo ilustrativo, a sua coluna “Adolescentes israelis”, do 17 de Janeiro deste ano.

Na sua coisa do 29 de Maio em o Xornal, dona Iolanda saca do baúl o disfraz neiraviliano de Balbino, a cassette de “Fuxan os ventos” e calza-se uns zocos para pôr-se-nos em plano lacrimôgeno.

Se todo o argumento para obrigar à imersão numa língua a uma sociedade fica reduzido a que “é a língua do máis débil”, daquela aprenda você caló ou romani, como os gitanos dos Arcones.. Mesmo “koruño” que falam as pescas e os que vam ao percebe na Torre. E tudo grátis e sem se mover do bairro de Monte Alto onde você reside.

Você fecha os olhos à realidade, e em certo modo desenvolve no seu discurso uma contradicção irresolúvel: se na economia lingüística nos guiamos pelo “quero” –“quero aprender a língua do máis débil”-, daquela seja você uma liberal com todas as conseqüências e respeite o que “queira” toda a sociedade onde você está imersa. E queira-o com todas as conseqüências. Há poucos meses teve ocasião, Sra. Castaño, de comprovar o que “quere” a gente que a arrodea no território administrativo da Comunidade Galega. O que “querem” os que utilizam agora o discurso do lobo disfarçados de ovelhas, reduze-se ao sumo a um escaso 9 % (segundo vimos o passado domingo). Muito respeitável, por certo. O máu é que o querem impôr ao 91 % restante a base do “Glória, pim, pam, pum”, e da coerção violenta. E aí, para mim, ficam já desprovistos de toda legitimação.

Fale e escreva você como lhe pete, mas por favor não tome por imbéceis –quando lhe convêm- a todos os demais.Tenha o valor, pelo menos, de arriscar-se a perder todas as prebendas das que você goza como notável do tinglado político-cultural imposto durante demassiado tempo por uma secta minoritária e seja demócrata (já que tanto lhes gosta usar o palavro). Chame às coisas pelo seu nome como fazem os mais honestos dos seus comilitões que queiman veículos, reventam actos e emborronam paredes; e tras recabar os apoios com os que realmente conte na sociedade, actue logo em conseqüência. Mas não o faga em nome duns pretendidos “direitos pisoteados” e apelando à solidariedade dos mesmos aos que se quer impôr via decreto aquilo no que não acreditam.

A língua sempre foi companheira do Império, dixo um afamado gramático do século XV. A essa verdade reduz-se tudo, não se engane. Depois, já é questão de apostar pela embrionária forma-Estado que a uma mais lhe praça –ou apenas apostar por nenhuma-, jogar a partida, e ter a honestidade de rumiar o resultado.

Decida sempre livremente, como propugna no seu artigo (e lute pelo direito a que também o poidam fazer os demais, claro).

Mas, por favor, deixe onde está –quer dizer, no baúl dos recordos- o aburrido e gastado discurso nacional-populista, que já estamos cansos.

Venha, Iolanda, que já vai para cinco anos que morreu Manuel María.

Acabou-se-vos o conto.


SOPHIA L. FREIRE

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