EHUD, JUST DO IT


Ehud Olmert semelhara de sempre o prototipo do patriota judeu: os seus pais, que lograram fogir miragrosamente dos progromos socialistas em Ucrânia e Rússia, militaram no Irgun ao chegar a Israel. Ele próprio na sua mocidade, e antes de ingressar no Likud de Menachem Begin, afiliara-se no Beitar e depois em Herut. Quando a capitulação dos Acordos de Camp David teve o coalho de votar em contra da entrega do Sinai.

Segundo as más línguas, comezou dar bandaços ao pouco de casar com Aliza, uma progre, escritora de novelas baratas e seica também pintora, fotógrafa e muitas coisas criativas mais; dizque quando os seus dois filhos varões desertaram das IDF e a sua filha proclamou publicamente o seu lesbianismo, Olmert já nunca volveu ser quem fora. E quem o sabe?!

O certo é que quando chegou a ser mão direita de Arik Sharon já se convertera num rematado cínico e num outsider com querências esquerdistas. Nada a ver, porém, com a sua sucessora a oportunista Livni. Contudo, não é que Olmert alcançasse a ser nos seus bons tempos um político da talha de Ben Gurion ou mesmo Begin, não nos vaiamos enganar. De facto, uma das primeiras imagens que lembro de ele –e que ainda deve circular pela internet- foi durante um debate televissivo sobre a ameaça demográfica árabe em Israel, onde o seu oponhente, um tal Rabbi Meir Kahane (Hashem yinkom domov) o vapuleou sem piedade. Homem, não! Mas, mirado com uma perspectiva dos anos mais recentes, temos que concordar com o nosso amigo Obadiah Shoher em que tem sido do menos mau que tem presidido um Gabinete de Ministros em Israel.

No agitado período final do seu mandato, para além da Comissão Vinograd, a fim de contas de que se lhe pode acusar? A saber:

1. Privatização da Banca Leumi (comissão de investigação fechada por falha de evidências).

2. Adquirir um apartamento de luxo em Jerusalém no ano 2004 por um valor inferior ao do mercado, a câmbio de aligeirar o papeleo de licenças que tinha acima a empressa imobiliária (pecata minuta; e se não que lho perguntem a qualquer concelheiro que leve a área de urbanismo no PP, o PSOE ou o BNG).

3. Pôr a dedo entre 2003 e 2005 (quando pastava no Ministério de Indústria com Ariel Sharon) a uns quantos colegas como funcionários em áreas governamentais e conseguir a outro bandarra amigo seu um pelotazo, na mesma época. A Touriño e Quintana daria-lhes a risa.

4. Aceitar –e provavelmente solicitar- dinheiro para viagens de índole pessoal ao estrangeiro (que diablos foi, se não, a festa-jolgório que se correu a conselheira Bugallo e os 137.000 escritores da AELG que foram em viagem de prazer a Cuba há uns meses a gastos pagos num circuíto a todo trapo?).


Sejamos sérios. Qualquer dos grandes grupos políticos que levam anos alternando no Governo de Israel –e de qualquer parte do mundo- agem de modo semelhante. Isso não os justifica pessoalmente, mas não os diferencia se de fiscalizar e criminalizar esse tipo de actos se trata.

Olmert viajou em primeira classe e alojou-se em hoteis cinco estrelas (vaia!, como Murado –que é de Lugo- durante o tempo que exerceu de intrépido Pérez Reverte galaico em Jerusalém). Alguém espera que um Chefe de Gabinete em Israel se hospede numa pensão com direito a banho? Tziporah, por exemplo, viaja num avião privado.

Ressumindo o seu “nefasto” historial: votou contra a entrega do Sinai, declarou às primeiras de câmbio a 2ª Guerra do Líbano, autorizou várias incursões de castigo em Gaza –e rubricou a actual Operação Liderádego Sólido-, e a base duma política de bla bla bla tem feito menos concessões territoriais aos árabes que os seus mais imediatos predecessores Barak, Sharon ou o próprio Netanyahu (que lhes regalou Hebron).

Mas, sendo realistas, não passará à história como um Ben Gurion, Meir ou Begin. A menos que…

Dentro de escasas semanas Olmert cederá provavelmente os trastos a Bibi Netanyahu ou à sua sucessora in pectore, Tziporah Livni. Criticado ferozmente pela oposição e abandoado à sua sorte pela esquerda que o mantivo no posto, não o estudarão nos livros escolares passadas duas gerações. Uma mágoa.

Bem, pois Olmert tem ainda a possibilidade de inscrever o seu nome na história com letras de molde, e a distância é tão curta como a que separa as lançadeiras de missis do deserto do Negev da planta nuclear iraniana de Natanz.

A temida e reverenciada “opinião internacional” já está metendo candela abondo contra Israel pelo operativo de castigo (o felão Barreiro Rivas fala de "xenocídio" como o tarugo Saramago) em Gaza, e as consequências diplomáticas não creio que foram ir muito mais alá do que se masca no já caldeado ambente. Israel borraria dum prumaço a ameaça atómica da besta parda de Teherão, e, no pior dos cenários, o enojo da comunidade global levaria ao povo judeu a ter que pastorear cabras durante outras quantas décadas.

Não sei vós, mas eu penso que val a pena. A supervivência de Eretz Israel mereceria tamanho sacrifício.


Vamos, Ehud.



SOPHIA L. FREIRE


3 Tevet 5769 / 29 Dezembro 2008

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