O LIBELO DE SANGUE DO “HA’ARETZ”

No seu epónimo show matutino da BBC, escuitei boquiaberta como o jornalista Andrew Marr convidava ao portavoz de exteriores do Partido Conservador, William Hague, a manifestar o seu ponto de vista sobre os atrozes informes procedentes de Israel, segundo os quais, membros das IDF participantes no operativo de Gaza, asseguram ter recebido ordes de disparar contra população civil.

Hague replicou:

“Bem, não cabe dúvida de que se trata dum relato espeluznante. Nada há que objectar ao respeito. Aínda não sabemos toda a verdade. Mas penso que é muito importante que saia à luz. É evidente que agora tem que ser confirmado, por suposto, pela unidade de investigação do exército israeli; é é positivo que Israel assim o tenha previsto, investigar esses sucessos e chamar a capítulo a qualquer que tenha sido responsável de conduzir-se dessa forma. Mas devemos agardar…Creio que a comunidade internacional agarda que Israel proceda adequadamente com qualquer que tenha cometido esse tipo de crimes. Seria muito importante para Israel fazê-lo se pretende gozar de autoridade moral ante situações semelhantes no futuro. Estamos horrorizados e confiamos em que se tomem medidas”.

Hague, por suposto, cuidou-se muito de aclarar que a autenticidade dessas acusações aínda não está provada. É mais, não existe prova alguma. Aínda mais, singelamente não há nada que provar ou desmentir a partir desses informes derivados de conversas com soldados aparecidas em “Ha’aretz” a semana passada -aqui e aqui-, só insinuações, rumores e especulações, manifestamente (lêr o segundo dos informes) sacadas de contexto e tamizadas pelo patente prejuízo do instructor dos soldados Danny Zamir, um ultraesquerdista que já fora encarcerado com anterioridade por negar-se a dar protecção a uns colonos durante uma cirimônia religiosa, e que dixo que os soldados que participaram no encontro em questão [com “Ha’aretz”] reflexavam a atmósfera que se respira no exército de “despreço e aversão face os palestinianos”.

Mas, em que consistem esses informes aparentemente tão atrozes e esses relatos absolutamente espeluznantes?

Trata-se concretamente de duas acusações de assassinato gratuíto de civis palestinianos, baixo supostas ordes explícitas de fazê-lo. Uma é a que inclusso a própria “Ha’aretz” deixou de manifesto que se tratara duma morte accidental, quando duas mulheres não entenderam qual era a ruta de evacuação que os soldados israelis lhes deram, e a resultas do qual ficaram no ponto de mira dum francotirador. Para além do qual, o soldado que fixo a acusação admitiu a posterióri que ele não presenciara esse incidente –nem sequer estava em Gaza naquele momento- e que se limitara a comentar um rumor e a falar de ouvidas.

A segunda acusação basea-se num incidente pretendidamente real no transcurso do qual, quando uma anciana se aproximou a uma unidade das IDF, um oficial ordeou disparar contra ela porque rebasou a linha de alto e podia-se tratar dum atentado suicida. O soldado que contou esta história não aclarou se a mulher em questão chegou ser disparada ou não. Sem dúvida, e dado que na sua declaração diz “pela descripção do sucedido”, semelha que se trata novamente dum rumor. Para além disso, a sua versão foi negada por outro soldado que dixo:

“Supunha-se que ela não tinha que estar ali, porque havia anúncios e caiam bombas. A lógica diz que não tinha que estar ali. A forma em que tu o descreves, como um assassinato a sangue frio, não é certa”.

Bem, daquela estamos ante duas atrozidades não-atrozes. Que mais?

Os soldados queixam-se –em declarações duma incoerência próxima ao incomprensível- de que as instrucções de matar a todo aquele que permanecesse nos edifícios identificados como objectivos terroristas –depois de que as IDF tivessem advertido a todos os ocupantes que desalojassem- íam unidas a ordes de tirar a matar directamente. Não existe exército no mundo que não siga esse tipo de instrucções em circunstâncias semelhantes, num cenário que Hamas alardeava de ter sembrado de bombas.

Graffitis insultantes nas casas de presuntos terroristas.

Camisetas de mal gosto estampadas com motivos alentando ao crime –condeadas de imediato pelas IDF.

Rabinos distribuíndo aos soldados salmos e opiniões religiosas sobre o conflito.

Isso é tudo. Nem um só indício actualmente verificável de assassinato intencionado de civis. Nem uma prova, tão sequer, de incidentes deshonestos –por não falar de nenhuma orde das IDF que entre em conflito com as suas regras de actuação, que proíbem o ataque deliberado contra civis. O dito por um dos soldados, sobre que as Forças Aéreas Israelis mataram a muita gente ante os soldados, contradiz-se com o sinalado por outro que dixo:

“Lançaram panfletos de aviso sobre Gaza e pode que alguma vez disparassem um míssil desde algum helicóptero contra o voladizo dalguma casa, para que esta tremasse um pouco e se aínda ficava dentro alguém pudesse escapar. Este tipo de coisas são efectivas. As famílias saíam, e a infanteria entrava nas vivendas que estavam absolutamente vazias, quando menos de civis inocentes”.

Curiosa variante de comportamento militar pouco ético, que chega ao extremo de vaziar as casas de civis antes de assaltá-las. A deposição destes soldados contém muito mais material deste tipo, que contradiz totalmente a impressão de que se produzissem graves violações éticas. Como este:

“Sou sargento de secção numa companhia operativa da Brigada Paracaidista. Estávamos numa casa e descubrimos uma família no seu interior que se supunha que não devia já de estar ali. Agrupamo-los no sótano custotidados permanentemente por dois gardas assegurando-nos de que não nos causassem problemas. Pouco a pouco a distância emocional com eles foi-se resquebrajando –compartimos uns cigarrinhos com eles, também cafê, falámos sobre o significado da vida e os combates em Gaza. Tras falar longo e tendido, o dono da casa, um homem de mais de 70 anos, dixo que era positivo que estivéssemos em Gaza e que as IDF estivessem fazendo o que estavam fazendo”.

“Ao dia seguinte enviamos ao dono da casa e ao seu filho, um homem de 40 ou 50 anos, a serem interrogados. Um dia depois recebemos esta informação: soubemos que ambos eram activistas de Hamas. Dou-nos raiva –que nos estivessem contando o bom que era que estivéssemos ali para eles e brla, bla, bla, e depois inteiras-te de que nos estiveram mentindo todo o tempo.”

“O que mais me fastidiou foi que ao final, tras comprender que os membros desta família não eram precisamente uns bons amigos e que, mais bem, o que mereciam era que os sacássemos de ali, o meu comandante sugeriu que quando abandoássemos a vivenda, deveríamos deixá-lo tudo bem limpo, recolher a bassura em bolsas, varrer e limpar o chão, doblar as mantas que utilizáramos, apilar os colchões e voltar a ponhê-los sobre as camas”.

“Dias atrás, um Katyusha, um míssil Grad, caíra sobre Be’er Sheva e uma mulher e a sua criança ressultaram seriamente feridos. Eram vizinhos de um dos meus soldados. Escuitáramos tudo pela rádio, e ele não o estava levando demassiado bem –que os seus vizinhos ressultassem seriamente feridos. Assim que o tipo estava algo ansioso, o qual era comprensível. Dizer-lhe a uma pessoa nesse estado, ‘Vamos, freguemos o chão da casa dum activista de Hamas que tem lançado um Katyush aos teus vizinhos e lhes tem amputado as pernas’ , não resulta singelo, especialmente quando nem ti próprio estás dacordo. Quando o meu comandante dixo ‘OK, diga a todo o mundo que recolham os colchões e os apilem com as mantas?, não me ressultou fázil obedecer. Havia muito vozerio. Finalmente convencim-me e comprendim que era certamente o que cumpria fazer. Hoje sinto apreço por ele e admiro-o [ao seu comandante] pelo que fixo. A fim de contas, duvido que qualquer exército, o exército sírio, o exército afegano, fosse limpar o chão da casa dos seus inimigos e, sem dúvida, que não recolheriam os colhões e os colocariam sobre as camas”.

Isto é o que o instructor Danny Zamir descreveu como:

“Despreço e aversão face os palestinianos”.

Nemgum mass média fixo menção do anterior. Acreditades que Andrew Marr ou William Hague lêram essas declarações? Por favor... Todos limitaram-se a seleccionar e botar a correr com o frouxo e malicioso plato cuidadosamente cozinhado por “Ha’aretz”: rumores e faladurias sobre dois incidentes contados por dois soldados (um dos quais nem sequer esteve em Gaza) –um, sobre uma morte accidental, o outro pode que nem sequer com vítima alguma-, sumade-lhe algumas fanfarronadas de soldados, alguns graffitis desagradáveis, umas camisetas, e algumas octavinhas duns rabinos não identificados que continham afirmações que nada têm a ver com as IDF nem reflexam a política de Israel, em qualquer caso.

Nisso basea-se, sem embargo, a prova inquestionável para os que como Andrew Marr, William Hague, “The New York Times”, “The Guardian”, “The Independent”, a BBC e todos os demais afirmam que sim!! , que está provado (salvo que seja desprovado –e como desprovar algo para o que não existe prova alguma?) que Israel tem estado cometendo atrozidades, depois de tudo, em Gaza. Isto será o que fique sobre a sua autoridade moral, pendente sempre dum fio a resultas de todos os anteriores libelos de sangue, e o seu direito a existir.

Não se trata já de fanatismo. Entra mais bem no terreo da caza de bruxas medieval. E é global.



MELANIE PHILIPS


26 Adar 5769 / 22 de Março de 2009


[Fonte: The Spectator]



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