Estamos cansos. Cansos de viver num Estado judeu que condea os judeus por disparar contra árabes em defesa própria, e que sentência judeus a anos de cárcere por debuxar caricaturas de Mahoma. Cansos de escuitar intermináveis racionalizações do pulo suicida, o processo de paz, os mantras da coexistência pacífica a pesar de todas as evidências da implacável hostilidade dos árabes. Cansos de panegíricos de democrática cegueira étnica e de subsidiar árabes e eslavos para que se reproduçam até constituir a maioria no Estado judeu. Cansos de combater o Estado totalitário israeli alabado por milhões de gentes de boa vontade como baluarte da democracia (baluarte sim, democrático não). Cansos de padecer processos baixo acusações políticas, e frequentemente sem cárrego nenhum, mentres outros judeus vivem a sua vida despreocupadamente. Cansos de viver num Estado judeu que investe mais nos árabes ou os kibbutzim que nos religiosos judeus –embora culpem a estes pelo déficit. Cansos de ver o Estado que tanto anelamos durante dois milênios indo-se a pique.
Os Estados totalitários não são susceptíveis de reforma. Tras os “democráticos” anos 90 em Rússia, a KGB retomou o poder. Os Estados totalitários têm que ser destruídos e depois possivelmente ré-construídos. Israel conta com todos os atributos dum aparelho de seguridade totalitariamente dominante, dotado duma só família política –de esquerdas-, um governo e um controlo oligárquico sobre a economia, lavado de cerebros na escola e nos meios de comunicação, e tribunais com prejuízos. Seria precisa uma revolução radical, empapada com o sangue dos árabes e os esquerdistas judeus, para pôr ponto final ao Estado ánti-semita de Israel. Para que? Para levar uma vida ultraortodoxa com os ortodoxos por riba de até as mais irrelevantes das normas? Para trocar o esquerdismo pela hipocresia religiosa? Para ter desacreditados rabinos dum lado ao outro do país e um fato de ultraortodoxos crendo ser uma casta privilegiada de modernos Levitas? Para conceder aos rabinos o prazer de serem os vicários de Deus e que proclamem um montão mais das suas irrelevantes normas? Não, muito obrigado. Não merecem o sangue dos bons judeus.
Não podemos transformar Israel -atestada de esquerdistas, judeus por via dos seus bisavós, e árabes- num Estado judeu. A maioria pode chegar a aceitar um Estado forte, nacionalista, mas não um Estado judeu, pela singela razão de haver escasíssimos judeus comprometidos ao seu arredor. Necessitamos o Estado de Judea. Não podemos forjá-lo a partir da totalitária Israel, e portanto é inclusso preferível que Israel entregue os assentamentos ao Estado palestinião. Construiremos Judea a partir de Palestina.
Simplesmente queremos que nos deixem em paz. Educar às nossas crianças como nós consideremos correcto. Observar a religião como entendamos adequado. Estabelecer as nossas próprias normas sobre bem estar, gays, árabes. Proibir a pertença a Paz Agora durante quatro gerações. O que seja.
O estrato judeu difere em muitos aspectos. Os ortodoxos, conservadores e reformistas nunca se ponherão dacordo. O reformismo é judaísmo para alguns, e ateísmo para outros. O esquerdismo é ánti-semitismo para alguns, uma política moral viável para outros. Alguns exigem conviver com os árabes, outros desdenhá-los. Trata-se de valores. Não existe consenso possível –e não é necessário. Os judeus viveram historicamente em comunidades isoladas. Os Fariseus não se mesclavam com os Caraítas e, inclusso, várias sectas Hasídicas despreçam-se entre sim. Israel, ao igual que outros Estados-nação, quer impôr a sua vontade em todas as matérias até o mais mínimo detalhe. Algo injustificável. O Governo só deveria intervir nos assuntos que as comunidades não possam atender. A educação, a admisão ou exclusão de árabes, a violação pública dos Mandamentos, devem ser reguladas a nível comunitário mais que a nível nacional. Algumas comunidades excluirão aos árabes e observarão o Sabat; outras darão a benvinda aos gays e às barbacoas de porco em Sabat. Não existe nenhuma razão legal para obrigar à uniformidade moral.
Judea não seria um Estado ultraortodoxo. Os princípios básicos incluiriam severas limitações na admisão dos não-judeus e na inviolabilidade das fronteiras. Para além disso, as comunidades de Judea teriam liberdade para impôr as suas próprias regras de observância religiosa, obrigatórias para os membros da comunidade. As comunidades poderiam abarcar desde os anarquistas até os ultraortodoxos, com a mais ampla gama de pontos de vista pelo meio. Os limites da cidade protegeriam a cada comunidade da conduta culturalmente ofensiva dos forâneos.
É tudo quanto exigimos: que nos deixem em paz. Continuade com o vosso Estado socialista se queredes, simplesmente deixade-nos viver como queiramos. Trabalhar as nossas hortas, educar os nossos filhos, disfrutar da nossa comunidade. Nem sequer queremos votar: eligide os Olmerts para vós. Aceitamos qualquer jurisdicção: entregade os nossos municípios aos palestiniãos e viveremos como dhimmis baixo Abu Mazen. A grande Israel esquerdista ou a Grande Palestina islâmica dá-nos igual.
Deixade-nos em paz.
OBADIAH SHOHER
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