FALAR COM CLARIDADE

Tinha uns 20 anos, o rapaz que me perguntou tras a conferência. Não poderia ter feito a sua pregunta mais amável ou discretamente. Sem asomo de cinismo ou enfado, exprimiu o que estava claramente no pensamento de muita gente da sua idade no auditório: “Podes justificar um Estado judeu”, quixo saber, “quando ter um Estado judeu supõe ceder em tantos valores do judaísmo?”.


Velaqui o que não dixo: Israel é a raíz do mal no Meio Leste. É a causa dos pontos de controlo, dos controlos nas estradas, dum espantoso muro que discorre ao longo duma fronteira com a que ninguém está dacordo. Os palestinianos estám desesperados, e no balanço global de poderes não têm opções nem esperança. Israel é o matão nuclear numa região que, não sendo pela existência de Israel, há tempo que teria deixado de ser notícia de portadas. Para lograr a paz n Meio Leste, Israel deve ser submetida. Rompamos com a intransigência israeli e poderemos presenciar progressos.


Esse foi o seu discurso subliminal, que é coincidente com a posição da Administração Obama. Na recente Conferência Política da AIPAC, o Vicepresidente Joe Biden e o senador John Kerry deixaram claro que para que os EEUU apoiem a Israel no contencioso com Iran, Israel deve pôr fim ao problema palestiniano duma vez por todas. Tem sido amplamente divulgado que Rahm Emanuel, numa sessão a micrôfono fechado, dixo exactamente o mesmo. Tras décadas de acordo tácito sobre que os EEUU não abririam a boca ante a capazidade nuclear israeli, um dirigente do Departamento de Estado sugire publicamente que Israel deve asinar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, como se, em vésperas de que Iran consiga a bomba e com o armamento pakistani em sério perigo de cair em mãos dos talibães, a mais grave ameaça para o mundo for o arsenal nuclear de Israel.


Esta é a nova mensagem: Israel é o problema, e os EEUU já têm suportado demassiado.


Nem sequer o Papa foi quem de ajudar-se a sim próprio. Os seus comentários sobre as vítimas do Holocausto foram tão tíbios que se tornaram em indignantes; mas não teve problema para fazer um chamamento à imediata constituição dum Estado palestiniano, como se os israelis não tivessem já intentado criar um durante décadas.


Os jóvenes judeus estadounidenses presentes na minha intervenção, claramente situados contra a moraloidade dum Estado judeu, contam com a Administração Obama e com o Papa para que atendam os seus rezelos.


Não sou optimista sobre que este contexto vaia mudar em breve, mas ante o iminente encontro entre Binyamin Netanyahu e Barack Obama, com Israel como ponto cruzial novamente, proponheria o seguinte experimento intelectual –quando menos a esses jóvenes estadounidenses e, possivelmente, ao próprio Obama.


Imaginade que os israelis decidem que coincidindo com o Dia de Jerusalém, na semana entrante, aceitam asinar um acordo. E,em conseqüência, derrubamos a barreira de seguridade, retiramos todos os checkpoints, abrimos todas as estradas, e as rutas aéreas e marítimas com Gaza. Imaginade que também admitimos publicamente o regresso a algo semelhante ao que constituiam as fronteiras anteriores a 1967, e accedemos às exigências de que partes de Jerusalém sejam governadas internacionalmente ou, inclusso, postas baixo controlo palestiniano.


Reamatria isto com o conflito? Por suposto que não. A Carta Fundacional de Hamas não só exige a destrucção de Israel, senão a guerra islâmica contra os judeus doquer que estejam (Por que nos obcecamos em negar-nos a pensar que Hamas acredita no que dize?) Que cambiaria? Só o perímetro da soga. Os mísseis seriam lançados desde uma distância menor e a exigência de regresso dos refugiados (com o remate, por conseguinte, da judeidade do Estado) persistiria. Este foi o caso quando Israel abandoou o Líbano em Maio de 2000 ou Gaza no verão de 2005; os inimigos de Israel interpretariam-no como mera debilidade, e preparariam-se para a seguinte fase da sua guerra.


Mas a paz não chegaria. Com tudo o que desejamos que remate este conflito, realmente alguém o duvida? Não existe, como qualquer observador honesto admitirá, nada que Israel poida fazer para rematar este conflito.


Agora, sem embargo, intentade fazer o experimento intelectual ao revés. Imaginade que os palestinianos decidem que já estám fartos do conflito, ou que o seu eleitorado inícia uma rebelião pondo o acento num acordo. E que Hamas e Fatah, exigem que tudo aquilo ao que Israel estava disposta a acceder mais arriba –a fim do bloqueio e o muro, a apertura de Gaza, uma ponte ou um túbel entre Gaza e o West Bank e o regresso às fronteiras de 1967. Digamos que inclusso também pedem o controlo de Jerusalém Leste.


Mas que também reconhecem o direito de Israel a existir como Estado judeu. Que accedem a um imediato cesse permanente das hostilidades e a violência (trata-se duma hipótese só intelectual, a fim de contas) e estabelecem que qualquer ponto de desacordo será negociado e resolto com os EEUU e o Quarteto como intermediários. E que, por último, exigem que os israelis votem no prazo máximo de um mes se aceitam o acordo.


Haveria israelis que o objectassem? Haveria residentes do West Bank que se negariam a abandoar as suas casas? Sim, haveria-os. Mas num plebiscito convocado ao efecto não seria abrumadoramente aprovada essa proposta? Sem dúvida. Em questãod e semanas, ¾ de século de banho de sangue e sofrimento tocariam à sua fim.


Isto, por suposto, não vai suceder, a pesar de toda a nova retórica e confusão dos actuais jóvenes judeus norteamericanos, duma banda, e do facto de que sempre tem havido uma parte que procurou a paz e outra que sistematicamente a tem rechaçado. Foi assim em 1948, e foi assim em Jartum. E não é distinto hoje em dia.


Mas este simples experimento intelectual é interessante, não porque vaia ser implementado, senão porque trai à luz uma triste realidade espida em toda a sua crueza. Os jóvenes judeus dos EEUU deveriam tomar boa nota: não está na mão de Israel rematar com o conflito. Só pode debilitar-se mais e mais, mas o único modo de que chegue a paz à região é cerrar essa via.


Se estes “amantes da paz” insistem nela, comprovaremos muito cedo a sua inutilidade, com aterradora claridade.



DANIEL GORDIS


14 Maio 2009


Fonte: THE JERUSALEM POST

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