SE O DESEJAS, DAVID GROSSMAN TRAIRÁ A PAZ

David Grossman, um dos nossos mais destacados escritores, está furioso. Num recente artigo diz que sinte como os israelis aceitam com indiferência “as nossas superficiais vidas, carentes de toda esperança…”. Acredita que “nos regodeamos em ansiedades, lassitude e numa pretendida superioridade moral”, na “auto-abnegação”, e que procuramos uma via de escape “no doce estupor do nacionalismo, o militarismo e o vitimismo”. Negamos, assegura, “as legítimas necessidades e justas exigências dos palestinianos”. Rechazamos comprender que a realidade “require flexibilidade, audácia e visão”. Nós, afirma Grossman, rechaçamos dar “qualquer passo autêntico que nos leve a um autêntico câmbio de conciência”, e que traia a Paz.

Um poderia agardar que Grossman, escritor sensível e afligido pai, não volcasse a sua frustração pela ausência de paz numa condeia global da maioria do povo israeli. Caberia agardar um exercício de introspecção nas causas de que tenhamos perdido “a capazidade de lograr a paz”, como ele se lamenta, e no que deveríamos fazer para lograr o seu “autêntico cambio de conciência”.

Que câmbio é esse que ele agarda? Ceder às “legítimas necessidades e justas exigências dos palestinianos”, sem importar o perigo que isso suponha para a nossa supervivência, é o que tem em mente? Pois, por favor, explicite-o querido e distinguido escritor. Por favor, ensine-nos como capear os perigos aos que daria pê a sua “visão” –ou acaso acredita que a possibilidade do controlo do West Bank por Hamas é uma simples fantasia?

Caberia agardar, também, que Grossman deixasse de queixar-se sobre se os israelis e palestinianos “não entendem na realidade, em profundidade, o que significa a paz”, e comezasse a tratar de explicar aos pobres iletrados que habitamos esta terra a “opção da paz verdadeira” que ele possue. Existe alguma possibilidade de que a sua visão seja aceitada pela maioria dos palestinianos? Poderia fazer que abandoassem a “visão” militante de Hamas pela que têm votado a maioria de eles?

Isto poderíamo-lo comprovar se Grossman e os seus colegas pacifistas –como Shulamit Aloni, Yossi Beilin, Yossi Sarid, Yuli Tamir, a maioria dos articulistas do Ha’aretz e muitas outras prominentes figuras literárias- formulassem uma proposta, embora for uma versão renovada da Iniciativa de Paz de Genebra, e assim saberíamos que é o que pretendem que entreguemos desta vez e que tipo de “Paz” obteríamos a câmbio.

Seria uma paz fria como a que temos com Egipto, que nunca desperdícia a oportunidade de socavar ao Estado de Israel? De passo, saberíamos queantos dirigentes palestinianos e árabes desejam sumar-se a uma oferta de paz que recolheria a maioria –mas não a TOTALIDADE- das suas “legítimas necessidades e justas exigências” (como o direito de retorno? Um West Bank judenrein?) tal e como Grossman propugna. Seriam alguns mais que o escasso punhado que estiveram dispostos a apoiar a Iniciativa de Paz de Genebra? E, se não, comprometeriam-se quando menos Grossman e a sua troupe a deixar de machacar-nos com a cantinela de que somos contrários à paz porque nos negamos a participar das suas bem intencionadas ilusões?

Grossman queixa-se de que não sejamos capazes de transcender o conflito com o novo espírito do Presidente dos EEUU Barack Obama. Deveria considerar, talvez, a possibilidade de que isto seja devido a que ele e os seus visionários colegas da Esquerda simplesmente se limitam a repetir o mantra de “Paz Agora”, mentres olam fac outro lado ante a cruda realidade. Eles prefirem ignorar o fracasso de todas e cada uma das iniciativas de paz que têm promovido, desde os Acordos de Oslo, pasando pelas “conversas Ami Ayalon-Sari Nusseibeh”, até as suicidas concessões oferecidas por Ehud Barak em Camp David e Taba à Iniciativa de Genebra. Todas essas tentativas jamais foram aceitadas pelos palestinianos e, para além disso, deram sempre pê a maiores derramamentos de sangue.

Grossman e os seus amiguetes deveriam explicar também o por que, como zelosos gardães dos “direitos humanos”, semelham tão obsesionados com a autodeterminação palestiniana mentres permanecem indiferentes ante os direitos humanos básicos dos palestinianos. Por que apoiam o estabelecimento do que provavelmente se convertiria num Estado tipo iraniano dirigido por Hamas, e que conduziria aos seus cidadãos tão só a uma miséria crescente, tanto social como económica?

Como podem fazer um chamamento a fundar um regime que oprimiria às mulheres e às crianças? Como podem apoiar a criação dum Estado cujos dirigentes estám juramentados na destrucção do Estado de Israel? É o direito de autodeterminação política algo tão sublime que paga a pena ignorar tudo isso?

Só o tempo dirá, por suposto, se as nossas “angústias” são reais ou imaginárias, se Grossman se aferra à realidade ou só alimenta as suas fantasias literárias. Os factos aconselham que sejamos cautos. Se um Estado Palestiniano há ser irredentista e belicoso, seria uma grande tragédia tanto para os palestinianos como para nós.


DANIEL DORON

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