A LIGA DE DEFESA JUDEA, 40 ANOS DEPOIS*


O meu esposo, Rabbi Meir Kahane, fundou a JDL há 40 anos na cidade de New York. Fixo-o em resposta à onda de violentos assassinatos cometidos pelos afroamericãos, que sem dúvida estavam motivados pelas suas difícis condições sócio-económicas.

Sem embargo, delitos como os atracos e os roubos com violência eram algo cotidião. Os roubos incrementaram-se num 70% entre 1967 e 1968, e os assaltos num 25%. Como muitos neoyokinos eu nunca saia só pela noite, e quando ia mercar gardava o dinheiro num peto oculto interior. New York era uma típica cidade americana; de facto em 1967 e 1968 os negros rebelaram-se em mais de 150 cidades dos EEUU.

Os crimes dos negros –e dos portorriquenhos- frequentemente tinham claros transfundos ánti-semitas. Na cidade de New York , os professores judeus eram atacados nas escolas públicas, os cimetérios eram profanados e as sinagogas sofriam pintadas e recebiam cócteis-molotov. Os bairros judeus eram os mais atacados, pois judeus e grupos minoritários amiúde viviam em zonas colindantes, e os judeus tinham fama de não responder as agressões.

A JDL pretendeu modificar a image dos judeus de chivo expiatório a combatentes. Meir soia dizer: “Oferecer a outra meixela não figura na nossa Bíblia”. Assim, a JDL começou organizar classes de judo, karate e tiro ao branco, e os seus membros patrulhavam as zonas mais conflictivas. Os meios de comunicação estavam intrigados por aqueles judeus que desafiavam o estereotipo judeu. Jornais, rádio e TV ofereciam informes sobre os campos de entrenamento da JDL e dos seus temerários enfrontamentos para proteger aos professores judeus e os tendeiros. Secções da JDL foram fundadas por todo o país.

A JDL também se opuxo aos sistema de quotas preferentes para a admissão nas universidades e nos empregos. Mantinhamos que as quotas discriminavam aos judeus, cujos meritórios avanços baseavam-se na meritagem.

Meir cambiou as quotas nos tribunais, e para publicitar as injustiças, a JDL montou piquetes nas oficinas do equipo de béisbol New York Mets, levando pancartas que exijiam que os Mets contratassem judeus por riba do 26’2% da plantilha –a percentagem de judeus na cidade por aquelas datas.

Mentres as classes meias e humildes apreciavam os esforços da JDL para combater o crime e a discriminação, as altas esferas judeas da classe dirigente só estavam preocupados por manter a sua respeitável image. Chamavam a Meir agitador de massas e à JDL elemento parapolicial.

Doia-me escuitar como insultavam ao meu esposo, mas sabia que estavam errados. A protecção policial oficial era ineficaz, e as cidades americanas semelhavam junglas. Ninguém podia negar a legitimidade dos grupos de auto-defesa. Os líderes judeus da classe dirigente nunca tinham que caminhar sós pela noite através do extrarádio; diziam que a violência da JDL era imprópria dos judeus.

Meir refutou essas afirmações: “…Desde os dias em que o nosso pai Abraham foi à batalha contra os quatro reis para salvar ao seu sobrinho Lot, até o momento em que Moisés golpeou a um egípcio melhor que criar um comitê para estudar as causas do ánti-semitismo egípcio; desde os Macabeos até os estudantes de Rabbi Akiva que foram enviados a combater no exército de Bar Kochba, os líderes judeus sempre têm tomado parte activa e violenta na luita pela liberdade”.

Os ideais que Meir inculcou aos membros da JDL baseavam-se na Torah; um princípio fundamental era o “Ahavat Yisrael” – amar aos companheiros judeus e ajudá-los. A Ahavat Yisrael motivou as patrulhas e enfrontamentos da JDL, e aplicava-se a qualquer judeu em problemas, inclusso aqueles que estavam na URSS.

Durante a Guerra Fria não existia contacto com os judeus soviéticos. Só a partir de 1964 começou a chegar informação sobre a sua opressão. A circuncisão fora proibida, e era ilegal ensinar a um rapaz judeu nada a ver com a sua religião, ou cozinhar matzot durante o Pesaj. Nenhum cidadão soviético tinha permiso para emigrar, e portanto um judeu não podia praticar a sua religião em nengures. Os jornais oficiais como o Pravda promoviam o ánti-semitismo culpando aos judeus dos severos problemas económicos da URSS. Foi para ressolver esses problemas económicos -e para poder comprar trigo americão a baixo preço- que os soviéticos procuraram então suavizar as relações com América. Meir viu a grande oportunidade. Escreveu: “…Sacudidos pelos agudos problemas económicos os soviéticos necessitam desesperadamente boas relações com os EEUU. Se nós conseguimos evitá-lo pode que os soviéticos considerem a possibilidade de deixar de perseguir aos seus judeus”.

“Devemos aparecer nos titulares, e estes só se fixam em sucessos audazes e dramáticos. Se for preciso, esses sucessos não se devem cingir à amável respectabilidade e à legalidade…Não é um assunto agradável. Este não é um compromisso para quem tenha medo de lixar as mãos”.

Em 1964, quando Meir escreveu isso, poucos tinham vontade de “lixar as suas mãos”. Arredor de 1970, porém, os membros da JDL já estavam acostumados a ignorar a “respectabilidade”. Estavam preparados para trair a situação dos judeus soviéticos à atenção do público americão.

Interrompiam espectáculos dos ballets russos com berros de “Liberdade para os judeus” e “Deixade marchar à nossa gente”. Num espectáculo em Chicago, alguém lançou uma bomba lacrimógena obrigando a mais e 3.500 pessoas a sair para fóra. Em Philadelphia, soltaram ratos no auditório.

Tras uma manifestação que bloqueou uma intersecção vital de Manhattan durante mais de 20 minutos, Meir foi arrestado. Este não era o seu primeiro arresto, e eu já me acostumara a não me preocupar, pois soia sair baixo fiança pela manhá. O importante foi que o arresto atraiu o interesse dos mass media. Aquela manhá ele falou numa emissão para todo o país da NBC TV e dixo: “Perdimos 6 milhões de judeus há 25 anos. Não temos intenção de perder 3 milhões e meio mais noutro genocídio nacional. Não cabe a mais mñinima dúvida de que tras 53 anos, o assunto dos judeus soviéticos estará de agora em adiante em primeira página”.

Numerosas manifestações da JDL pugeram a partir de então o assunto na primeira página, sem dúvida, movilizando à sociedade americana a apoiar as liberdades básicas para os judeus soviéticos, o que levou à URSS a libertar aos seus judeus. A partir de 1971 um contingente de 22.000 judeus obtiveram permiso para emigrar cada ano.

Naqueles anos as manifestações amiúde violentas da JDL eram condeadas pela classe dirigente. Hoje a maioria da gente reconhece o papel fundamental desenvolvido pela JDL. Tal e como Glenn Richter, director de Acção Estudantil pro Jedeus Soviéticos reconheceu: “Rabbi Kahane propagou o tema da juderia soviética até levá-lo a titulares duma maneira que nós, com as nossas protestas pacíficas, nunca fumos capazes”.

Meir estava no certo respeito à auto-defesa e os judeus soviéticos. Levará outros 40 anos reconhecer que também estava no certo em muitíssimas outras coisas?



LIBBY KAHANE

* Este artigo apareceu o passado mes de Junho no Jerusalem Post. Libby Kahane é a viúva de Meir Kahane e a nai do também assassinado Binyamin Kahane. Vem de editar um volume de mais de 700 páginas intitulado “Rabbi Meir Kahane: vida e pensamento Vol.1 (1932-1975)”.

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