O DIREITO DE INSURRECÇÃO



A gente não é idiota, como Alexander Hamilton a caracterizava. Pelo contrário, as populações são surprendentemente sensatas. Muitas aberrações ostensíveis são superficiais. Os russos suportaram a revolução socialista como a única alternativa imaginável à opressão monárquica, e suportaram o socialismo depois porque a propaganda os convenceu de que o capitalismo oferece menos oportunidades económicas. Uma vez que a barreira informativa caiu a mediados dos anos 50 –e, especialmente, nos 80- e os russos decataram-se que os americãos viviam muito melhor que eles, o comunismo estava sentenciado. Outro exemplo: os israelis não votaram por o Isaac Rabin que assinou os Acordos de Oslo, senão pelo Rabin que ordeou aos exército israeli partir as mãos e as pernas dos árabes durante a Intifada. Os israelis votaram por Begin (Sinai), Shamir (Madrid), Rabin (Oslo), Netanyahu (Wye River), Sharon (Gaza) que prometeram meter em cintura aos árabes, mas mentiram. Shimon Peres leva-se abertamente bem com os árabes e nunca teve apoio entre os judeus. Todas as enquisas indicam que os israelis pensam de maneira razoável: querem um Estado judeu livre de árabes e com fronteiras seguras, e opõem-se a um Estado palestinião.

Aos esquerdistas israelis, maioritariamente, molestam-lhes os árabes e liquidam-os gostosamente nas guerras. Ben Gurion amosou a 600.000 árabes a porta de saída de Israel em 1948. A esquerda, sem embargo, é racional: se não podemos expulsar aos árabes, teremos que coexistir com eles. Se Israel não pode anexionar Judea e Samária, é lógico entregar-lhas aos árabes. A esquerda maneja todas as premisas correctas agás uma: a fê e a visão superam as barreiras da política racional.

Ninguém procura um consenso popular sobre teorias científicas; a maioria não pode decidir que hipótese científica é a correcta. A política é una ciência não menos complexa que as demais; mais complexa, na actualidade, já que depende de aportações subjectivas de muitos actantes mais que de factos objectivamente observáveis, como as ciências naturais. Os políticos não podem enganar à gente respecto os fins, mas podem fazê-lo no que respecta aos meios. Os socialistas afirmam enganosamente que a ré-distribuição aumenta o bem-estar geral; os sem vergonhas políticos israelis dizem que ampliar as concessões trai a paz com determinados inimigos árabes.

As eleições democráticas elevam autócratas ao poder. Os políticos electos consideram-se livres de levar a cabo qualquer agenda, frequentemente as contrárias às promesas feitas ao eleitorado. Mas a gente vota por plataformas, não por pessoas. As plataformas eleitorais formam parte integral do mandato eleitoral. Os representantes electos, ao igual que os representantes dotados de um poder notarial, só estám autorizados a levar adiante os desejos expressamente manifestados pelos votantes. A Knesset debe emendar as leis electorais de forma que as papeletas não incluam só nomes, senão específicas promesas electorais que os políticos não possam estar autorizados a traicionar.

Churchill estava no certo: a democracia é um mal sistema de governo, mas os demais são piores. A Torá implica o governo democrático das comunidades judeas no mandamento “Não sigas à maioria ao inferno”. Pressuntamente noutras instâncias debe-se seguir à maioria. “Não sigas” não implica passividade. Quando a maioria resulta enganada fazendo-se-lhe acreditar que a homosexualidade é um valor liberal mais que algo abominável, ou que a destrucção de Gush Katif conduze à paz com os árabes, a resistência passiva torna-se em conformidade. “Não sigas” implica perseverar no status quo anterior, na boa senda. No exemplo anterior, o mandamento diz-nos que continuemos considerando a homosexualidade como uma perversidade, e Gush Katif território judeu do que cumpre expulsar aos árabes.

Ben Franklin proclamou a sua versão do regra do “Não sigas”: “A democracia são dois lobos e uma ovelha votando o que há para comer. A liberdade é uma ovelha bem armada impugnando a votação”. Essa é a essência da democracia republicana ou liberal: a gente submete-se ao parecer da maioria se não se infringem os valores mais preçados.

Se os infringem, temos que combater.



OBADIAH SHOHER

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