A MINHA ANÁLISE ELEITORAL





O espectro político israeli ficou definitivamente configurado face a cita eleitoral do 10 de Fevereiro. Tras um dilatado processo, o Partido Laborista já é um cadavre, o que certamente é uma boa nova. Essa entidade política vinha arrastando-se desde tempo atrás. A sua política económica socialista –embora retomada no Occidente- está absolutamente desacreditada no Leste, o que inclui ao Meio Leste. A plataforma original do laborismo –colonizar o território, expulsar aos árabes, lutar contra os inimigos- tem-se convertido desde há muito tempo no bandeirim de enganche da direita nacional. Num intento por diferenciar-se da direita e, ao mesmo tempo, satisfazer aos seus assimilacionistas patrocinadores, o Laborismo tem derivado numa coisa dificil de distinguir do ultraesquerdista Meretz. Este, que inicialmente era uma franquícia comunista, tem ido abraçando com uma leve retórica o sistema de mercado; inclusso o seu carismático cacique, Beilin, tem-se retirado recentemente para adicar-se ao mundo dos negócios. Doutra banda, o Meretz alinhou-se com a extrema esquerda de Paz Agora, uma organização cada vez mais marginal dentro da esquerda israeli.

Kadima é um produto oportunista nascido do Likud. Sharon constituiu-no com o só propósito de impulsar a expulsão de Gush Katif desde a Knesset. Kadima carece de uma ideologia própria, e seguindo a deriva de Sharon face a esquerda, segue por inércia na mesma direcção. Os objectivos políticos de Paz Agora, Meretz, o Laborismo e Kadima são semelhantes: um troço de papel assinado pelos árabes com a palabra “PAZ” a câmbio do Lago Kineret, os Altos do Golan, Judea, Samaria e Jerusalém. Teoricamente, Paz Agora exige a supressão de toda presença judea nesses territórios, mentres que Kadima pretende que algo fique de modo testemunhal. Na prática, a diferença não é essencial: como revelou [o negociador palestiniano Ahmed] Qurei, o Governo de Kadima já tem aceitado o plano de retirada, que implicaria desmantelar a metade dos assentamentos (250.000 judeus e 40.000 árabes vivem no 56% de Judea e Samaria. A solução mais óbvia seria transferir aos árabes e anexionar-nos o 56%. Mas o Governo israeli prefire expulsar aos judeus e abandoar o território).

Os palestinianos pressionam para alcançar um acordo ainda mais amplo de retirada, que o Governo de Kadima vai aceitando passo a passo. Falando em termos nacionalistas ou religiosos, não existe diferença entre desalojar a 150.000 (Kadima) e 250.000 (Meretz) judeus, nem entre abandoar o 93 ou o 100% de Judea e Samaria.

O processo democrático estimula paulatinamente a convergência da Esquerda. Os seus partidos procuram a sua preponderância política para o seu próprio benefício mais que alcançar objectivos factíveis. Os seus sponsors querem ver benefícios procedentes do Governo, os seus activistas locais querem postos oficiais, e os líderes suspiram pelo reconhecimento na areia internacional. Os objectivos –no caso de que tivessem algum- sacrificam-se em aras da rapinha eleitoral. A fim de obter mais votos, os partidos desvirtuam os seus programas para fazê-los digeríveis a uma audiência o mais ampla possível. As propostas de Kadima combinam a proposta ultraesquerdista de Olmert advertindo que Israel deverá retirar-se de todos os sítios –incluíndo Jerusalém Leste- mentres que a facção “direitista” de Livni sustenta que os árabe-israelis terám que marchar ao Estado Palestiniano, como condição para que este chegue a se constituir.

O Likud procede duma maneira semelhante. Este suposto partido de direitas tem sido desde sempre refúgio de demagogos. Agás Oslo, todas as capitulações têm sido obra da direita: Sinai, Madrid, Hebron e Gaza. Inclusso Oslo foi perpetrada por Rabin, um direitista infiltrado na Esquerda. A explicação deste curioso fenômeno pertence ao âmbito da clínica psiquiátrica; provavelmente tenha a ver com o complexo de perseguição e inseguridade da direita, procedente da permanente oposição ao establishment e ao ánti-semitismo internacional, assim como com um peculiar sentido da rectitude que implica ser generoso com os inimigos. Seja como for, a agenda de Netanyahu é perfeitamente esquerdista: apoia o processo de paz, a pesar das concessões aos palestinianos, a pesar de que suponha a expulsão dos judeus e o abandono do Monte do Templo, dado que os árabes não estám dispostos a pasar por menos –sempre e quando Israel não esteja disposta a borrá-los da categoria de interlocutores. Em certo sentido, Netanyahu é mais pro-árabe que Paz Agora; contrariamente aos esquerdistas, ele insiste numa ajuda económica massiva aos palestinianos. Dacordo com a sua lógica, os acaudalados palestinianos esqueceriam-se do terrorismo. Isso é uma imbecilidade como mínimo em dous aspectos: nenhuma ajuda, por desorbitada que for, poderia fazer sombra à do mundo árabe. Nem Arábia Saudi, Kuwait, os Emiratos, nem Qatar necessitam ajuda de ninguém –embora a sua própria população tenha o nível de vida dum dromedário. Para além disso, os árabes de boa posição são ferozmente hostis a Israel. Kuwait, um multibilhonário cliente dos EEUU, foi o principal patrocinador da OLP; Qatar é o berço de muitas organizações islamistas radicais; Arábia Saudi é o sponsor nº 1 do terrorismo islâmico. Se Netanyahu pretende que o 90% dos palestinianos sejam ricos, o 10% restante -200.000 árabes- é mais que suficiente para manter o facho do terrorismo, e o seu descontento económico não fazerá senão alimentar as suas aspirações políticas e terroristas.

O único elemento que faz que o Likud seja ligeiramente preferível ao Meretz é a insistência de Netanyahu em compensar as concessões com medidas de seguridade dos palestinianos. Netanyahu, porém, não é que o pugera demassiado em prática: entregou Hebron e grande parte de Samaria e Judea sem que remitisse o agir terrorista. Um político capaz de abandoar Hebron dificilmente pode presumir de ser melhor que Arik. A percepção que tem Netanyahu é a dum principiante: Israel debe aceitar as concessões devido ao terrorismo palestiniano, e na medida em que o apoio da gente à retirada aumenta conforme mais numerosos são os ataques terroristas. O derrotismo judeu, contudo, não é exclussivo: a Grande Bretanha abandoou este mesmo território (e também a Índia, Irlanda, etc.) baixo a chantagem do terror. Os palestinianos não são o suficientemente estúpidos como para rematar com o terrorismo antes de acceder ao seu próprio Estado.

O rifi-rafe do Likud com Moshe Feiglin não faz também senão indicar até que ponto este partido tem derivado à esquerda. Netanyahu e os seus aduladores têm razões pessoais para resistir-se ao desembarco de Feiglin, que os privaria dos seus postos privilegiados; mas que dizer da multidão de activistas de a pé do Likud que também estám em contra de eles? As enquisas amosaram que a promoção de Feiglin a um posto com possibilidades reais de sair eligido acrescentava a popularidade do partido, mas muitos militantes preferiram deixar-se convencer de que Feiglin “é máu para o Likud”. O razoamento implícito foi: Feiglin trocará a apariência do Likud de modo significativo, e eles prefirem o “seu” Likud que não o de Feiglin, inclusso a pesar de que este é muito mais genuinamente representativo da direita nacional.

Existe uma grande diferença entre um Likud com Feiglin no posto nº 20 e outro com Feiglin no nº 1. Argumenta-se que ter um reputado membro na Knesset é um prestígio para o Partido, mas um direitista ánti-establishment poderia espantar a muitos dos potenciais votantes do Likud. Provavelmente, com Feiglin nos postos altos da lista daria-se um fenómeno de atracção destinado a muitos votantes de direita diseminados entre os politicamente amorfos partidos religiosos. Em todo caso, Feiglin ficou descolgado desses postos e tem muito dificil sair eligido nestas eleições, e provavelmente nas que haja no futuro. E a sua intenção de poder mover o timão do Likud “desde dentro” é muito questionável na prática.

Lieberman não é tão nefasto como semelha. Demagogo aupado por senvergonhas do mundo financeiro, pelo menos tem um historial avondo decente de opor-se às medidas esquerdistas. Nisso, quando menos, é mais presentável que Netanyahu, cúmplize de apoiar o Governo de Sharon quase até o mesmo dia da expulsão de Gush Katif. Também pode anotar no seu haver a resistência às insinuações dos russos para atrai-lo aos interesses do Kremlin.

O Shas e UTJ (Judaísmo Unido da Torah) têm eleitorados fideis que os votarão passe o que se passe. De momento opõem-se a renunciar a Jerusalém Leste, mas provavelmente cambiarão de opinião se se lhes oferecem suficientes subsídios para as suas circunscripções, como sucedeu quando Gush Katif. Os hipócritas que miram para outro lado ante a ocupação “de facto” pelos palestinianos do Monte do Templo acharão a maneira de consolar as suas conciências ante a ocupação palestiniana “de iure” sobre Jerusalém. E não esqueçamos que tanto Shas como UTJ estám dacordo em entregar Judea e Samaria.

Daqui desprende-se que, saia o Governo que saia, a agenda entreguista seguirá adiante. O melhor que poderíamos fazer nas presentes eleições seria converter a Knesset num amplificador para os pontos de vista genuínamente nacionalistas. Dado que o equivalente pela direita de Paz Agora foi expulsado da Knesset e ilegalizado [o Kach], quando menos logremos que alguns autênticos nacionalistas accedam à Knesset. Isto daria maior visibilidade às posições nacionalistas e reafirmaria a sua reputação; as posições com presença na Knesset, por alguma razão, goçam de maior autoridade. No melhor dos cenários, os autênticos nacionalistas exercerão a função das moscas colhoeiras e ralentizarão a capitulação.

Entre os partidos que se apresentam não está totalmente representada a genuína direita. Não a que necessitamos. Na pequena sociedade israeli, os novos partidos fazem-se um espaço rapidamente e, em muitas ocasiões, colheitam uma representação muito digna na Knesset. Qual é a única alternativa que se aproxima ao que necessitamos?: ERETZ ISRAEL SHELANU, Israel é a Nossa Terra (olho, que não a “sua” Terra), o partido de Dov Wolpe e Baruch Marzel, dos últimos homens íntegros que ficam em pé. Neste país onde não existem políticos de direita, votar por estes excepcionais homens é, sem dúvida, a melhor opção. Pelo menos são pessoas decentes –algo muito dificil de achar na nossa Knesset. Marzel, que fora durante muitos anos assistente pessoal do Rabbi Meir Kahane, é o eixo da comunidade judea de Hebron, o homem promotor de milheiros de projectos e iniciativas, de impecável reputação e autoridade, e que pode justificar cada voto que colheite. O Rabbi Dov Wolpe, um inconformista chabadnik que recebeu a benção do Rebbe por viver em pobreza e ajudar ao Povo de Israel, faz-se merecedor da sua reputação. O homem que chamou aos chabadniks a levar à prática as instrucções dadas pelo Rebbe –“Um Estado palestiniano é um perigo para os judeus”-, o agitador que exortou aos soldados das IDF a rechaçar as ordes criminais de expulsar às famílias judeas. Wolpe representa o mais elevado prototipo de chabadnik sionista.

Marzel e Wolpe não cambiarão grande coisa na política israeli. Ninguém será capaz. Mas são a melhor opção à hora de acudir a votar.

Mas, votar a Marzel/Wolpe não é dividir o voto do campo nacional, provocando que se perdam uns votos preciosos? Um fenômeno desse tipo produce-se, sem dúvida, mas também o provocam de facto as demais forças do campo nacional. Os sionistas religiosos andam em liortas pelos seus 4 ou 6 escanos, e o Moledet cindiu-se do bloco que pretendia formar Fogar Judeu (PNR). Os partidos ultraortodoxos fracassaram no seu intento de unir-se, a pesar da insubstancial natureza das suas diferenças. A direita secular, Likud e Israel Beiteinu, compitem ferozmente, e provocam que alguns desencantados votantes rematem votando a Kadima.

Se Kadima mantém a sua imperceptível tendência à alça, poderá formar Governo com a extrema esquerda, apoiando-se nos partidos árabes da Knesset. Uma invasão de Gaza ou um hipotético ataque contra Iran dias antes das eleições reforçaria os ressultados de Kadima [Nota: este artigo foi redactado antes da Operação Liderádego Sólido]. Os mass media difamam permanentemente ao penoso líder do campo nacional, Netanyahu, que não pode permitir que decaia o apoio do seu eleitorado. As enquisas falsas predizendo um trunfo da esquerda são outra poderosa ferramenta de dissuasão para os votantes do campo nacional. As enquisas tradicionalmente falham no reconto dos apoios do campo nacional; apoiam a Netanyahu nas enquisas mas não se soe corresponder com as furnas. Se as enquisas mintem, os partidos de direita ganharão com uma sólida maioria e, nesse caso, “malgastar” um 2% dos votos nacionalistas para apoiar ao tándem Marzel/Wolpe é uma aposta razoável.

A direita poderia ganhar as eleições, mas perder o Governo. Num cenário onde os partidos religiosos e de direita tivessem uma maioria na Knesset, mas Kadima fosse o partido que obtiver mais votantes, Livni formaria um Governo. Teoricamente, Shas rechaçaria a sua convidação, e então o Likud seria o encarregado de formar o Gabinete. Na prática, Shas é consciente do seu imenso poder e apoiaria a Livni a câmbio de subsídios massivos para os jaredim. Pressumivelmente, Livni pretende oferecer-lhes mais medidas de benestar que as que o conservador Netanyahu estaria disposto a conceder. No meio da crise económica, quando os donativos aos improdutivos jaredim pode que comezem a escasear, Shas pode bater todos os récords da traição a câmbio de dinheiro.

Em certo sentido, preferiríamos que o Likud levasse um batacazo. Um Governo do Likud continuaria o processo de paz como faz Kadima –e como testemunham os Acordos de Wye River e de Hebron. Mas um Likud na oposição poderia aguilhoar sistematicamente a Kadima por cada concessão aos árabes e lograr constituir uma plataforma de facto na Knesset contra a retirada.

Se a esquerda ou a falsa direita ganham, necessitaremos dos mais honestos, francos e ruidosos militantes da direita na Knesset. Contra a capitulação dos falsos nacionalistas de toda pelagem que subscrevem a rendição israeli, Marzel e Wolpe, a lista de ICHUD LEUMI, supõem uma saudável alternativa

Fogar Judeu também não é uma má escolha, e se vos inclinades por opções mais de moda, Lieberman é melhor que outros.



OBADIAH SHOHER


3 Shevat 5769 / 28 Janeiro 2009


0 comentarios: