HANUKÁ ENTRE HELENISTAS


De todas as festividades judeas, a que opino que capta melhor a contemporânea zeitgeist [espírito do tempo] dos judeus, a mais relevante no actual (e, quem sabe se não último) capítulo da história judea, é a Hanuká.
Hanuká é, por suposto, o relato da libertação nacional judea. É a narração da vitória militar dos poucos sobre os muitos, dos campeões do judaísmo contra os bárbaros paganos.
Mas é muito mais que isso. É a saga da heróica luta dos resistentes (os que actualmente chamaríamos “sionistas”) contra os assimilacionistas e os helenistas que exerciam o auto-ódio no século II a.e.c.

Hanuká é menos um relato da batalha contra os gregos que sobre a batalha contra o paradigma do assimilacionismo predominante naquele tempo entre os judeus. Trata da batalha contra os ánti-resistentes, aqueles que se odiavam a sim próprios por serem judeus, aqueles que só queriam ser “progres”, “modernos” e “in”, a base de rechaçar, degradar-se e humilhar-se como povo. Os helenistas que combateram contra os Hasmoneus lutavam contra a supervivência do judaísmo. Soa-vos familiar?
Nos EEUU, a principal corrente do assimilacionismo helenista tem sido a escola do “judaísmo entendido como progressismo político”, essa pseudo-religião que sustenta que todo o judaísmo pode reduzir-se a estar ao dia na moda política progre. Mas a avangarda do auto-ódio judeu actual é, sem dúvida, a esquerda israeli.
A esquerda israeli é a principal manifestação do ánti-semitismo judeu.
Não só promove “planos” e políticas encaminhadas a rematar com a existência de Israel, propugnando de maneira progressiva a solução do Estado-único –binacional, como em Rwanda- ao “problema” da existência nacional de Israel, senão também atacando concienzudamente cada um dos símbolos e conceitos do judaísmo tradicional.

Pensades que exagero? Bem, considerade a Editorial de uns anos atrás no diário ánti-sionista israeli “Ha’aretz”, elaborada por um tal Yehiam Shorek, um “historiador” que dá aulas no Beit Berl College em Israel. Beit Berl é um centro dependente do movimento dos kibbutz.
O “historiador” Shorek adicou a sua coluna no “Ha’aretz” a tratar de provar que os Macabeus eram fascistas e razistas hooligans, zelotes sedentos de sangue, e Likudniks de extrema direita. A sua editorial intitulara-se “Zelotes sanguinários”. A sua tese era que os judeus deviam deixar de celebrar Hanuká e a revolta dos Macabeus, devendo sentir simpatia pelos maltratados gregos e helenistas. Aclaremos que o artigo não era uma brincadeira.

Os diabólicos Macabeus conspiravam para levar a cabo um “transfer” de populações, escrevia Shorek, o mais diabólico dos crimes segundo os fundamentalistas de esquerda israelis. Levar a cabo um transfer é muito pior, dizia, que massacrar 2.000 judeus tras assinar com eles uma série de acordos de paz, ou que devolver Gaza e o West Bank a uns selvagens fascistas para que perpetrem esse tipo de massacres. Shorek é membro dessa mesma esquerda fundamentalista que não descansará até que todos os judeus tenham sido expulsados do West Bank e Gaza -num evidente acto de limpeça étnica- e até que desapareça o último membro das IDF que poida interferir nas actividades terroristas dos “palestinianos”.

Matatias, o pai de Judas Macabeu e os seus irmãos, era um lunático, escreveu Shorek. Era um belicista que precipitou ao seu país numa inecessária guerra, uma guerra sem a legitimidade da “autodefesa” (pouco importa que o judaísmo não diga por ningures que os judeus devam evitar conquistar a sua terra agás se se trata de uma “guerra de autodefesa”). Os Macabeus eram os agressores, insistia Shorek. E suprimiram a liberdade de expressão dos que apoiavam aos gregos. Que ánti-democráticos!
Judas Macabeu foi culpável de provocar que muitas famílias perdessem aos seus bem amados conduzindo ao povo à guerra, seguia Shorek, em vez de alcançar uma espécie de Acordo de Paz de Oslo e a capitulação com os helenistas, a proposta que a “esquerda divina” propugna hoje para Israel. Tudo o que Judas Macabeu procurava, na realidade, era OCUPAR, OCUPAR, OCUPAR, insiste Shorek. Não muito distinto do que os colonos do West Bank actual! E não só isso, senão que Judas e os seus hooligans eram “judeus ortodoxos”, que como todo bom esquerdista sabe, os converte em primitivos e bárbaros; quer dizer, tudo o contrário que os iluminados historiadores marxistas que vivem em preciosos kibbutzs ou que ensinam no Beit Berl College.

Desgraçadamemnte, Shorek não é um fenômeno isolado. Os esquerdistas ánti-judeus israelis têm estado protagonizando yihads semelhantes contra qualquer símbolo de valor judeu. Massada foi obra dum grupo de fanáticos intolerantes, segundo eles. A Bíblia é um documento retrógrado cheio de invenções. As escolas deveriam deixar de ensinar esse tipo de coisas, exigem, e ensinar coisas verdadeiramente importantes e úteis, como a producção dos “poetas” palestinianos. A arqueologia demonstra que a Bíblia não é senão um cúmulo de mentiras e fantasia, insistem.

Em Israel, os políticos –especialmente a sua elite educativo/cultural e os charlatães que os arrodeam- estám claramente controlados por aqueles aos que move o desejo de que o país cometa um suicídio nacional. Despreçam-se a sim próprios, ao seu país e ao seu povo, da mesma maneira em que os judeus helenizados faziam na época dos Macabeus. Muitos apoiam os boicotes a Israel pelos ánti-semitas do estrangeiro. Como os judeus helenistas, estám convencidos de que os judeus tradicionais são reaccionários e primitivos, e que a maior prioridade nacional deveria ser renunciar às peculiaridades judeas e assimilar-nos com os progres cosmopolitas “gregos” do mundo. Avergonham-se da ser judeus e estám convencidos de que a única via para lograr a paz é renunciar a essa judeidade. Insistem em que uma narrativa “seleucida” reempraçará à nacional-reaccionária dos judeus.

As Universidades de Israel são os Territórios Ocupados destes Helenistas de novo cunho. Dos mass média israelis, praticamente, poderia-se dizer outro tanto.
Os helenistas controlam grande parte das IDF e, embora soe incrível, dos serviços de inteligência (é incomprensível que o país tivesse caído na debacle de Oslo se estes serviços de inteligência não estivessem operando como cães faldeiros da esquerda israeli).

Os helenistas têm intentado reescrever o curriculum escolar israeli, ensinar aos rapazes judeus israelis a despreçar-se a sim próprios. A sua mensagem é que os judeus devem sentir vergonha, porque são egoístas, diabólicos e imorais. Provavelmente não existiria ánti-semitismo no planeta de não ser porque os judeus são um povo tão razista e insensível.
O seu propósito é convencer aos judeus de que o único modo de ser aceitados no mundo é adaptar-se ao paganismo, deixar de querer existir como uma entidade nacional afastada, cometer um suicídio nacional. Ainda mais, a sua actividade enfoca-se a desafiar a existência moral dos judeus. Dam-se conta que esse é o resquício mais débil da fortaleza judea; se os judeus podem ser convencidos de que estám errados moralmente, daquela os Macabeus nunca surgirão de novo. O objectivo dos helenistas israelis é deslegitimar aos judeus como nação, desacreditando a posição moral da resistência judea.


A mensagem dos helenistas contemporâneos não é ambígua: Aqueles que pretendam purificar o Templo, que procurem óleo limpo para a lâmpara do Templo, que intentem expulsar aos bárbaros de Jerusalém, são os inimigos da Paz. Os Macabeus devem ser arrestados por incitação. Os judeus devem reforçar o arsenal de Antíoco com concessões e armas e dinheiro e uma Folha de Ruta. Baixo nenhuma circunstância os judeus devem intentar defender-se militarmente contra os Seleucidas, porque não há solução militar para o problema da agressão seleucida. Se os bárbaros assassinam judeus, é porque os judeus são diabólicos, gente egoísta e porque se têm empenhado em não abandoar o seu primitivo afám de resistência.
Se a esquerda ánti-judea israeli leva a água ao seu rego, a Era Post-Hasmonea, post-resistente, estará à volta da esquina.


STEVEN PLAUT


18 Kislev 5769 / 15 Dezembro 2008

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