SEM ASSENTAMENTOS

Que é o que significa realmente a oposição de Barack Obama aos “assentamentos” em Yehuda e Shomron? A expressão “sem assentamentos” está evidentemente vinculada à sua ideia do “Estado Palestiniano”. Mas, como já sinalou um comentarista, o termo “assentamentos” é um eufemismo utilizado para não dizer “judeus”.

“Sem assentamentos” significa “sem judeus”, e “sem judeus” inevitavelmente traduzimo-lo por “Estado não judeu”. Estrategicamente falando, este é o objectivo do “sem assentamentos” de Obama e da política pro-muçulmã, e entendê-lo assim fazilita-nos a comprensão do seu discurso de El Cairo.

Como outros já têm apontado, no seu surprendente discurso Obama eliminou qualquer distinção entre o Holocausto názi e a dislocação dos “palestinianos”. Esta equiparação é mais que uma manifestação de equivalência moral ou de relativismo, que os postmodernos como Obama têm digerido nas Universidades norteamericanas. Não. A sua equiparação do Holocausto sofrido pelos judeus e a dislocação dos míticos “palestinianos” é pior que a negação do Holocausto.

A negação do Holocausto é o rechaço a reconhecer os factos perfeitamente estabelecidos dos campos da morte názis. Para muitos, a negação vem motivada pelo desejo de borrar qualquer justificação para o Estado de Israel –como se o re-estabelecimento do Estado de Israel em 1948 não tivesse mais justificação que a Shoá. Isto é, simplesmente, uma falsificação da História.

Baste dizr que em 1920, uma vez rematada a 1ª Guerra Mundial, o Conselho Supremo Aliado reunido em São Remo (Itália), e dacordo com a Declaração Balfour de 1917, asignou à Grande Bretanha o Mandato para estabelecer um Fogar Nacional para o povo judeu em Palestina. O direito do Povo Judeu sobre Eretz Israel, portanto, era algo reconhecido pela legislação internacional -de facto, pelos 52 membros da Liga das Nações. Tudo isso passava-se dez anos antes de que Hitler chegasse ao poder.

Embora seria correcto, resultaria superficial concluir que Obama é banal ou um mero charlatão. A sua equivalência entre a “dislocação” dos míticos “palestinianos” e o Holocausto názi debe ser entendida como um síntoma do postmodernismo dominante no mundo acadêmico. Educados no relativismo moral, os políticos postmodernos como Obama são incapazes de encarar como é devido a enormidade do Mal; são incapazes de incorporar tal ideia do Mal na sua retórica e, consequentemente, de ilustrar ao público sobre o demoníaco mal que subjaz no genocídio e que o converte no maior inimigo da civilização, para além de toda racionalização ou discurso humano.

Doutra banda, pode que Obama tenha adicado demassiado tempo a actuar, e que a política não seja para ele muito mais que outra faceta do seu ego –um cenário onde luzir-se e ganhar aplausos e poder. O que também dá um bom retrato da conciência e nível da sua audiência.

Fixade-vos na sua audácia, quando este veemente promotor do “câmbio” é capaz de comparar-se a sim próprio com Abraham Lincoln, cujo semblante trágico é tudo o contrário ao de Obama, dotado duma petulância aínda mais grande que as suas orelhas.

Para além disso, e contrariamente a Obama, Lincoln era um homem do Velho Testamento. Não falava com evasivas sobre o Mal. Acreditava nas verdades eternas da Declaração de Independência, um documento muito inspirado nas ideias judeas, um documento desdenhado pelo discípulo do Reverendo do “Deus maldiga a America!”, o irreverente Jeremiah Wright.

Para sacar-nos de dúvidas, nada melhor no discurso de Obama em El Cairo que o seu conteúdo falaz –apropriado para uma cultura edificada na arte da ingratidão. Que melhor marco para a rendição ante o mundo muçulmão que a Universidade Al-Azhar!. Al-Azhar representa a postura teológico-política da imensa maioria do Islám. Permitide-me uma breve digressão.

Em 1968, delegados de 24 países acudiram a uma conferência em Al-Azhar; países que incluiam a Algéria, Indonésia, Irak, Jordânia, Kenya, Kuwait, Líbano, Maláisia, Marrocos, Nigéria, as IlhasFilipinas, Somália, Sudám, Síri, Turquia, Uganda, Yemen e Jugoeslávia.

Muitos documentos foram apresentados por professores e teólogos islamistas. Os documentos, geralmente, apresentavam aos judeus como “os inimigos de D’us” ou os “inimigos da Humanidade”. Uma das ponências referia-se aos judeus como “os cães da humanidade”. Outro referia-se à Torá de Israel em termos pejorativos. Os judeus eram descritos como o diablo, como servidores do ódio e a perseguição de todos os povos com os que têm entrado em contacto –e isto era dito com plena conciência do Holocausto názi! O Estado de Israel, para além disso, era descrito como a culminação da depravação cultural e histórica.

Na medida em que os teólogos e professores muçulmãos representavam a maldade dos judeus como algo eterno e imutável, estavam incitando duma maneira efectiva ao mundo árabe-muçulmão para que aniquilassem a Israel (politicídio) e aos judeus (genocídio). Não foi uma Conferência de “fundamentalistas islâmicos” –agás que o fundamentalismo islâmico seja a natureza intrínseca do Islám. O Islám não tem cambiado para melhor nos 40 anos transcorridos desde então –como evidencia a proposta do Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadineyad, a “borrar Israel do mapa”; uma proposta perfeitamente coerente com o que Obama denomina “sagrado” Corám.

Em El Cairo, Obama dixo que ele é cristão –mas a sua audiência é sabedora de que, na realidade, é um muçulmão, pois tem nascido de pai muçulmão. Sabe, também, que é experto na taqiyya [o arte da simulação]. Os judeus fazeriam bem em tomar-se o mundo corânico mais em sério, porque o chamamento de Obama a “sem assentamentos” é singelamente um eufemismo utilizado em vez da proposta de Ahmadineyad de borrar Israel do mapa.



PAUL EIDELBERG

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