Hamas acha-se no culmem da sua aceitação internacional. Pode que tarde uma semana, um mes, ou um ano, mas hoje em dia Hamas acha-se onde a OLP e Fatah estavam a finais dos anos 80. A este grupo, que pratica o terrorismo yihadista, só lhe resta ser convidado a visitar o Salão Oval da Casa Branca. Dois sucessos acaecidos esta semana corroboram o dito.
Primeiro, o passado sábado, “The Boston Globe” informava que Paul Volcker -conselheiro para a recuperação económica dentro da Administração Obama- e vários antigos cárregos da administração estadounidense vinham de remitir uma carta a Obama pedindo que os EEUU reconheçam a Hamas. Tal e como um dos asinantes, Brent Scowcroft, que fora conselheiro nacional de seguridade do Presidente George H. W. Bush, explicava: “Não acho razão alguma para que Hamas não seja um interlocutor válido”.
Scowcroft acrescentava: “O essencial é avançar decididamente no processo de paz palestiniano. Não o despraze ao final da sua agenda, dizendo que tem muitas outras coisas que fazer. Os EEUU precisam ter uma postura clara, não se sentar a agardar”.
Fontes do Congresso afirmam que Obama tem seleccionado a Scowcroft para re-empraçar a Chas Freeman como vozeiro no Conselho Nacional de Inteligência.
A segunda razão que faz evidente que a Administração Obama está decidida a reconhecer a Hamas, é que o joves o alto cárrego da inteligência egípcia, Omar Suleiman, entablou conversas no Departamento de Estado com a Secretária de Estado Hillary Clinton, e pediu encarecidamente que apoie o reestabelecimento dum Governo de unidade nacional Hamas/Fatah que reunifique e controle a Autoridade Palestiniana em Gaza e o West Bank.
Isto resulta significativo, dado que os altos cárregos da Administração só se reúnem com pessoas que lhes dizem o que eles querem ouvir.
Caso aparte é a viagem do Chefe do Mando Geral das IDF, o Tenente General Gabi Ashkenazi, esta semana a Washington. Ashkenazi acudiu a Washington a intercambiar informação sobre os progressos iranianos de cara a obter a sua bomba nuclear. O Secretário de Defesa, Robert Gates, e o homólogo de Ashkenazi, o Almirante Michael Mullen, arranjaram-se para “encontrar-se fóra da cidade”. Fontes do Ministério de Defesa sinalaram que Ashkenazi só se reuniu finalmente com o Conselheiro Nacional de Seguridade, James Jones, quem estava empenhado em querer falar tão só “sobre os palestinianos”, e com o assessor de Clinton para Iran, Dennis Ross, cujo papel na política dos EEUU face Iran não remata de estar claro.
Hamas, pela sua banda, prefere o reconhecimento incondicional recomendado por Scowcroft, Volcker e os seus colegas (que incluim aos conselheiros não oficiais de Obama, Zbigniew Brzezinski e Lee Hamilton), antes que a opção de formar um Governo com Fatah. Depois de tudo, por que haveria Hamas de aceitar compartir Governo com Fatah, a fim de ganhar aceitação internacional, se os poderes fácticos de Washington mais próximos à Administração, estám dispostos a brindar o seu reconhecimento incondicional ao grupo terrorista?
A afirmação de Scowcroft de que o reconhecimento de Hamas é necessário porque “[Obama] deve avançar decididamente no processo de paz palestiniano” é indicativo de como se situa o entorno do Presidente ante o processo de paz. Para eles, avançar decididamente no processo de paz é mais importante que determinar ou, tão sequer, preocupar-se por se os palestinianos implicados nesse processo são grupos terroristas genocidas ou não, e determinar, ou apenas preocupar-se, de se o chamado processo de paz tem a mais mínima possibilidade real de conduzir realmente à paz.
O ponto de vista de Obama não é especialmente novo. Tras a vitória de Hamas nas eleições palestinianas de 2006, e para fazilitar o processo de paz, os EEUU e a União Europeia, apresentaram certas condições a Hamas que deviam ser cumpridas antes de que Occidente accedesse a brindar-lhes o seu “reconhecimento”.
Os EEUU e Europa disseram que reconheceriam a Hamas se esta anunciava a sua renúncia ao terrorismo, aceitava o direito de Israel a existir, e se comprometia a continuar com os acordos previamente asinados entre a OLP e Israel. Os estadounidenses e os europeus calculavam, sem dúvida, que estas condições eram um listão muito baixo. A fim de contas, a OLP fora quem de superá-lo.
As condições de Occidente eram como dizer que “a bom entendedor poucas palavras bastam”, Todos entenderam que o único que se perseguia era que Hamas pronunciasse as palavras mágicas. Não tinham, nem sequer, porque ser inceras. Se Khaled Mashaal e Ismail Haniyeh simplesmente tivessem dito o que os EEUU eEuropa queriam ouvir, tudo teria sido perdoado. Hamas –como a OLP antes que eles- seria eliminada da lista de organizações terroristas. Milheiros de milhões de dólares iriam parar às contas bancárias dos dirigentes de Hamas em Gaza e Damasco. A CIA, inclusso, daria o visto bom a entrenar às milícias terroristas.
Resulta óbvio que tudo o que Occidente exigia era que Hamas mentisse publicamente –o mesmo que se lhe exigiu no seu dia à OLP. Depois de que Yasser Arafat pronunciasse as palavras mágicas, os EEUU e Europa estavam demassiado felizes como para preocupar-se pelo facto de que estiver mentindo.
Quando imediatamente depois de asinar o acordo inicial de paz com Israel na Casa Branca -13 de Setembro de 1993- Arafat foi a Sudáfrica e dou um discurso incitando à Yihad contra Israel, a ninguém lhe preocupou.
Quando Arafat desmantelou a prensa livre em Judea, Samaria e Gaza e transformou os mass media palestinianos em órgaos de propaganda incitando à erradicação de Israel e o povo judeu, o mundo bostezou.
Quando lançou a sua guerra terrorista contra Israel e os seus comandos entrenados pelos EEUU começaram a conspirar e pôr bombas contra os civis israelis, os EEUU reiteraram que o seu objectivo primordial era estabelecer um Estado palestiniano no Meio Leste.
E quando o sucessor de Arafat, Mahmoud Abbas, anunciou que Fatah não aceita o direito de Israel a existir, e considerou legítimo o terrorismo contra Israel, foi declarado como o único, indispensável e legítimo dirigente dos palestinianos. Aínda mais, quando as forças palestinianas entrenadas pelos EEUU se rendiram a Hamas em Gaza sem oferecer combate, os EEUU aprovaram uma ajuda adicional de 80 milhões de $ às milícias de Fatah.
O passado joves, o homem forte de Fatah –e favorito de Occidente- Muhammad Dahlan intentou dar lições a Hamas.
Numa entrevista na televisão da Autoridade Palestiniana, Dahlan converteu-se no primeiro oficial de alto rango de Fatah em admitir abertamente que a sua organização nunca aceitara o direito de Israel a existir. Dahlan negou os informes que indicam que, nas negociações para fechar um Governo de unidade Fatah/Hamas, os representantes de Fatah estariam pressionando a Hamas para reconhecer a Israel. Nas suas próprias palavras, “Quero dizer no meu nome e no dos meus companheiros de Fatah, que não estamos exigindo que Hamas reconheça o direito a existir de Israel. Mais bem, estamos pedindo a Hamas que não o faga nunca, porque Fatah também não reconheceu jamais o direito a existir de Israel”.
Dahlan continuou com a sua lição. Arafat era a cabeça visível da OLP, mas também de Fatah. Mentres que como portavoz da OLP reconhecia a Israel e chamava a rematar com o terrorismo e viver em paz com o Estado judeu, como cabeza de Fatah continuava a sua guerra contra Israel. Dahlan, inclusso, alardeou de que Fatah tem assassinado dez vezes mais palestinianos suspeitosos de colaborar com Israel que a própria Fatah.
Dahlan explicou que tudo o que Hamas tem que fazer é seguir o caminho de Fatah. O que vem significar que o governo da Autoridade Palestiniana aceita as condições de Occidente, mentres que essas condições seriam inaplicáveis a Hamas como “grupo resistente”. Nesse sentido, Dahlan afirmou, Hamas poderia receber milheiros de milhões procedentes de Occidente em conceito de ajuda económica.
Concretamente dixo, “Imaginades-vos que a reconstrucção de Gaza seria possível baixo a sombra da suspeita de discrepânciass entre a comunidade internacional e nós? A reconstrucção de Gaza só é possível contando com um Governo aceitável a olhos da comunidade internacional, de forma que podamos obter benefícios dessa comunidade”.
De forma nada surprendente, o manifestado por Dahlan apenas foi difundido. Só “The Jerusalem Post”, um par de publicações judeas, e uns quantos blogues ánti-yihadistas figeram-se eco do dito. Os mass media dos EEUU, Europa e aínda os hebreus partidários do “processo de paz” ignoraram-no. Nenhum portavoz governamental, de qualquer país do mundo, fixo comentário algum.
Sem embargo, desgraçadamente para Dahlan e os seus admiradores occidentais, Hamas não está interessada em unir-se à ficção de Fatah. Hamas nega-se a pronunciar as palavras mágicas. Assim que Occidente está procurando a forma de baixar aínda um pouco mais o seu listão.
O silêncio de Occidente antes as manifestações de Dahlan, assim como o seu crescente entusiasmo por negociar com Hamas –a pesar da indiferença de Hamas e a sua negativa a mentir respeito às suas intenções- revela-nos algo muito importante respeito ao que Occidente está fazendo, quando afirma que o seu principal interesse é avançar no chamado processo de paz: revela-nos o mesmo que o noviazgo apassionado de Occidente com Damasco e Teheran, quando fala de “avançar no processo de paz”.
O Presidente sírio Bashar Assad dixo esta semana no diário italiano “La Repubblica” que ele e o Primeiro Ministro saínte, Ehud Olmert, estiveram a um tiro de pedra de alcançar um acordo de paz durante o passado ano. A semana passada, Assad participou no que se presupõe que foi uma Conferência ánti-iraniana em Arábia Saudi.
Os gestos de Assad íam encaminhados a que os EEUU se sentissem a gosto mentres renovam as suas relações diplomáticas com Síria, e que assim pressionem sobre o tribunal da ONU que investiga o assassinato sírio do antigo Primeiro Ministro libanês Rafik Hariri, sobre Israel para que entregue os Altos do Golan, e que reconheçam a Hamas.
Igual que Arafat comprendeu que, tras pronunciar as palavras mágicas, Occidente fazeria ouvidos surdos à sua má conduta, assim Assad sabia que Washington e Paris não dariam importância quando, ao seu regresso de Riyad, anunciasse que as suas relações com Iran seguiam sendo boas. Sabia que nunca o questionariam pela sua falsa explicação das suas negociações indirectas com Israel. Ele e Olmert não puderam estar a tiro de pedra dum acordo de paz, pela singela razão de que Assad rechaçou ter qualquer tipo de contacto directo com Israel.
Se Damasco é o Estado que equivale à OLP, Teheran é o Estado que equivale a Hamas. Hoje, mentres os mulás se aproximam à linha de meta na carreira nuclear, a Administração Obama empenha-se em que a República Islâmica carece dum arsenal nuclear. Ao igual que com Hamas, com Teheran os norteamericanos têm renunciado inclusso a exigir um câmbio nas suas posições retóricas, como condição prévia para reconhecê-los no plano diplomático. Os EEUU perseguem a sua reconciliação diplomática com Iran, sabedores de que isso conduzirá à emergência de Iran como potença nuclear.
Portanto, a questão é: se os intentos de paz dos EEUU e Europa com Fatah, Hamas, Síria e Iran não têm logrado que estes modifiquem nem uma coma na sua conduta agressiva, de que estám falando os poderes occidentais quando afirmam que é “imperativo avançar no processo de paz” ou atrair a Síria e Iran? A fim de contas, os dirigentes de Occidente sabem que esses processos são umas farsas absolutas.
Tristemente, a explicação está clara. Os dirigentes occidentais não é a paz o que perseguem nestes processos. O que perseguem é o apaciguamento. Eles denominam a estes processo de apaciguamento “processo de paz” por duas razões. Primeiro, porque sabem que aos seus concidadãos não lhes gosta como soa a palavra “apaciguamento”. E, segundo, para presumir de serem os campiões no noble objectivo da paz nos nossos tempos, evitando poder ser acusados por ninguém, com o seu estúpido agir, de serem cúmplizes no belicismo do lobby sionista.
CAROLINE B. GLICK
23 Adar 5769 / 19 Março 2009-03-21
[Fonte: The Jerusalem Post]
Etiquetas: Glick
0 comentarios:
Enviar um comentário