ESTADO PALESTINIANO DESMILITARIZADO?

“Não acredito na existência duma nação palestiniana. Existe uma nação árabe. Não existe uma nação palestiniana. Isso é um invento colonial. Desde quando estavam ali os palestinianos? Acredito que só existe a nação árabe. Até finais do século XIX, Palestina era a zona sur da Grande Síria”.



Se eu tivesse dito isso, teria sido tachado, sem dúvida, de nacionalista judeu, razista e, o pior de tudo, fóra da realidade. Porém, fixade-vos bem, estas palavras foram pronunciadas pelo antigo membro da Knesset o Dr. Azmi Bishara [dirigente do partido árabe-israeli Balad], numa entrevista com Yaron London há vários anos. Bishara é um dirigente dos cidadãos árabe-israelis que se identifica abertamente com os nossos inimigos, e que foi obrigado a abandoar Israel baixo suspeitas de ajudar a Hezbolá em tempo de guerra.


Quando Binyamin Netanyahu pronunciou o seu discurso de Bar-Ilan, poderia ter utilizado essas palavras. Teria podido quebrar a máscara de decepção que tem recoberto a terrível mentira histórica que se tem ido incrustando nos nossos corações como se tivesse sido gravada nas Táboas da Lei entregadas no Sinai. O de “Dois Estados para duas nações” tem-se convertido num dogma sagrado e qualquer que questione a sua validez é tachado de blasfemo.


Mas inclusso se assumimos que Netanyahu o que pretendia era falar em termos aceitáveis para Europa e os EEUU, mais que emprender uma desputa que considera perdida de antemão, teria sido melhor que evitasse enganar aos seus ouvintes com esse subterfúgio do “Estado desmilitarizado”.


Quando escuitei o discurso, a minha reacção inicial foi exclamar: “Não existe esse tipo de animal”. Por suposto, não me refiro a nano-Estados como o Vaticano ou Andorra, que têm escolhido livremente não se dotar dum exército. Não existe nenhum Estado no mundo que se defina como “Estado desmilitarizado”. E, não contento com o enganoso sintagma, Netanyahu avondou dizendo que esse “Estado” não teria mísseis, nem aviões, nem capazidade para asinar tratados.


Quanto mais escuitava e tratava de convencer-me de que nunca tem existido um Estado tal, foi um dos meus amigos e dixo-me que sim que existira um.


“Proibirá-se a Alemanha manter ou construir fortificações… neste território (Rhin occidental) …Alemanha terá proibido manter um exército…o exército alemão não constará de mais de sete divisões de infanteria…Fica proibido a Alemanha importar ou exportar tanques ou qualquer outro tipo de material militar pesado…As forças navais alemãs estarão limitadas e não incluirão submarinhos. As forças armadas de Alemanha carecerão de forças aéreas…No terreno político, Alemanha não poderá estabelecer tratado algum com Áustria”.


Isto foi escrito e rubricado no Tratado de Versalles. O Tratado foi asinado o 28 de Junho de 1919, como parte da Conferência de Paz de Paris que se celebrou tras a 1ª Guerra Mundial. Essencialmente, Alemanha passava a ser um Estado desmilitarizado e seriamente limitado desde uma perspectiva política.


Que se passou depois? Evitou o estátus de Estado “desmilitarizado” a 2ª Guerra Mundial e, ainda pior, a destrucção da judearia europeia?


Em 1922, um acordo entre Rússia e Alemanha foi asinado na cidade italiana de Rapallo.


O tratado estabeleceu-se à luz dos termos do Tratado de Versalles, mas a conferência que dou pê a ele foi secreta. E ali, a Rússia sociética e Alemanha acordaram o estabelecimento de fábricas conjuntas de armamento, gas velenhoso e munição. Os oficiais do exército alemão foram enviados a Rússia para serem formados na utilização de armas que foram proibidas em Alemanha. Em Alemanha, fábricas civis foram reconvertidas em fábricas de armamento, dado que foram financiadas por particulares, e não pelo Estado.


Quando escuito falar da extendida actividade dos judeus no entorno de Obama e das posturas ánti-israelis que estám adoptando, e do enfado da extrema esquerda israeli com o discurso de Netanyahu –por não ter exprimido a vontade de consentir no retorno dos refugiados árabes, a entrega de Jerusalém e o desmantelamento dos assentamentos, como pre-pago para poder negociar com os inimigos de Israel- lembro novamente o tratado de Rapallo. Foi o ministro de AAEE alemão, o judeu Walther Rathenau, quem maquinou o acordo que anos depois propiciaria à Alemanha názi a sua potente máquina de guerra. E foi Erhard Milch, filho de pai judeu, quem subverteu o Tratado de Versalles e, baixo o disfraz de companhias aeronáuticas civis e clubes de voo, estabeleceu Lufthansa –que durante a guerra se passou a chamar Lufftwaffe-, a força aérea alemã que em questão de semanas invadiu Polônia e França e arrasou Londres com os seus blitzs. O povo judeu pode confiar em que, se algum dia se chega a constituir um “Estado palestiniano demilitarizado”, alguns dos seus mais retorzidos filhos encarregarão-se de dotá-lo de armas.


A lição que devemos ter em conta é que nenhum poder político pode evitar que um Estado soberano faga o que queira fazer. Netanyahu sabe que se algum dia, D’us não o queira, se estabelece um Estado palestiniano, Israel não lhe poderá declarar a guerra se este asina, ponhamos por caso, um acordo de cooperação turístico com Chipre ou um tratado de intercâmbio de tecnologia com Iran. Se as tuberias são fabricadas em Tulkarm, Israel não se atreverá a iniciar uma guerra que a olhos da comunidade internacional justificaria que as tuberias de aceiro se reconvertessem em lanzadeiras de mísseis Kassam. Dado que ninguém mais que a própria Israel poderia preservar a desmilitarização, Netanyahu está enganando ao povo de Israel e prometendo algo que sabe que é impossível de ser levado a cabo.


Mas tudo o acima sinalado não é o mais importante. O fundamental é que Netanyahu tem reconhecido o direito dos árabes a estabelecer um Estado soberano no nosso fogar pátrio. Nenhuma das suas condições e reservas pode ocultar tamanhe abominação. Quem quer que reconheça o direito do seu inimigo a estabelecer um Estado dentro do seu território nacional tem renunciado a qualquer princípio, e o único que lhe resta é regatear sobre o prezo. Quem quer que tenha renegado da sua religião e cambiado de fê não pode exigir a observância dos mandamentos do que já não é a sua fê. Quem quer que renuncie ao seu património não tem já base na que se apoiar para continuar construíndo a sua nação.



ARYEH ELDAD


2 Tammuz 5769 / 24 Junho 2009


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