É um absurdo comparar Irão com a Alemanha názi. O elemento mais importante do nazismo foi a sua continuidade: desenvolveram com anterioridade toda uma rede de políticas tendentes a um objectivo pré-determinado. Durante séculos a sociedade alemã foi ánti-semita, militarista, disciplinada, expansionista, supremacista e xenófoba. Os alemães combateram entre eles próprios e contra outros povos europeus. O nacionalismo estava deliberadamente acentuado com o claro propósito da unificação alemã, e encaixava com as actitudes capitais de supremacía e xenofóbia. Desde tempo imemorial, os alemães foram disciplinados e implacáveis soldados. Os suíços e os danesses, por exemplo, eram militaristas também, mas tinham superado com creces a etapa de construcção nacional, que era ainda muito recente no caso da Alemanha názi, e são portanto povos pacíficos. França, Ucrânia, Sérbia, e a maioria dos demais países europeus puideram ter iniciado o Holocausto tal como figeram os alemães; Ucrânia, de facto, intentou-no nos começos do século XX, e França colaborou muito eficazmente com os alemães no desenvolvimento do Holocausto. Escassos alemães estiveram activamente vinculados ao genocídio, mas muitíssimos estavam dacordo; idêntico patrão é aplicável a França, Itália, e outros países. O ánti-semitismo é endêmico à cultura cristã e observável em Europa. Em América, o ánti-semitismo nunca tem sido alentado oficialmente, e os americãos, embora não gostem dos judeus, é muito improvável que tivessem levado adiante o genocídio.
Nada do sinalado tem a ver com Irão. Este país carece ao longo da sua história de incitações ánti-semitas ou das perseguições próprias de Alemanha e Europa em geral. A maioria dos judeus iraniãos emigraram, mas movidos por motivos nacionalistas (Israel) ou na procura de oportunidades económicas (América). Aqueles que permaneceram em Irão não foram perseguidos. É uma imbecilidade comparar a situação iraniã com a sistemática e brutal opressão dos judeus na Síria moderna, onde eram acertadamente percebidos como a quinta coluna de Israel, ao igual que sucedia na Alemanha. Ainda no século XIX, os judeus alemães careciam de plena cidadania e os partidos políticos opunham-se veementemente a que se lhes concedessem plenos direitos civis. Os jornais alemães publicavam de maneira rutinária artigos e vinhetas ánti-semitas –algo impensável no Irão, onde têm traçada uma diâfana linha entre Sionismo e Judaísmo, e inclusso a propaganda ánti-sionista não se assemelha nem remotamente à fúria ánti-semita de Alemanha. Contrariamente ao Irão, a cultura alemã é inerentemente ánti-semita, com a breve excepção da República de Weimar. Alemanha foi ánti-semita no século XIV, no XX e no XXI.
Não é descabelado sugerir que Irão, para além da tolerância face os judeus, poderia aniquilar um Estado sionista. Mas dada a trajectória de Irão é extremadamente improvável. Irão nunca foi expansionista na sua história recente. Nunca iniciou uma confrontação. Inclusso no caso das Ilhas Tunbs, Irão seguiu minuciosamente a via diplomática até que a Sharia exigiu invadir as Ilhas Tunbs de maneira que o emir pudesse entregá-las ante a ameaça dum exército irresistível, salvando assim a cara. Os operativos iraniãos no Líbano não se assemelharam em absoluto à contundente intervenção de Síria. Certo é que Irão apoia os movimentos de resistência no Líbano e Palestina, mas Israel também apoia aos kurdos. Quase todos os Estados apoiam a algumas guerrilhas forâneas para extender a sua influência.
Mas se Irão é tão boa, porque os árabes estám histéricos com o seu programa nuclear? Pois singelamente porque Irão quere promover um império chiíta. A influência chiíta nos Estados sunnis garante o malestar civil e socava os governos locais. Os árabes tendem a alinhar-se com o forte, e um Irão nuclear incrementaria a popularidade dum Islão chiíta. Egipto não terá durante muito mais tempo as mãos livres para arbitrar as disputas internas dos árabes, e a totalidade do balanço de poder cambiará. Os árabes, porém, acomodam-se imediatamente às novas situações, e assim Egipto e Arábia Saudi começaram nos últimos tempos a reforçar as suas relações com Irão.
Irão utilizará o seu armamento nuclear para abastecer a Síria e o Líbano dum escudo defensivo, mas não bombardeará Israel. Pelo contrário que os alemães, o exército iranião é deficiente e não poderia desenvolver uma guerra de posições. Os míssis balísticos iraniãos são susceptíveis de serem fazilmente interceptados pela defesa aérea israeli e não alcançariam objectivos vitais. As sanções e a ineficiência supõem uma sangria para a economia iraniã, e os iraniãos não podem ser secretamente militarizados como o foram os alemãos. O liderádego iranião é muito conservador e exerce um controlo sobre Ahmadinejad radicalmente oposto ao que podia exercer o Parlamento alemão sobre os názis.
Dito isto, nada é seguro. Irão atacou o Iraque com armas químicas e sofreu repressálias a câmbio.Enviou soldados adolescentes a limpar os campos de minas. Perdeu um incalculável número de soldados numa inútil (a pesar de ser defensiva) guerra com o Iraque. Irão poderia responder os ataques israelis contra as suas instalações nucleares com armas químicas e radiológicas, ignorando as consequências. Actualmente, não deveria haver consequências, dado que Israel não pode soster uma guerra prolongada com Irão, um país muito grande e lonjano. Um intercâmbio de míssis é o cenário mais provável. A classe dirigente israeli sublima a ameaça dum Irão nuclear para encobrir a incapazidade de lidiar com a autêntica, crível e imensa ameaça nuclear de Pakistão e Corea do Norde, que de forma praticamente segura passarão armas aos regimes árabes e terroristas.
A existência real de um programa nuclear iranião é incerta. Se os EEUU tivessem evidências positivas desse programa militar, Bush teria actuado tras ter sido posta em tea de juíço a sua política ánti-iraniã pela CIA. Quando menos em dois informes dirigidos à IAEA com a intenção de reforçar o apoio internacional às sanções, a administração dos EEUU não pudo aportar evidências substanciais de que Irão esteja acometendo estudos nucleares de uso militar. Israel ofereceu aos EEUU todas as provas que possue das actividades ilegais de Irão, mas aparentemente não bastou para convencer à CIA, a IAEA, e o corpo diplomático. Luitando pelo apoio internacional contra Irão, Israel estaria fazendo pública cada mínima prova: dizendo que tal ou qual programa está sendo desenvolvido em tal e qual lugar põe num perigo tremendo aos serviços de espionagem. O certo, não obstante, é que Irão está desenvolvendo induvidavelmente um programa militar nuclear, e nós estamos de braços cruzados.
Irão é uma ameaça que devemos contemplar. Não tem, sem embargo, nada a ver com a Alemanha názi.
OBADIAH SHOHER
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