JUDAÍSMO MILITANTE

Não deveria ser preciso insistir em que D’us revelou a Torá na sua totalidade, palavra por palavra. Demos por bom já se aceitamos a orige divina dos mandamentos e que os sacerdotes adaptaram consideravelmente a Lei às circunstâncias cambiantes, como figeram os rabinos talmúdicos mil anos depois. Não podemos deixar de trabalhar em Shabat: estações de servizo, polícia, controladores de tráfico aéreo, e subministradores de água devem permanecer nos seus postos. A diâfana proibição de que ninguém trabalhará “na tua cidade” só pode ser entendida como uma proibição de m’lacha (trabalho esgotador). Sendo realistas, não podemos apedrear aos que se afastam da norma e mantêm relações sexuais com mulheres menstruantes.

Em vez de apelar à ausência de Sanedrim –facto que não impediu que os rabinos medievais executassem aos judeus criminais- podemos conceder que os sacerdotes elaboravam normas severas para fortalecer a moralidade, normas que raramente se levavam à prática ante a impossibilidade de demonstrar o crime. Em vez de interpretar o castigo ritual como uma privação na outra vida –para além da clara referência à execução temporal em Levítico 20:17 [serão extirpados aos olhos dos filhos do seu povo]- deveríamos perguntar-nos honestamente se o corpus delicti é de orige divina ou sacerdotal. Este enfoque nada tem a ver com o Reformismo –essa doutrina nihilista que reduz o Judaísmo a uma ética gentil. Devemos ser honestos com a religião. Aquilo que é claramente impossível, para além do muito que nos empenhemos, não pode ser de orige divina.

O relato do nascimento de Samson confirma que os sacrifícios fóra do Templo eram habituais, dado que Manoah não teve reparos em sacrificar a sugerência dum estrangeiro, do que ele não sabia que era um anjo. A Estela de Mesha fala do saqueo aos “vasalos de Yahvé” em Nebo, o que também redunda na existência de santuários fóra do Templo. A oração centralizada no Templo não pode ter uma base real: os judeus de Israel e Galilea não podiam estar viajando a Jerusalém constantemente para a purificação ritual e as festividades. Já o Primeiro Templo carecia da Arca, de Urim e de Tummim, e o Segundo Templo de todos os objectos sagrados. O Templo é a instituição política mais importante da nação judea. Não deveríamos agardar que um Templo idealizado desça dos céus, senão edificá-lo agora no Monte do Templo.

Os haredim são as melhores das pessoas, e em nenhuma parte de Israel sinto-me mais em casa que no bairro de Mea Shearim. A profundidade espiritual, ética e moral da maioria dos rabinos não têm ponto de comparação. A sua devoção à Torá, que estudam desde a mais absoluta pobreza e com a mais extrema adicação, é realmente digna de elógio. Mas a questão essencial é se o seu judaísmo é verdadeiro. Devem os judeus ser agradáveis? Estudosos entregados à Torá? Ou devemos levar uma intensa vida nacional com estudos seculares, trabalhos seculares, e guerras? A Bíblia não dá nenhum indício de que D’us queira que os judeus levem uma vida monástica. Tem-se-nos ordeado repetidamente, mais bem, que nos assentemos na nossa terra, a trabalhemos, e que combatamos por ela.

Sem dúvida, não temos eleição: os religiosos judeus emprenderam o assentamento massivo na nossa terra décadas antes de que o figessem os sionistas, e os árabes combateram reiteradamente contra as comunidades religiosas judeas, nas que não havia nem rasto de sionismo ou aspirações estatais. A submisão ao resto das nações é uma profanação do nome de D’us, e negociar com os inimigos que reclamam a terra que nos foi prometida testemunha o nosso desprezo pelas promesas de D’us. Ele fez as suas miragres em 1947 e 1967, mas os judeus negam-se a fazer a parte que lhes corresponde do trabalho.


OBADIAH SHOHER

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