Amanhã, Sabat, cumprirão-se dez anos. Dez anos atrás, uma quinta, a véspera do primeiro dia do último mes do calendário hebreu, Ma’arat HaMachpela, a tumba dos Patriarcas e Matriarcas foi aberta na sua totalidade para a oração dos judeus. Pela tarde o rabino Ovadia Yosef chegou a Hebron, a primeira vez que visitava a cidade e o lugar sagrado tras muitos anos. Arredor das 11:00 p.m., segundo concluia de falar aos centos de congregados os móveis começaram soar. Um terrorista infiltrara-se no vizindário judeu de Tel Rumeida. Imediatamente Ma’arat HaMachpela ficou vazia e os residentes de Hebron emprenderam caminho face Tel Rumeida. Os detalhes começavam a chegar: a vítima fora o Rabino Shlomo Ra’anan, de 63 anos e neto do primeiro Rabino Chefe de Israel, Rav Avraham Yitzhak HaCohen Kook. O terrorista acoitelara-o. Correndo de caminho desde a Ma’ara em direcção ao vizindário chamei a um amigo, vizinho dos Ra’anans e também paramédico. “Como se acha?” perguntei. David contestou-me, com uma voz apenas audível: “Não houvo nada que pudessemos fazer, não pudemos fazer nada para salvá-lo. Morreu”.
Os soldados ao pé da colina que precede Tal Rumeida intentavam evitar que subíramos, mas eu não estava disposto a atender as suas demandas. Correndo, cruzando a rua, escabulhim-me dos seus agarrões e subim até a cima. Segundo cheguei, a Rebbetzim Chaya Ra’anan, viúva do Rav Shlomo, era introduzida numa ambulância. Não estava claro se também ressultara ferida, mas sem dúvida se achava sob o shock.
No interior do vizindário cheirava a lume recém extinguido. O terrorista, procurando a massacre, arrojara um cóctel molotov no interior do fogar-caravana, agardando que o consumissem as lapas. Afortunadamente os vizinhos foram quem de o extinguir antes que se propagar a outras caravanas. A Rabbetzin Chaya intentara sacar ao seu marido, ferido já de morte, antes que as chamas arrasassem o comedor. Só minutos antes estivera envolvida numa luita feroz com o terrorista, com o seu fatalemente ferido marido no meio, saíndo empurrada por ambos os dois. O terrorista portava um coitelo e apunhalou à vítima repetidas vezes no coração, assassinando-o. Logo saltou por uma janela e correu atravesando a rua, apenas uns metros, refugiando-se na zona baixo controlo árabe de Hebron, entregada à Autoridade Palestiniã apenas um ano antes. Dacordo com os Acordos de Hebron, as forças de seguridade israelis têm proibido entrar nesse área nem para perseguir delinquentes. A resultas disso, o mesmo terrorista perpetrou um segundo ataque em Yom Kippur, umas seis semanas depois, ferindo uns vinte soldados. Também não detido dessa vez, semanas depois trasladou-se a Beer Sheva, com intenção de arrojar algumas granadas de mão no interior da estação de autobuses da cidade. Só então puido ser detido e conduzido a prisão.
O rabino morto jazia no chão junto à sua casa, coberto com uma manta. Um pouco depois foi metido numa casa, e o seu cadavre arrodeado de velas. Passei a noite na oficina olhando uma foto que lhe figera não muito tempo atrás. Â manhá seguinte o funeral começou em Tel Rumeida e rematou em Jerusalém, onde foi soterrado em Har HaZaytim –o Monte dos Olivos, próximo aos seus ilustres avó e tio, os Rabinos Avraham Yithzak HaCohen Kook, e Zvi Yehuda Kook.
A minha reacção foi quase instantânea: eu estava daquela negociando por um apartamento vazio em Hebron. Não houvo nada mais que negociar, nem mais perguntas: uma semana depois a minha família transladou-se de Kiryat Arba, onde vivíramos 17 anos, a Beit Hadassah. Eu estivera trabalhando aquí quatro anos, assim que era em certo modo uma clausura. Sentim que regressava a casa.
Por que? Muito simples: os terroristas utilizam o assassinato e outras formas de violência como um intento de obrigar-nos a marchar. A única reacção adequada é fazer o contrário; não marchar, senão nos aproximar mais. Isso foi exactamente o que figemos.
Ontem, celebrando o 10º aniversário do assassinato do Rabino, um nutrido grupo de gente congregou-se no Centro Gutnick, no exterior da Ma’arat HaMachpela. Só uns metros além, milheiros estavam visitando o lugar sagrado; sendo a véspera do novo mes de Elul, o edifício inteiro estava aberto aos fideis judeus. Exactamente como aquele fatídico joves de dez anos atrás.
Durante umas horas vários importantes Rabinos entregaram palavras de conforte e palavras da Torá aos presentes, incluíndo os membros das famílias Kook-Ra’anan-Shlissel, e muitos outros que vinheram a apresentar os seus respeitos ao Rabino e família. Os oradores incluiram ao Rabino Eliezer Waldman, Rosh Yeshiva da Yeshiva de Kiryat Arba, o Rabino Hananel Etrog, Rosh Yeshiva da Yeshiva Shavei de Hebron, em Beit Romano –Hebron-, o Rabino Doron Avichzar, Deám da Academia Netivot Dror Torá na comunidade de Telem, e Noam Arnon, que disertou sobre a conexão entre o Rabino Kook e Hebron.
Sem embargo, o orador mais importante , na minha opinião, foi Michael Hershlovitz, Rabino da comunidade Neria da região de Binyamin, e mestre na Yeshiva Merkaz HaRav de Jerusalém. O tema da sua dvar Torá foi absolutamente adequado: o ensino da Torá é importante, mas não menos importante é obrar, implementar o que aprendes. Falou em profundidade descrevendo como o Rabino Shlomo Ra’anan fixo precisamente isto: viver numa caravana na comunidade Hadar Adar e procurando isso, transladar-se a outra caravana no vizindário de Tel Rumeida, em Hebron.
Durante anos o Rabino estudou e encheu de sentido o assentamento na terra de Israel, Eretz Yisrael. Mas percebindo que as palavras não são suficiente continuou a senda das ensinanzas do seu avó e tio, não só falando senão fazendo. Isto é a Torá.
Não é fázil viver em fogares-caravana. Tel Rumeida, dalguma maneira isolada dos demais vizindários de Hebron, não é o lugar mais prázido para viver. Cada manhá, chova, neve ou brilhe o sol, o Rabino baixava a colina para orar com os mais madrugadores, um grupo de dez homens. Cada dia transladava-se e regressava da Yeshiva de Merkaz HaRav em Jerusalém, onde participava no estudo da Torá e na instrucção. Nada singelo para um homem entrado nos sesenta anos. Mas o Rabino sempre tinha um sorriso no rosto, e conhecia a todos os rapazes de Hebron pelo seu nome, sempre presto a ajudar, com uma personalidade afável, que conciliava humildemente com o seu génio para a Torá.
Concluíndo as suas observações, o Rabino Hershovitz acrescentou, “Rabino Shlomo, quero que saibas, inclusso a pesar de que provavelmente saibas de onde ti es, que a tua extensa família tem continuado as tuas pegadas, seguindo o teu exemplo de Torá e feitos, assentando-se na terra, Eretz Yisrael, como ti figeste”.
A Rebbetzin Chaya, sentada com a sua irmá Tzippy –ambas vivem hoje em Tel Rumeida- a escasos metros de onde fora assassinado o Rabino, a pesar da dor, não puido senão sorrir, sabendo que a senda que tomaram ela e o seu marido está a ser continuada pela sua prole.
A presença do Rabino puido sentir-se firmemente entre os participantes, que sem embargo sentem ainda a dor da sua morte e o vazio que o seu assassinato deixou, para a sua família, para os seus amigos e vizinhos, e para todo Am Yisrael.
Zechar Tzadik l’vracha – HaShem Yikom Damo.
DAVID WILDER
(29 Av 5768 / 30 Agosto 2008)
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