O que mais me preocupa dos palestinianos é a sua semelhança com os primeiros sionistas. Os terroristas palestinianos são patriotas, não como as suas comunidades tradicionais. Como os antigos sionistas de esquerda, desenvolvem conscientemente um prototipo e mentalidade de “novo palestiniano”: já não a do camponês abnegado cuja maior alabança é a resistência ante a opressão; os terroristas confiam “só no rifle”. Como as guerrilhas judeas, não se resignam a deter a violência a câmbio de vagas promesas de reconhecimento como Estado, senão que dam caza àqueles que vem como ocupantes inclusso apesar de que estám em retirada. Como os judeus da clandestinidade, os palestinianos fabricam as suas próprias armas, conseguem outras de contrabando, e as utilizam implacavelmente. Como os judeus, entendem que combater é a única forma de lograr um Estado: Israel não se deve preocupar de ceder terras aos pacíficos palestinianos.
A identidade árabe de Gaza vem definida pelos campos de refugiados. A maioria dos judeus europeus que entraram em Israel durante anos tras o Holocausto não eram sionistas, mas passaram anos em campos para pessoas despraçadas, o que conformou consideravelmente a sua identidade: comunal com os judeus, violenta com os árabes.
As facções de Gaza combatem entre sim, exactamente como faziam os judeus no período pré-estatal. Fatah colabora com Israel da mesma forma em que a Agência Judea colaborava com os ocupantes britânicos: traicionando aos seus correligionários, fingindo resistência, e submetendo-se às decisões de repartir a terra.
A estrutura militar de Gaza é problematicamente semelhante à vitoriosa judea. Abarca todo o espectro de organizações, interconectadas embora formalmente distintas: receptores apolíticos de fundos de beneficência, partidos políticos declaradamente moderados, as suas facções armadas, e as milícias absolutamente fóra de controlo. Os judeus tinham uma estrutura semelhante durante os anos prévios ao Estado. Uma das operações mais exitosas foi levada a cabo por umas dúzias de grupos armados independentes e uns centos de audazes indivíduos judeus. Freqüentemente não recebiam dinheiro dos sionistas, mas o obtinham mediante roubos, negócios túrbios, e num caso sinalado, mediante falsificação. Depois da guerra levaram uns 150.000 judeus do bloco comunista e Europa occidental aos campos para pessoas despraçadas, e desde ali os transportaram a Palestina.
A classe dirigente israeli e o exército têm evoluído convertindo-se em mastodontes, incapazes de reagir rápida e inteligentemente. A máxima militar fala do exército despraçando-se como água, enchendo os petos da resistência, aproveitando as oportunidades. O exército israeli já não é aquela temerária entidade que fora no seu dia, senão um preguiçoso e burocratizado ente a imagem e semelhança das forças armadas dos EEUU, mas carente do abracadabrante orçamento que compensa a ineficácia de aquelas.
Israel poderia ter acabado com Gaza há muito tempo se tiver dado renda solta às brigadas militares, mercenários, ou tendo permitido aos israelis de a pé organizar-se em grupos armados que figessem fronte a Kassam, Yihad Islâmica, Fronte de Libertação Popular de Palestina e outros grupúsculos semelhantes. O exército israeli precisa descentralização com acções de baixa intensidade.
Os palestinianos são inteligentes, comparados com outros árabes. Hamas desenvolveu uma séria organização popular que tem sobrevivido a repressões, assassinatos, ostracismo e bloqueios. De forma constante, Hamas expande as suas relações internacionais. Esta organização islamista acha as suas indesejáveis amizades nos russos e nos pacifistas progres. Os palestinianos manipulam aos sofisticados mass média internacionais através dos shows tipo Al-Dura, e avergonhas aos regimes islâmicos infringindo as fronteiras com Egipto, e portanto implicando a Egipto no bloqueio dirigido por Israel.
Hamas é muito mais honesta e fidel ao seu povo que os sionistas de esquerda. Abraça valores básicos e mantém sem temor prissioneiros de guerra de forma exitosa mediante a debacle dos intercâmbios. Ao contrário que os sionistas em 1947, Hamas nega-se a repartir uma terra que ela considera árabe. Ao contrário que Egipto e Jordânia, Hamas rechaça as mentiras politicamente correctas sobre a paz, e só oferece a Israel o que pode oferecer sem compremeter a sua conciência islâmica: uma trégua.
O assunto da embarcação Chipre-Gaza lembra o projecto “Exodus”. Racionalmente falando, a imigração judea ilegal foi pouco importante: os britânicos interceptavam a maioria dos botes e permitiam a alguns passar a Palestina a conta da quota de imigração. A imigração ilegal nunca foi um tema importante para os esquerdistas, mas depois do Holocausto aumentaram os seus esforços a fim de que os britânicos renunciassem ao seu Mandato, e que a ONU accedesse ao Estado judeu. Inclusso depois do Holocausto, a noção de um Estado judeu era excessiva para a comunidade internacional. Contrariamente aos habituais projectos de imigração clandestina, o Exodus de 1947 foi concebido desde o primeiro momento para que Grande Bretanha reagisse. A sua Armada, portanto, enfrentou-se com o barco de passageiros; as balas britânicas mataram treze judeus. Escoltados a França, os passageiros negaram-se a desembarcar, e os britânicos levaram-nos de volta a Alemanha, ao horro documentado nos mass média internacionais.
Os esquerdistas internacionais estruturaram a viagem de Chipre a Gaza, e o regresso, também como um evento mediático. De forma inusual para a imigração ilegal, o Exodus levava a bordo gente velha, mulheres grávidas e centos de crianças –para lograr um efecto máximo entre os mass média. Os de Gaza enviaram no bote a Chipre a personalidades amigas dos mass média, de maneira semelhante.
OBADIAH SHOHER
(5 Tishrei 5769 / 5 Outubro 2008)
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