O passado Domingo em Praga, o Presidente Obama comprometeu-se que a sua Administração nos situaria na “trajectória” face “um mundo sem armas nucleares”.
Por suposto, já tivemos um mundo sem armas nucleares, e não há tanto tempo –digamos, em 1939. A guerra que teve lugar naquele mundo livre-de-armas-nucleares levou estrepìtosamente ao desenvolvimento da carreira nuclear. E rematou com o uso que os EEUU figeram de elas –algo ao que aludiu Obama: “Como potença nuclear, como única potença nuclear que tem usado um arma nuclear, os EEUU têm a responsabilidade moral de agir”.
Não fica claro se esta afirmação implica uma desaprovação do nosso uso de armas nucleares em 1945. Comenta-se, porém, que Obama não se referiu em nenhum momento do seu discurso de Praga à 2ª Guerra Mundial. Pelo contrário, qualificou a existência de milheiros de armas nucleares como “o mais perigoso legado da Guerra Fria”. Este marco faz possível pensar na eliminação das armas nucleares como a resposta lógica ao fim daquele conflito: “Hoje, a Guerra Fria tem rematado, mas milheiros daquelas armas aínda seguem aí”.
Para justificar um mundo sem armas nucleares, o que Obama deveria na realidade de prevêr é um mundo sem guerras, ou sem ameaças de guerra. Essa é uma velha visão. É uma das razões de que os Presidentes dos EEUU tenham procurado a expansão das democracias liberais e os regimes responsáveis por todo o mundo.
Por suposto, há uma grande quantidade de passos práticos que podemos emprender respeito o problema do armamento nuclear –asinar acordos para regular o seu desenvolvimento, reduzir o seu número e limitar a sua producção, regular a exportação de materiais nucleares, blindar os vulneráveis materiais nucleares, e coisas assim. Deveríamos procurar esse tipo de acordos na medida em que sejam sensatos, verificáveis e factíveis, na medida em que promovam estabilidade e reduçam o risco de guerra.
Mas temos um longo caminho que andar antes de lograr um mundo de pacíficos regimes liberais. A esperança de George W. Bush de um mundo sem tiranias é a necessária –embora quiçá não suficiente- precondição para um mundo sem armas nucleares. O perigo é que o atractivo dum mundo sem armas nucleares pode ser uma distracção –inclusso uma excusa- para não actuar contra as autênticas ameaças nucleares.
Considere-se o discurso de Obama. Referindo-se a Corea do Norte, que umas horas antes vinha de provar um projectil que poderia ser utilizado para mísseis de longo alcanço, Obama dixo: “É o momento duma resposta internacional contundente…Todas as nações devem unir-se para construir um regime global mais forte. E essa é a razão pela que devemos unir-nos hombro com hombro para pressionar a Corea do Norte de que câmbie de actitude”.
Noutras palavras: contemos até dez antes de respostar a Corea do Norte, e permanecendo hombro com hombro demo-nos palmadinhas na espalda pelo nosso compromiso com um mundo sem armas nucleares. No entanto, os EEUU não fazerão nada por destruir a capazidade nuclear ou missilística de Corea do Norte, ou para derrocar o seu regime político.
Obama também referiu-se a Iran, dizendo que “a actividade nuclear e missilística deste país supõe uma ameaça real”, que justifica alguns esforços defensivos (muito limitados) em Europa. Mas a autêntica aposta de Obama é a do diálogo com Iran, um diálogo no que ele está disposto a apresentar ao regime de Teheran “uma autêntica alternativa”:
“Queremos que Iran ocupe o seu legítimo lugar na comunidade de nações, política e economicamente. Apoiaremos o direito de Iran a desenvolver energia nuclear com fins pacíficos através de inspecções rigorosas. Esa é uma via que a República Islâmica tem direito a tomar. Ou bem o seu Governo pode optar por um crescente isolamento, a pressão internacional, e uma potencial carreira nuclear na região que incrementará a inseguridade para todos”.
Obviamente, Obama recomenda a primeira via. Mas figem-se no que não faz:
Não diz que um regime iraniano armado nuclearmente é inaceitável. Não exprime a responsabilidade de evitar esse cenário, ou a confiança em que os EEUU e a comunidade internacional evitem essa opção. Simplesmente sugire que não seria bom para Iran eligir essa opção. E se os dirigentes da República Islâmica não estám dacordo com Obama? No mesmo discurso em que Obama desenhou a sua visão dum mundo sem armas nucleares, debilitou a posição dos EEUU ante o programa de armamento nuclear de Iran.
Mentres Obama fala dum futuro sem armas nucleares, a perspectiva na que na realidade nos achamos, a dia de hoje, é face uma Corea do Norte e um Iran com capazidade nuclear e missilística. E, portanto, ante um mundo mais perigoso.
WILLIAM KRISTOL*
* William Kristol é editor do Weekly Standard. Escreve uma interessantíssima coluna mensal no “The Washington Post.
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