O FILME DE KEMPLER



Um autodenominado fotógrafo amateur, Ronnie Kempler, filmou o assassinato de Rabin. Como não tinha câmara própria pediu-lhe emprestada uma à sua irmã e puxo-se a gravar desde um balcão o aparcamento durante mais de uma hora, sem que ninguém se decatasse. Declararia que tinha “um extranho presentimento” sobre uma das pessoas que ali estava [Yigal Amir], e assim foi que esteve seguindo-o com a câmara durante boa parte do tempo.


A gravação amosa claramente como Amir sinala a alguém na distância minutos antes do tiroteo, e recolhe perfeitamente o momento em que um dos gardaespaldas de Rabin se retrassa deixando um branco perfeito para Amir. O que amosa o filme (embora não o demonstre) é que Yigal Amir aponta com uma pistola a Yitzhak Rabin e dispara. Mas e se as balas não eram reais?


Este filme amateur do assassinato de Rabin tem sido analisado por numerosas pessoas fotograma a fotograma concluíndo que semelha ter sido descuidadamente curtado e editado. A parte mais extranha é a reacção de Rabin ao receber os tiros. Em vez de tambalear-se face adiante tras o impacto dos disparos, dá-se a volta, como se estiver sobre aviso do que se estava a passar.


Kempler trabalha para a Oficina de Controlo Estatal. Inclusso o mais escéptico dos israelis terá-se perguntado como é que o infausto momento não foi gravado por um vendedor de automóveis, um carteiro ou um engenheiro informático. Por que foi justamente um empregado do departamento que estava investigando ao antigo chefe do assassino?


No preciso momento em que Rabin é tiroteado, Kempler deixa de gravar. Depois diria ao entrevistador da 2ª canle da TV israeli, Rafi Reshef, que foi devido a que “já vira suficiente”. Também dixo a outro jornalista que lhe caira a câmara, e a outro, que um polícia lhe dissera que deixasse de filmar. Quando o filme foi editado para emiti-lo na televisão nacional, o técnico que figera previamente a transcripção manifestou que o áudio do agente que berrara “são balas de fogueo, são balas de fogueo” fora suprimido.


Uma vez que o documento foi emitido uma só vez por Channel 2, Ronnie Kempler não voltou ser citado em jornal algum.



A COMISSÃO SHAMGAR



A testemunha dos polícias na Comissão Shamgar obstaculizou uma cobertura adequada. Mentres o Shabak exonerou à polícia de toda responsabilidade pelo crime, o Chefe do departamento de polícia de Tel Aviv, Gabi Lest, testificou que os seus homens se supunha que tinham a missão de vigiar a zona estéril, mas não receberam orde alguma de onde emprazar-se por parte do servizo de seguridade de Rabin. Esses mesmos polícias manifestaram estar atónitos de ver que os oficiais do Shabak não estavam presentes no lugar do atentado.

A testemunha ante a Comissão Shamgar dos escasos oficiais presentes põe em tea de juízo a teoria do francotirador solitário, que a Comissão pessoalmente promovida pelo Primeiro Ministro Shimon Peres, defendia como válida.


Os oficiais Sergei e Boaz manifestaram que viram a Amir falando com um homem alto, vestido com uma camiseta escura, ao que semelhava conhecer, meia hora antes do atentado. O sargento Saar dixo que vira ao irmão de Amir, Hagai, que posteriormente foi acusado de subministrar as balas do assassinato, perto da cena do crime pouco antes do magnicídio. O oficial Sharabi testificou que “um homem ao que conhecíamos de vista como manifestante habitual ánti-Rabin, aproximou-se a ele, dou-lhe a mão e marchou”.


Sergei dixo ter suspeitado da atmósfera que envolveu todo o episódio e, especificamente, da presença de Amir. Perguntou a outro oficial quem era Amir, e este dixo-lhe que estava trabalhando de incógnito. A polícia declarou também que Amir accedera à zona estéril tras apresentar uma credencial governamental que lhe fora entregada pelo Departamento de Enlaze.


Portanto, o Shabak permitiu o acceso de Amir, que fora filmado sendo expulsado durante uma manifestação em Efrat duas semanas antes, de outro reconhecido manifestante –o irmão de Amir, que supostamente lhe teria proporcionado a munição-, um desconhecido videoafeiçoado amateur, e um misterioso homem com uma camiseta escura, e que deambulassem ao seu livre antolho numa área que se supunha que tinha que estar crebada e acordoada ao pessoal não autorizado.



RECONSTRUÍNDO O ASSASSINATO



Existem basicamente duas explicações para o assassinato de Rabin. Uma é que o Shabak, uma das organizações de seguridade mundialmente mais respeitada, é totalmente incompetente. A outra é que os agentes presentes no cenário do crime permitiram que o assassinato tivesse lugar. Provavelmente com o visto bom de Rabin, o Shabak reclutara a Amir.


O lema da concentração organizada aquela noite era “Não à violência”. Amir tinha que disparar contra Rabin com balas de fogueo; Rabin tinha que se ter livrado “miragrosamente” dum intento de atentado e, depois, aparecer novamente no cenário pronunciando um comovedor discurso “improvisado”, escrito pelo seu ajudante pessoal, Eitan Haber. O público teria reagido com repulsão contra o intento de assassinato levado a cabo por um extremista de direita, e o Governo poderia ter justificado uma operação de caza e captura contra os opositores ao “processo de paz”.



QUE É O QUE SABE AMIR?



Consideremos agora o incidente do agente Yoak Kuriel, que foi a pessoa que berrou “são balas de fogueo, são balasde fogueo!”. A noite do assassinato de Rabin, o seu corpo foi conduzido ao Hospital Ichilov e os seus órgaos foram extraídos. O Governo proclamou que se suicidara e soterraram-no num funeral a porta fechada no cimitério Hayarkon, nas aforas de Tel Aviv. O tráfico foi desviado durante noventa minutos, mentres teve lugar o funeral. O jornalista de investigação do Maariv, David Ronen, logrou fazer-se com o certificado de defunção de Kuriel. O hospital, num ostensível desprezo do que é o procedimento habitual, deixou em branco a causa da sua morte.


Numa das jornadas do juízo, estando Amir sentado na bancada, berrou aos jornalistas: “Por que não escrevedes sobre o gardaespaldas assassinado?”. Perguntado por a qual se referia, dixo: “O que berrou que as balas eram de fogueo”. Teoricamente, Amir estava absolutamente isolado durante o seu confinamento na prisão, sem acceso algum às notícias. Como podia saber tudo isso? E aínda acrescentou: “Sei avondo como para botar este régime abaixo. Tudo isto tem sido uma montagem. O sistema inteiro está podre. Serei perdoado quando a gente saiba a verdade ao completo”.


Se esse arrebato estava só pensado para o consumo da audiência, foi certamente consistente com o que ele já dissera em privado. O 29 de Novembro de 1995, segundo uma reportagem publicada pelo Maariv a começos de Janeiro de 1996, dirigira-se a um dos oficiais que o tinha baixo custódia na prisão para que lhe tomasse testemunha: “Vam-me eliminar aquí”. “Parvadas”, replicou o oficial. “Não acreditas, mas estou-che dizendo que tudo foi uma conspiração. Eu não sabia que ía morrer Rabin”, contestou-lhe. “Que queres dizer com isso? Ti apretache o gatilho, é assim de simples”. Ao que Amir replicou: “Daquela, por que Raviv [o agente infiltrado do Shin-Bet] não me delatou? Ele sabia o que ía fazer e não me deteve. Por que não fum abatido para salvar a Rabin?”.



(A continuar)



BARRY CHAMISH


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