OLMERT DESPIDE-SE GOLPEANDO


O Primeiro Ministro saínte, Ehud Olmert, nunca tem sido um apocado. E o passado luns, deixou claro que não tem intenção nenhuma de abandoar o cenário político de forma tranquila.

Num interview em Rosh Hashaná no jornal Yediot Aharonot, Olmert admitiu por vez primeira que está negociando assuntos cruziais com Síria e a facção dirigente de Fatah dentro da Autoridade Palestiniana (PA), comprometendo-se a que Israel evacue os Altos do Golám, dúzias de vizindários em Jerusalém e o Monte do Templo, assim como a totalidade, ou a quase totalidade, de Judea e Samária.

Olmert sinalou que ele é o primeiro Chefe de Gabinete em proclamar explicitamente o seu apoio à contracção geográfica de Israel às linhas do armistício de 1949. Sem dúvida, nenhum dos seus predecessores fora nunca tão explícito. E a sua pressumível sucessora no despacho -A Ministra de AAEE Tzipi Livni- apaga a sua voz cada vez que é perguntada sobre se acredita que Israel deveria entregar Jerusalém, os Altos e a totalidades de Judea e Samária.

A intenção de Olmert de acelerar a expansão de cesões territoriais que vem patrocinando, converte-o num caso único entre os Primeiros Ministros de Israel. Porém, o seu obstinado convencimento de que Israel não tem outra opção que a entrega de quase todas as terras conquistadas durante a Guerra dos Seis Dias tem sido o ponto de vista comum de cada Primeiro Ministro israeli, com a excepção de Binyamin Netanyahu, desde 1993. Yitzhak Rabin, Simon Peres, Ehud Barak e Ariel Sharon, deram o seu apoio a este ponto de vista. E, por certo, que todas as suas políticas durante a estância no posto foram nessa direcção.

A questão é: por que tem sido assim? Por que durante os últimos 15 anos, num determinado momento do seu mandato, cada Primeiro Ministro, agás Netanyahu, tem chegado à conclusão de que Israel deve devolver o território àqueles que se têm juramentado para a destruir?

Como Rabin, Peres, Barak e Sharon antes de eles, Olmert não emprega nenhum argumento racional para a entrega. Simplesmente diz que deve ser assim. E como os seus predecessores, Olmert utiliza três trucos retóricos para apoiar o seu aserto. Primeiro, recalca a exclussividade da sua posição como Primeiro Ministro. Olmert sabe que Israel deve render o seu território porque ele é Primeiro Ministro. Sharon exprimiu isto mais claramente quando dixo "O que se ve desde aqui, ti não o ves desde ali".

Segundo, Olmert e os seus predecessores -e a sua pressumível sucessora Livni- dizem que "todo o mundo sabe" que Israel se deve retirar. Quer dizer, que tes que ser completamente tolo se não estás dacordo comigo, porque qualquer pessoa no seu sano juízo está dacordo comigo.

Olmert exprimiu este, intelectualmente intimidante, aspecto o luns em referência aos Altos do Golám quando dixo, "Eu quero ver se há uma só pessoa no Estado de Israel que acredite que é possível fazer a paz com Síria sem ceder nos Altos do Golám".

Por último, Olmert e os seus predecessores -e pressumivelmente a sua sucessora- sustentam que é inevitável que Israel entregue todo o conquistado desde o armistício de 1949. E como é inevitável, deve fazer-se de imediato. Como afirmou Olmert -falando novamente dos Altos do Golám- "suponhamos que no próximo ou nos dois próximos anos há uma guerra na região e nos vemos involucrados numa confrontação militar com Síria...eu pergunto-me, que se passa depois de que lhes derrotemos? Antetudo, pagaríamos um preço (pela vitória) e seria lamentável. E depois de pagar o que tivessemos que pagar, que lhe diríamos? Falemos de novo? E que diriam os sírios? Falemos do Golám".

A afirmação de que um Primeiro Ministro sabe mais que a gente comum é certa. Mas nenhuma informação privilegiada no mundo é capaz de compensar a evidência empírica do que está à vista de todos. Seja certo ou não que Israel poida viver em paz com sírios e palestinianos sem necessidade de volver às fronteiras do armistício de 1949, o que é manifestamente certo é que nem os sírios nem os palestinianos têm interesse em viver em paz com Israel. O assunto de se Israel precisa entregar territórios para viver em paz é abslutamente irrelevante hoje em dia.

Tanto sírios como palestinianos sabem que Olmert -como os seus predecessores desde Rabin- deseja regressar às linhas de 1949 a câmbio de paz. E ainda conscentes disto, durante os últimos 15 anos, ambas sociedades têm gravitado no eixo iranião.

Hoje, mentres o Presidente sírio Bashar Assad mantém conversas indirectas sobre a rendição israeli dos Altos do Golám, desprega 25.000 soldados na sua fronteira com o norte do Líbano. Está reconstruíndo o seu programa nuclear com dinheiro iranião e assessoramento científico de Corea do Norte. Tem prometido aos iraniãos que seguirá proporcionando armas a Hizbulah e Hamas, e que as suas negociações com Olmert passarão pelo seu filtro.

Em quanto aos palestinianos, em cada etapa da sua relação com Israel durante os passados 15 anos, cada um dos seus líderes -sejam de Fatah, Hamas ou a Yihad Islâmica- têm sido categóricos no seu rechaço a aceitar o direito de Israel a existir. Ainda mais, na medida que concerne a Fatah, o conflito violento supunha-se que rematara em 1993. Naquela data, Yasser Arafat jurara que de então em adiante, todos os assuntos palestinianos respeito a Israel ressolveriam-se mediante negociações e que o terror seria perseguido, e não promovido.

Garantindo a rendição territorial incondicional a uns inimigos que não amosam nenhum interesse na paz, Olmert -ao igual que os seus predecessores- proclama, para além disso, que o risco subjazente à entrega do Golám, Jerusalém, Judea e Samária, é mínimo, porque Israel é muito forte. Tal e como o expõe Olmert, "somos mais fortes que eles. Digo-che, Israel é o país mais forte do Meio Leste. Podemos manter a raia a todos os nossos inimigos e derrotá-los".

Mas Olmert -como os seus predecessores- nega-se a ver que entregando os territórios que passamos a controlar em 1967 seremos muito mais débeis. E a nossa capazidade para impedir que os nossos inimigos se juntem e nos ataquem é muito escasa. Olmert ignora o facto de que foi a retirada israeli do Líbano em Maio do 2000 o que animou aos palestinianos a atacar-nos em Setembro do 2000. Ignora o facto de que a retirada de Gaza em 2005 levou a Hizbulah a atacar-nos em 2006. E ignora o facto de que o fracasso israeli na derrota de Hizbolah em 2006 levou a que Hamas se figesse com o controlo de Gaza em 2007. E, sobretudo, ignora o facto de que Hamas, Hizbulah e Síria estám controlados por Irão.

Em quanto a Irão, quando aparece o tema do programa de armas nucleares de Teherão, o mesmo líder que diz que podemos derrotar simultaneamente a todos os nossos inimigos, começa a cantar outra canção. Israel, "o país mais forte do Meio Leste". Tolea se pensa que se pode defender por sim só contra o seu mais formidável inimigo.

Para Olmert "parte da nossa exageração, do nosso poderio e da nossa carência de sentido da proporção acha-se em todo o relativo a Irão...A assumpção de que se os EEUU, Rússia e China, e a Grande Bretanha e Alemanha não sabem como lidiar com os iraniãos, mas nós, os israelis, sim sabemos: este é um exemplo de perda das proporções".

Portanto Olmert, como Sharon, Barak, Peres e Rabin antes de ele, tem a determinação de que a única estrategia que Israel pode seguir é a do derrotismo e a rendição. E ele -como os que o precederam- tem elaborado o seu cálculo estratégico ante a evidência empírica que amosam que qualquer que seja o custe de manter o status quo -o que actualmente é render-nos ante os nosso inimigos- o custe da rendição e o derrotismo, é a rendição e a derrota. Isto é, o custe para o país de permitir a sua rendição é superior ao custe de não fazê-lo ou subcontratar a nossa supervivência a potenças estrangeiras.

Se a percepção de que a única opção de Israel é rendir-se, não tem bases de evidência empírica, a que se devem essas afirmações de Olmert?

A resposta, desgraçadamente, está clara. Singelamente, a vida é mais fácil para os Primeiros Ministros, e muito melhor para os antigos da esquerda que os de direita.

Na consideração de Olmert de que as suas propostas sairão adiante, subjazem duas coisas. A primeira, que é consciente de que a leitura internacional soe ser mais generosa com os antigos dirigentes israelis que falam mal de Israel que com os que a defendem. Em segundo lugar, sabe que se alguma vez quere regressar à política, só será capaz de fazê-lo como dirigente da esquerda. As suas permanentes diatribas sobre a necessidade de capitulação de Israel serão-lhe de grande utilidade em ambos cenários.

Logo está o tema das preocupações legais de Olmert. Mentres as suas decisões políticas não diferam das dos seus predecessores, as circunstâncias nas que dimite serão análogas às que afrontou Ehud Barak.

Como Olmert, Barak abandoou o cárrego sob uma nuvem de acusações criminais. E nos seus últimos meses no posto, estragou todos os vestígios restantes de racionalidade estratégica aos sete ventos nas suas desesperadas negociações com Arafat. Apesar do facto de que o seu governo já colapsara, nem o Tribunal Supremo nem a Oficina do Fiscal Geral se atreveram a dizer-lhe que carecia do direito legal a ceder a soberania israeli sobre Jerusalém aos seus inimigos. E, como reconhecimento, à sua fidelidade ao post-sionismo, uma vez que Barak deixou o cárrego, todas as imputações criminais na sua contra foram arquivadas.

Ao igual que Barak, Olmert provavelmente não terá tempo suficiente de levar a bom porto todas as rendições nas que está implicado. Mas isso não significa que o seu proceder não seja perigoso para o país.

Os políticos de extrema esquerda e os seus compinches nos mass média afirmam que Olmert é valente ao falar de modo tão aberto como o faz. E isto é certo. Precisa-se muita valentia para meter o dedo no olho do público geral –que não apoia os teus pontos de vista.

As actuações e propostas de Olmert, que contradizem abertamente as promesas que fixo aos seus votantes em 2006, são uma bofetada no rosto do eleitorado israeli. Desgraçadamente, o público está afeito a este tipo de golpes, o público tem crecido entre este tipo de golpes. Rabin, Barak e Sharon foram eligidos apoiando-se em plataformas de linha dura. E todos eles abandoaram eses presupostos uma vez ressultaram eligidos. Este permanente traição tem levado a que o eleitorado se acomode no cinismo e a que se instale um sentido de impotença entre os cidadãos israelis. Este sentimento está exacerbado pelo facto de que Livni esteja trabalhando a destajo para impedir que se celebrem eleições que conduçam à formação de um novo Governo. Esta é a pura verdade, dado que ela deposita a sua legitimidade para governan na ridícula vitória que obteve numas lamentáveis primárias trufadas de acusações de corrupção.

Assim, ignorando a realidade básica dos câmbios estratégicos em Israel e falando de concessões irrelevantes a imaginários colegas em conversas de paz, como demonstrando o seu abjecto despreço pelo povo, Olmert está a causar-nos grandes perjuízos. Está reforçando a nossa crença de que não temos outra opção mais que eligir líderes embusteros que ignoram os nossos direitos e realidade. E esta é um perigoso engano. Porque a realidade é que não todos os líderes de Israel são uns derrotistas. Ainda quedam dirigentes que antepõem o país. Só que não são amigos de Olmert.



CAROLINE B. GLICK

(4 Tishrei 5769 / 4 Setembro 2008)

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