A demência é o único enfoque operativo nas relações internacionais. A demência em questão consiste numa decidida determinação de lograr os próprios objectivos sem dar importância aos custes, sejam os que sejam, e ignorando qualquer objecção. Este tipo de loucura é a própria de génios como Bismarck ou mediocres como Putin. A loucura consiste na sua negativa a negociar racionalmente através do toma-e-daca habitual; os líderes dementes não dam –e, desse modo, invariavelmente sempre ganham.
A gente racional preocupa-se mais da sua cerveja com patacas fritas que das ideias de âmbito nacional. O nacionalismo vitorioso sempre tem um ponto de loucura: desde os sicários em Canaan aos sionistas quase-messiânicos dos kibbutzim, também em Canaan. Outro nome que recebe este tipo de loucura é passião, e requere-se muita passião para prevalecer sobre inimigos que não querem a tua casa nem o teu dineiro, senão que actuam movidos pelo orgulho e a reclamação de soberania.
As potenças occidentais rendiram-se ante Ho Chi Min e Gromyko devido ao simples do seu enfoque: “não” a qualquer concessão. As nações prósperas não necessitam, na realidade, aquelas coisas pelas que negociam, chamem-se Viet-Nam do Sul ou missis balísticos em Turquia, e soem ceder quando se enfrontam com opositores implacáveis.
As guerras são irracionais. As potenças racionais não têm credibilidade em questões militares. Obviamente, devem negociar mais que combater. Inclusso quando combatem, não o fazem por nenhum motivo aparente e seguem patrões impredecíveis (e consequentemente terríveis), como em Iraq.
Os dirigentes desenfreados comprendem muito bem aos da sua própria calanha: Rússia lançou os tentáculos sobre Geórgia, mas não sobre Lituânia, porque Occidente não tivesse tido outra opção que reagir, embora fosse com sanções. A arte da loucura consiste em calcular o alcanço do farol que o outro está disposto a tolerar, e não se passar da raia.
A credibilidade reside na tolerância zero de infringir os interesses alheios. Em consequência, Rússia dá renda solta a Lituânia, mas não pode consentir o mesmo no caso de Geórgia porque Osétia do Sul e Abjázia são, de facto, províncias russas, uma esfera de interesse legítimo. Rússia pode tolerar que sejam nominalmente governadas por um regime amigo em Geórgia, mas não por um regime pro-estadounidense. O mesmo rege para Ucrânia: Rússia aceitaria que Crimea fosse parte de Ucrânia na medida em que Ucrânia esteja intimamente vinculada a Rússia (“Deixa que te leve a maleta, e ti leva-me a mim”).
A credibilidade de Israel está absolutamente destroçada pela sua passividade no tema dos ataques com os rockets: se uma panda de sémi-nómadas de Gaza podem emprendé-la a tiros contra Israel, daquela qualquer pode fazê-lo. É melhor reagir de modo desproporcionado e liquidar a um milheiro extra de inimigos que exibir a tua debilidade mediante a inacção.
A insensatez é uma estratégia muito segura para uma potença relativamente auto-suficiente: ninguém quere enfrontar-se com um governo enlouquecido, mas alguns quererão negociar com ele. Inclusso a demente actitude do Governo Alemão não provocou uma oposição internacional significativa até 1939, quando todos os países da Europa occidental se sentiram ameaçados. As potenças internacionais soem evitar a refrega com um governo desenfreado até que um perigo iminente e incontestável se lhes vem acima, e inclusso às vezes negam-se à evidência. Em muitas ocasiões, os EEUU traicionaram aos seus vasalos deixando-os em mãos de um inimigo demente: Viet-Nam do Sul e Geórgia são dois exemplos. Fixade-vos nos kurdos e os húngaros, cujas populações pediram ajuda aos EEUU, incitados à revolta por outros –e que ficaram abandoados. Doutra banda, os EEUU respaldam aos seus aliados quando os inmigos são racionais: os EEUU defenderam diplomaticamente a Egipto contra Israel-Grande Bretanha-França em 1956. Os governos racionais habitualmente perdem nos seus conflitos com os inimigos dementes porque, racionalmente falando, alguns territórios ou concessões -especialmente se se trata dos pertencentes aos aliados e não os próprios- não pagam a pena de se arriscar a uma confrontação militar de maior calado.
Israel conta com um exitoso historial de arrebato, definido como híper-reacção: os judeus capturaram reféns árabes para canjeá-los por mandos israelis, destruiram por completo a flota aérea civil do Líbano em repressália pelo sequestro de aviões israelis, e bombardearam Jordânia em resposta a ataques terroristas. Israel não aplicou a resposta demencial contra Egipto, e este país tem-nos estado tocando o nariz incesantemente mediante guerras de desgaste. Quando Israel afrouxou um pouco ao Líbano, as guerrilhas da OLP incrementaram os seus ataques, conduzindo-nos à guerra de 1980. Assim e tudo, a violência da OLP fora avondo moderada, em boa parte na espiral de enfrontamentos entre israelis e palestinianos onde a distinção entre ataque e contraataque tem rematado por evaporar-se. Em termos gerais, pois, a nossa reacção demencial sempre tem disuadido ao inimigo.
Embora a política da loucura supõe um contratempo no que se refere aos investimentos directos do estrangeiro, a sua magnitude é relativa. A corporações occidentais, grandes e pequenas, seguiram fazendo negócios com a Alemanha anterior a 1939 e a china comunista. Os inversores culminam negócios inclusso com Irão, apesar do singular deste regime e das sanções. Se Israel é capaz de criar uma economia internacionalmente competitiva, nenhuma dose de aventureirismo político poderá pôr em perigo o nosso desenvolvimento.
Mas não mencionamos ainda o olho por olho? É uma doutrina vítima de uma leitura errónea. O Legislador realmente queria dizer: a metade da vista do teu inimigo pela metade tua. Se os nossos inimigos muçulmãos são sessenta vezes mais numerosos que Israel, daquela devemos repressaliar a sessenta de eles por cada afectado israeli. Também os criminais são condeados de duas a cinco vezes pela quantidade de dano ocasionado, supostamente a fim de amortizar os seus crimes ainda não descobertos. Toda vez que resulta improvável que vaiamos a liquidar aos inimigos mais buscados cada vez que haja um combate, estamos legitimados para vingar o dano cinco vezes; cinco por sessenta são trescentas vezes.
Se bem é certo que temos o precedente de Josué bin Nun, que ofereceu aos inimigos a escolha entre exílio, rendição e extermínio. Ensinança plenamente aplicável hoje em dia.
OBADIAH SHOHER
(28 Elul 5768 / 28 Setembro 2008)
Etiquetas: Samson option
0 comentarios:
Enviar um comentário