Noam Chomsky foi entrevistado na edição do Verão de 2004 da revista Heeb.
Heeb — E os recentes incidentes na Europa e no mundo árabe? É necessário fazer grandes acrobacias de lógica para afirmar que não são incidentes antissemitas…
Chomsky — Na Europa existe uma larga população muçulmana, e grande parte dela é conduzida ao islamismo fundamentalista. Demonstram ódio em relação aos judeus que é um reflexo das acções israelitas. Quer dizer, se alguém conduz uma brutal e malévola ocupação militar durante 35 anos… isso tem de ter consequências. Por vezes as consequências podem ser bastante feias e, entre elas, contam-se o incendiar de sinagogas em França. Sim, é antissemitismo, mas Israel insiste. Recorde-se que Israel não se intitula o país dos seus cidadãos. O Supremo Tribunal de Israel decretou à 40 anos que Israel é o Estado soberano do povo judeu, em Israel e na diáspora.
Na verdade, como o Estado judaico se auto-proclamou a pátria de todos os judeus, dentro das suas fronteira e na diáspora, para os judeus da diáspora tudo o que não seja a denúncia disto enquanto uma usurpação dos seus direitos pessoais, dos seus direitos enquanto cidadãos indiferenciados, é equivalente à aprovação do que o senhor Chomsky encara como uma aventura criminosa (o Estado de Israel). O senhor Chomsky, ele próprio um judeu, não reconhece a Israel o direito de existir; reconhece, no entanto, como moralmente vinculativos os pronunciamentos deste Estado fantasma. Vinculativos sobre quem? Sobre os membros do grupo religioso predominante nesse Estado.
Estes judeus da diáspora, é preciso notar, residem em países cujo direito à existência o senhor Chomsky reconhece. Por exemplo a França.
A França, enquanto nação soberana tem, então, o direito, que Israel não pode ter, de proteger os seus cidadãos. Este direito, no entanto, e na visão do senhor Chomsky, não é extensível aos judeus franceses — uma vez que o seu direito de viver em paz terá sido, de alguma forma, anulado pelas acções de outro Estado.
Vário países muçulmanos, como a Síria e os palestinianos, têm, como substância de religião e de doutrina política, expressado a sua intenção de destruir os judeus israelitas. Esta intenção não é uma adenda de uma disputa territorial, mas uma componente essencial do seu regime — este ódio não pode ser mitigado por concessões, negociações ou sequer por capitulação; pode apenas ser assegurado pelo sangue.
O senhor Chomsky parece não objectar a estes incitamentos ao genocídio, nem alarga ele o mesmo padrão de culpa extraterritorial à diáspora muçulmana.
Os Estados Unidos, no rescaldo do 11 de Setembro, têm tomado providências (podem ser insuficientes mas são matéria de política nacional) no sentido de proteger os direitos dos árabes-americanos, não vá uma população ignorante e assustada voltar-se contra inocentes por causa de meros laços de raça ou religião com os criminosos.
Esta parece ser a mais básica operação de justiça e humanidade — apoiar a vingança contra inocentes com base em raça ou religião é visto aqui simplesmente como uma criminosa obscenidade. O senhor Chomsky, no entanto, acha por bem compreender e aplaudir acções deste género, desde que elas tenham judeus como alvo.
Isto é antissemitismo — é ódio racial e incitamento ao assassínio.
É uma vergonha que o senhor Chomsky utilize uma capa de respeitabilidade, que ocupe a posição de “intelectual” e que continue a confundir e perverter os jovens com esta nojice. Tolerar esta vergonha é parte do preço de viver numa sociedade livre.
Israel é uma sociedade livre. Os direitos das suas minorias, dos seu oprimidos e mesmo dos seus criminosos estão protegidos. O senhor Chomsky seria livre de pronunciar estas baboseiras em Israel, tal como o é nos Estados Unidos.
Se ele se mudasse para um país do mundo árabe, seria perseguido pelo simples facto de ser judeu (tal como o poderia ser também em França).
E se ele fosse perseguido, Deus queira que não, poderia refugiar-se em Israel, ao abrigo da Lei do Retorno.
É isto que Israel representa para mim.
DAVID MAMET
(Maio de 2008)
Aparecido originariamente no blogue de Nuno Guerreiro (http://ruadajudiaria.com)
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