O EXTREMISMO ENGENDRA EXTREMISMO


Com motivo da expulsão das famílias de Beit HaShalom em Hebron, durante uma entrevista com a BBC, fui perguntado pelos nossos planos de futuro. Quando respondim que a comunidade seguiria intentando adquirir propriedades em Hebron, o entrevistador perguntou, “Mas isso não provocará mais violência?”. E eu respostei, “Se eu comprar uma casa em Londres e se me dixesse que um judeu adquirindo propriedade ‘nessa parte da cidade’ provocaria uma reacção violenta, como julgaríamos essa admonição? Provavelmente como ántisemitismo e razismo. Por que, daquela, um judeu não pode adquirir propriedades em Hebron, de igual maneira que a gente adquire fogares em qualquer parte do mundo?”.

Outra pergunta muito repetida que tivem que respostar dos jornalistas foi, “Não opina que tudo isto está fóra de controlo?”. A minha resposta é muito simples: “Por suposto que está totalmente fóra de controlo. Mas essa não é a questão. A questão é QUEM está fóra de controlo?”. E, na minha opinião, os que têm perdido o controlo são as instituições democráticas que foram designadas para proteger aos cidadãos de dirigentes despóticos.

Seguindo com a adquisição de Beit HaShalom, por perto de 1 milhão de dólares, a comunidade de Hebron tem-se situado sob o ataque de numerosas frontes. Abruptamente a questão da legitimidade da nossa presença no edifício foi derivada aos tribunais. A decisão inicial dos tribunais apoiava de forma bastante firme a nossa reclamação de evitar a expulsão imediata. Porém, foram impostas severas restricções, incluíndo a denegação de instalar janelas e o abastecimento do suministro eléctrico municipal de Hebron. Só no meio duma descomunal treboada de neve o Ministério de Defesa accedeu à instalaçãod e janelas no edifício durante o passado inverno.
Dada a trascendência política do caso, achamo-nos de imediato enfrontados à comissão de Corte Suprema julgando os vários aspectos afectados. A comissão estava composta pela Presidenta da Corte Suprema, Dorit Beinisch, e os juízes Edmond Levy e Uzi Fogelman. Levy é religioso. Aproveitando um descanso na audiência da Corte, Beinisch cambiou a composição da comissão, sacando a Levy e Fogelman e reempraçando-os pelos juízes Ayala Procaccia –conhecido por ser um dos juízes mais ultraesquerdistas da Corte- e Salim Joubran –o único juíz árabe da Corte. Beinisch, devemos destacar, não é famosa pelas suas opiniões ideológicas de direita. Dois juízes de esquerda e um árabe, portanto, decidindo a sorte dos judeus residentes em Beit HaShalom. Se isso não é um cenário amanhado, nada o é. Assim o dixo o juíz retirado da Corte de Distrito, Uzi Struzman, qualificando a decisão final da Corte como ostensivelmente política.

Nessa decisão, a Corte determinava que não entrava a examinar as evidências apresentadas, incluíndo as provas de autenticação dos documentos legais de venda, um vídeo do vendedor recebendo e contando o dinheiro recebido pelo edifício, e uma gravação de áudio da sua descripção do trato e a recepção do dinheiro.

O Fiscal Geral, Menachem Mazuz, quanto se apresentaram as novas evidências no caso –concretamente a fita de áudio- negou-se a reunir-se com os advogados da comunidade ou examinar a devandita prova.

O Ministro de Defesa, Ehud Barak, anunciou só há duas semanas a sua intenção de legalizar todas as construcções ilegais dos beduínos no sul do país. Inclusso deu a orde de expulsar a todos os residentes do edifício, no meio de negociações a alto nível já muito avançadas, que teriam permitido evitar a brutal confrontação.

Estes são exemplos de nada menos que terror –terror administrativo, utilizado pelos escalafões mais altos das instituições democráticas do país para favorecer os seus próprios interesses políticos contra cidadãos leais ao Estado, neste caso residentes da comunidade judea de Hebron.
Tras a reacção violenta à extremadamente feroz expulsão –que incluiu o uso de gases lacrimôgenos e granadas paralisantes, fum perguntado pelas “linhas vermelhas” –e a decisão de cruzar as “linhas vermelhas”. Para desgraça nossa, na actualidade asistimos a situações onde o Governo está cruzando todas as linhas vermelhas que existiam com anterioridade. A transformação do sistema judicial –incluñindo o Fiscal Geral e a Corte Suprema- numa extensão articulada da luta política sepulta toda noção de imparcialidade ou objectividade.

Os residentes em Hebron frequentemente são etiquetados de extremistas. Sem embargo, nada resulta mais extremo que as acções acima descritas de Mazuz e Beinisch. Mas, devido à sua posição e ideologia política, o seu extremismo é considerado legítimo.

Sejamos claros. A comunidade judea de Hebron opõe-se e rechaça qualquer acto violento contra pessoas inocentes, sejam árabes, judeus ou qualquer outros. Porém, é impensável e intolerável que os máximos dirigentes de Israel podam cambiar as regras no meio do jogo agardando que a outra parte sega jogando com as velhas, mentres eles jogam com as novas. Esse tipo de acções, das que temos sido recentemente testigos, colocam inquestionavelmente a um grande segmento da população contra uma esquina sem saída, criando uma situação perigosamente imprevissível. A paz leva à paz, mas pelo mesmo, o extremismo engendra extremismo.

O autêntico perigo para a sociedade israeli não é uma dúzia de rapazes arrojando pedras mentres são violenta e ilegitimamente expulsados de uma casa em Hebron. A autêntica ameaça para o nosso país é a destrucção das instituições básicas, cujo motivo de ser se supõe que é proteger à gente mais que a aterrorizar. As decisões tomadas respeito a Beit HaShalom não estiveram baseadas na justiça, senão no puro terror judicial..


DAVID WILDER

12 Kislev 5769 / 9 Dezembro 2008

*Lembramos que David Wilder é portavoz oficial da comunidade judea de Hebron.

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