O DECLIVE DO LABORISMO

O facto mais destacável das eleições de 2009 foi o surgimento dum mapa político onde os três partidos mais grandes na Knesset são o Likud (27 assentos) e dois dos seus derivados: Kadima (28) e Israel Beiteinu (15). Setenta escanos foram parar a partidos dirigidos por políticos ou antigos dirigentes do Likud, mentres uma diáfana maioria de 65 assentos pertencem ao bloco de direita. Isto é o que converte a Binyamin Netanyahu no ganhador das eleições e no candidato a ser Primeiro Ministro.


Muitos votantes de esquerda, que queriam evitar o trunfo do demonizado Netanyahu, outorgaram o seu voto à centrista Kadima antes que apoiar ao Laborismo. O outrora partido hegemónico no sistema político israeli –o Partido Laborista Israeli- rematou as eleições de 2009 como 4ª força, com uns exíguos 13 assentos na Knesset. Ao Meretz, à esquerda do Laborismo, ainda lhe foi pior: logrando apenas 3 escanos.


O zeit geist [espírito dos tempos] em Israel é claramente conservador. Leva sendo assim desde há muito. As eleições de 2009 têm ratificado a culminação dum processo histórico de declive, iniciado com o grande trauma político de 1977 quando o Laborismo perdeu as eleições com o Likud por vez primeira. Isto anunciou a descomposição gradual –e a eventual marginalização- do Partido Laborista.


A razão principal disto é o facto de que o Laborismo tenha perdido o seu principal atractivo político: a identificação com o estabelecimento e a construcção do Estado de Israel. As duas principais actividades nesse esforço –o serviço militar e o assentamento na Terra de Israel- foram gradualmente abandoadas pelo Laborismo e os seus simpatizantes.


Houvo um tempo em que os membros dos kibbutz estavam desproporcionadamente representados nos escalafões dirigentes das IDF. Isso já é história passada. A composição social da oficialidade das forças de terra em 2009 vem sendo a prototípica dos últimos anos: o 19 % dos graduados definem-se como ortodoxos. Um veterano oficial definiu-nos como “os novos kibbutzniks”.


De maneira semelhante, a intensa actividade colonizadora sob a guia de Governos dirigidos pelo Laborismo rematou praticamente em 1977, deixando os assentamentos na (e para além da) Linha Verde nas mãos doutros elementos da sociedade israeli.


A militar segue a ser a instituição mais respeitada em Israel. Uma maioria de israelis, embora preparados para ter que repartir Israel, seguem contemplando a colonização da Terra de Israel como um importantíssimo valor sionista. O Laborismo permitiu de forma absurda que os ortodoxos e os círculos da direita adoptassem e passassem a representar os mais importantes símbolos nacionais –que uma vez estiveram associados claramente com o partido que fundou o Estado.


Outro símbolo capital abandoado pelo Laborismo é o de Jerusalém, reunificada em 1967 baixo o mandato laborista. As passadas eleições do 10 de Fevereiro giravam também sobre se manter ou não Jerusalém unida sob a soberania israeli. A intenção do dirigente do Partido Laborista, Ehud Barak, de dividir Jerusalém, durante o Cúmio de Camp David de 2000, deixou atónitos a muitos israelis. De facto, mais de dous terços dos israelis opõem-se a qualquer divisão da cidade e estariam dispostos a continuar o conflito armado com os palestinianos a fim de manter o status quo. É politicamente estúpido subestimar o grande atractivo que Jerusalém exerce sobre a maioria dos judeus.


Para além de tudo isso, os dirigentes laboristas –especialmente nos seus estratos mais jóvenes- foram distanciando-se gradualmente da tradição judeu-sionista e começaram a flirtear com a cultura cosmopolita e os valores individualistas, como os direitos humanos e a democracia. Na medida em que existe um consenso sobre a supremacía das leis nas sociedades democráticas, a Corte Suprema, baixo o mandato do seu anterior presidente, Aharon Barak, adoptou uma postura muito activa, que não foi apreciada pelos elementos mais conservadores da sociedade israeli. A Corte Suprema tem-se convertido no Templo do secularismo. O Laborismo e os partidos de esquerda na sua órbita, têm adoptado gradualmente um discurso que favorece o individualismo e persegue direitos individuais à costa do ethos colectivo que fora dominante no seu dia, mas que ainda está muito extendido.


Por último, a herdança e princípios socialistas do Partido Laborista têm sido modificados, e inclusso desterrados pela elite económica e dos negócios de Israel. O Laborismo tem-se convertido num partido de adinheirados. O séquito de Yitzhak Rabin e o “novo rico” Ehud Barak está formado por exitosos capitalistas. E, assim, as classes menos privilegiadas de Israel tem deixado de ver ao Partido Laborista como o seu valedor na política israeli. Este papel tem-lhe sido arrebatado por partidos da direita e das comunidades religiosas.


Portanto, o Laborismo abandoou a ideologia colectivista, distanciou-se dos valores tradicionais judeus, e desembaraçou-se do socialismo. Paralelamente a isto, o Laborismo despraçou-se à esquerda nos assuntos de guerra e paz, cedendo o “centro” ao Likud. Ainda mais, o Laborismo passou a ser associado com o “processo de paz”, a partir do seu início nos Acordos de Oslo, Acordos que se fraguaram num clima de incertidume, e que finalmente fracassaram. Este tem sido o veredito tras muitos anos duma maioria dos israelis, inclusso aqueles que inicialmente apoiaram o experimento diplomático.


O autodenominado “campo da paz” tem ficado rotundamente desacreditado no panorama político israeli. Os resultados nas eleições de 2003, 2006 e 2009 refrendam esta afirmação. A sociedade estava preparada para “dar uma oportunidade à paz”, mas o Laborismo perdeu gradualmente o seu apoio para esse processo. Ao mesmo tempo, muitas “pombas” (espécie quase extinguida em Israel) preferem agora dar os seus votos a partidos à extrema esquerda do Laborismo.


De facto, Ehud Barak perdeu vertiginosamente o apoio das “pombas” em 2001 quando acunhou a expressão “no partner” (referindo-se à ruptura de Camp David 2000, que soterrou quase todas as ilusões sobre a capazidade dos palestinianos para ser sócios num processo de paz).


Finalmente, o Laborismo fracassou em sintonizar com os câmbios demográficos em Israel. Gradualmente, a população sefardita israeli tem-se ido convertendo na maioritária, e têm despregado uma tendência a votar maioritariamente em contra do Laborismo. O quadro demográfico cambiou novamente com o advenimento daimigração russa dos anos 90. Os imigrados da antiga URSS têm amosado uma clara preferência pelos partidos de direita. O colchão de apoio para o laborismo foi ficando reduzido a um seitor askenazi, os mais velhos, e à classe meio-alta. O Laborismo também tem estado flirteando cada vez mais com a comunidade árabe-israeli a fim de ganhar votos adicionais. Mas confiar no voto árabe, sem embargo, é o pior que um partido pode fazer a olhos do público judeu israeli. Ironicamente, os cidadãos árabes evitaram votar laborista devido ao seu grande apoio ao uso da força contra o terrorismo palestiniano.


Em ressumo: o Laborismo, à altura de 2009, tem um muito glorioso passado, mas um muito escuro futuro.


EFRAIM INBAR*

29 Shevat 5769 / 23 Fevereiro 2009


* Efraim Inbar é professor de ciências políticas na Universidade de Bar-Ilan, e Director do Centro Begin-Sadat de Estudos Estratégicos



1 comentarios:

O tempo sube e baixa, baixa e sube. O Laborismo israelí con certeza rexurdirá máis cedo que tarde. Porque con independencia dos múltiples erros cometidos, Avodá ten fondas raices na sociedade israelí. O tempo sube e baixa.

26/02/09, 04:31