O Templo. Reconstrui-lo ou não? Os argumentos a favor são políticos, os argumentos em contra religiosos.
O Livro do Levítico enumera muitos ritos de duvidosa observância em quanto ao Templo. Era impossivel que os judeus se congregassem no Templo três vezes ao ano para as celebrações maiores: a viagem era muito longa. Visitar o Templo para sacrificar cada um dos animais era igual de impossível. As mulheres nos dias posteriores ao parto ou com menstruações algo fortes não poderiam emprender tão árdua viagem para realizar os sacrifícios. Os sacerdotes não podiam sacrificar milheiros, teoricamente inclusso, centos de milheiros de animais durante as celebrações.
Flávio Josefo cita a Hecataeo respeito ao tamanho original do Segundo Templo: 150 x 50 metros. Essa superfície não poderia acomodar a mais duns escassos milheiros de pessoas durante as celebrações. A escassez de espaço pode ser contra-argumentada de várias maneiras, especialmente se a gente accedia ao Templo por um curto período de tempo e, maioritariamente, permanecia fóra, mas o espaço, em todo caso, não possibilitava o movimento de vários centos de milheiros de crentes com os seus animais para sacrificar. A Mishna, escrita com uma memória viva do Segundo Templo, faz conjecturas sobre os ritos e os procedimentos do Sanedrim, mais que sobre a sua material facticidade.
O atributo principal da santidade do Templo, a Arca, esteve ausente desde o Segundo Templo, vaziando-o enormemente dessa santidade. O Templo foi repetidamente profanado, os sacerdotes eram daquela tão corruptos como os líderes rabínicos na actualidade, e é penosamente dificil de agardar que a presença divina descendesse entre aquela Santidade das Santidades. Custa-me imaginar a Deus sentindo-se atraído por uma menorah dourada patrocinada pelo magnate ucranião Rabinovich. Um elemento de santidade se perdeu. Ou não? A Bíblia descreve os judeus tão propensos ao paganismo como na actualidade ao ateísmo, os antigos governantes tão diabólicos como Shimon Peres, e os profetas tão escassos como decentes os rabinos hoje em dia. As leis da Torá mantêm-se vigentes, precisamente, porque as gentes de hoje permanecem num nível de moralidade semelhante ao dos seus ancestros. Herodes o Grande, como bom pagano, dificilmente imaginou o Templo como um lugar divino, mas investiu grandes esforços em embelezê-lo. Os judeus da Diáspora não mantiveram os sacrifícios, mas enviavam pontualmente meio shekel (ou mais) para o mantenimento do Templo.
O Templo é uma instituição política. Afirma o carácter judeu do Estado, limita a autoridade dos governantes seculares, e unifica a nação judea. Na realidade, não é significativo para os nossos propósitos se a Divina Presença se revelará, ou não, a um Sumo Sacerdote actual: seria suficiente com que existisse um Sumo Sacerdote. Israel apoia à esquerda porque não existe uma direita vissível; a maioria dos rabinos não são mais religiosos que o promédio dos membros da Knesset. O Templo, os sacrifícios, e o sacerdócio hereditário criariam uma enorme pressão sobre o espectro de direita na política israeli, compensando a influência dos Kadima, Paz Agora, Avodá e Histadrut. O Templo delimitaria a terra para os judeus: é dificil negociar sobre direitos civis para os árabes mentres o fume dos sacrifícios ascende pelo ceu. A construcção do Templo exigiria uma maior penetração nacionalista: arrassando as estruturas islâmicas do Monte do Templo. É complicado sentar-se a falar de paz com os árabes entregando-lhes Judea os os Altos do Golão depois de ter debastado a Aqsa.
O Templo uniria aos judeus. O legislador divino instaurou o sistema de sacrifício para responder ao mais profundo pulo do homem de obter a absolução das suas culpas. Os sacrifícios significavam o regresso do indivíduo à pureça moral: representemos, restituamos, traiamos sacrifícios –e cesemos de preocupar-nos pelas transgressões passadas. Não vos preocupedes pelas ovelhas: em vez de anhos comeremos vitela. Os sacrifícios convencerão aos judeus de que a absoluta pureça moral existe e que é factível lutar por ela.
O Templo subministraria-nos o sentido da continuiade judea, a conexão com as velhas raízes, das que as praias de Tel Aviv carezem totalmente. Os judeus da Diáspora uniriam-se formalmente com os israelis enviando contribuições anuais para o Templo. O mundo veria aos judeus novamente como uma extranha multidão religiosa mais que como colonizadores seculares de Palestina.
Israel necessita um partido político com um único objectivo: reconstruir o Templo. Os demais objectivos podem deducir-se a partir de esse. Deixemos que a Corte Suprema trate de ilegalizar o partido ou que os membros da Knesset nos submetam ao ostracismo.
Esqueçamos a religião. Reconstruamos o Templo.
OBADIAH SHOHER
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