Um não pode menos que admirar a Aviva e Noam Shalit. Não tem sido fázil para os familiares do soldado sequestrado embarcar-se na campanha agressiva que se está desenvolvendo para lograr a libertação do seu filho. Vemos as dificuldades reflexadas nos seus rostos, na sua forma de exprimir-se, e nas ocasionais declarações recolhidas pelos micrôfonos ante a tenda de campanha desde a que protestam. Não lhes tem resultado fázil embarcar-se numa campanha agressiva contra o Primeiro Ministro e compartir os seus sentimentos com todo o povo israeli. Cada vez que os vemos ou escuitamos, não podemos senão comprender a esta noble família.
Por sorte para eles, os meios de comunicação israelis levavam tempo agardando que se chegasse a este estado de coisas, e agora não soltam a presa, como se tivessem achado um valioso tesouro. Os mass média israelis já têm tomado uma decisão: Gilad deve ser libertado a qualquer preço, e quanto antes melhor. Assim, os média têm-se entregado à campanha da família, optando por deixar de lado que as coisas são mais complexas e menos simples que como as quer apresentar a família do soldado sequestrado.
A favor da prensa, podemos dizer que estám fazendo um labor sem fisuras. Durante a campanha que levou ao regresso dos cadavres dos soldados das IDF Regev e Goldwasser –descansem em paz- a prensa também não se manteve à marge. Pressionaram ao Primeiro Ministro e o seu gabinete até que se fechou o intercâmbio. Evitaram, assimesmo, fazer fincapé num facto conhecido desde havia tempo: estávamos negociando por recuperar cadavres, e não soldados aínda vivos. Não é de extranhar, pois, o shock nacional que se produjo quando chegaram os dois ataúdes negros.
Nos meses prévios ao acordo, os mass media sabiam a verdade. Mas gardaram silêncio. A fim de contas, estava claro que se estávamos negociando por soldados mortos, não daria para muito titulares. Não é preciso dizer que se estes feitos se tivessem feito claramente transparentes, o resultado final do trato poderia ter sido outro.
O que se passou então está volvendo a acontecer. Os olhos de Gilad inundam todas as portadas dos jornais, mentres os titulares clamam: “Os pais das vítimas do terrorismo exigem a libertação de Gilad”. Sem embargo, os média traicionam o seu dever deontológico quando apresentam só uma parte da triste história –a parte da família Shalit. Apostando forte para que brotem as lágrimas nos nossos olhos.
As fotos de infância de Gilad, assim como a destacada cobertura das palavras pronunciadas por Tami e Yuval Arad, e Karnit Goldwasser, realzam e acentuam o drama -e os índizes de audiência. Os que fazem objecções ao acordo são mencionados só de forma marginal, comparados com o festival mediático e cobertura “em vivo” ante a acampada de protesta da família Shalit. Pode alguém amosar-se susprendido de que políticos populistas, à procura dos seus cinco minutos de glória, desfilem diante da tenda? Eles sabem avondo o que é o conceito de “máxima audiência”.
Mas esquecem às vítimas, e que a acampada de contraprotesta foi desmantelada em menos de 24 horas.
Também resulta difícil achar informação sobre as implicações de futuro que supõe o acordo. Informes que falam, não só do que potencialmente fazerão os terroristas uma vez que sejam postos em liberdade, senão que apontam inclusso a uma discusão mais ampla sobre o impacto que um acordo deste tipo pode ter nos futuros operativos das IDF, na doutrina de combate e os esforços que impliquem o sacrifício de vidas antes de cair no cautivério, e sobre a questão de atrapar terroristas vivos para trai-los a Israel, sabendo que o seu veredicto será só temporal até o seguinte intercâmbio.
Os mass média têm decidido pôr-se à disposição da família Shalit, e não à do interesse geral. Mas o bom jornalismo põe-se a prova nas situações difíceis, e não nas fázeis.
O bom jornalismo demonstra-se na sua capazidade de promover um debate, de protestar, de contrastar argumentos, despejar dúvidas e criar fraturas numa opinião pública monolítica. O mesmo serve em tempos de paz como em tempos de guerra. O jornalismo tem um papel decisivo numa sociedade democrática. O seu papel não é o de manipular sentimentos.
No contexto informativo actual, um criador de opinião que nade contra corrente está arriscando o manter-se na onda da popularidade. Quando chegue o primeiro ataque terrorista protagonizado por algum dos que vam ser libertados, haverá gente que entorne os olhos e diga: “Já o advertimos”.
Os média têm o direito de pressionar aos que tomam decisões. Têm direito a publicar relatos de interesse humano. Mas também têm a obriga de oferecer a realidade em toda a sua complexidade ao escrutínio público, e não só uma versão dos feitos.
Isso não é cobertura informativa. Isso é propaganda.
Um pode estar a favor de negociar ou opôr-se firmemente, mas os mass média que ocultam essa pluralidade de posturas e que optam só por jogar a baza emotiva, são populistas e superficiais. E, para além disso, traicionam o seu dever profissional.
YARON DEKEL*
* Yaron Dekel é comentarista político da cadeia Channel 1.
Etiquetas: Shalit
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