Qual é o problema israeli com Hamas? As exigências deste grupo são absolutamente razoáveis: se Israel se retirou de Gaza, daquela que abram os passos fronteirizos. Israel nega-se por três razões: Uma, irracional, é que ao establishment judeu não lhe gosta este grupo ferventemente religioso, e muitos políticos esquerdistas estám profundamente identificados com Fatah. Duas, à companhia British Gas (BG) apresenta-se-lhe um problema no desenvolvimento dos seus gaseodutos numa Gaza controlada por Hamas; Barak apoia os interesses da BG. Três, inspeccionar todas as mercadorias que entram em Gaza é praticamente impossível, e Hamas poderia intentar passar armas de contrabando.
O último argumento ramifica-se em outros três problemas, à sua vez: Um, Israel já utiliza um scanner gigante e poderia instalar outros semelhantes nos passos fronteirizos para facilitar as inspecções. Dois, os residentes de Gaza poderiam ter que pagar pelas inspecções, prática habitual noutros âmbitos. Três, o contrabando de armas não é um problema per se.
Hamas produziu mísseis Qassam a partir de restos de tuberias e fertilizantes, e Israel proibiu inclusso o fertilizante feito a partir de amônio. O contrabando desde Egipto é mais aconselhável que o feito através das fronteiras com Israel. E, finalmente, Hamas poderia seguir acumulando armas. O problema não é tanto a quantidade, senão a intenção inegável de Hamas de utilizá-las. Israel pode disuadir fazilmente aos palestinianos de lançar projectis mediante acções de repressália. Certo, Hamas seguiu disparando sobre Israel inclusso em pleno opeativo militar de Gaza –que era a maior repressália possível- mas o grupo não tinha alternativa: resistência ou derrota. Com uma fronteira israeli em paz, Hamas não poderia explicar aos seus votantes por que segue disparando contra Israel e causando-lhes sofrimento devido às repressálias.
Contrariamente aos gangsters de Fatah, que Israel tem eligido como interlocutores de paz, Hamas é honesta, valente e predizível. Exterminou a vários grupos de militantes em Gaza a fim de deter os bombardeos sobre Israel no que constituia uma ruptura do alto o fogo. Fatah não pode impôr orde no West Bank nem com a ajuda das IDF, mas Hamas estabeleceu imediatamente uma espécie de “lei e orde” sui generis em Gaza. Fatah baixa a cabeça ante Israel, mas os membros de Hamas lutaram ferozmente contra as IDF numa batalha na que não tinham nehuma possibilidade. Os dirigentes de Fatah apresentam a Israel e Occidente magníficos cenários para a paz, mentres falam de guerra e ódio contra os judeus à multidão palestiniana. Os líderes de Hamas são mais honestos: negam-se a prometer a Israel paz eterna, tanto porque é impossível como porque é contrário às ensinanças do Islam. Mas oferecem algo melhor, uma trégua a longo prazo.
À altura da invasão israeli de Gaza, quando Egipto incitava a Hamas a aceitar uma trégua por quinze anos, Hamas só aceitou uma de um ano de duração. Isto diz muito da capazidade de Hamas de manter a sua palabra dada: na mais dificil das situações, a banda negou-se a mentir para procurar a sua própria salvação.
O establishment israeli pregoa o facto de que Hamas rechaça um Estado judeu. Por suposto; todos os muçulmãos fazem o mesmo. A diferença é que Hamas proclama-o abertamente.
Negociar com Hamas directamente é a única via de Israel para lograr um acordo vinculante que recolha as responsabilidades de cada uma das partes. A ausência desse acordo dou pé às diferentes expectativas no alto o fogo de 2008, que finalmente entraram em colisão entre acusações mútuas.
Arrodeados por trescentos milhões de muçulmãos, enfrontados com uma comunidade internacional hostil, Israel nunca poderá viver em paz. Mas postos a procurar uma trégua, escolhamos melhor um interlocutor no que se poida confiar: Hamas.
OBADIAH SHOHER
2 Shevat 5769 / 27 Janeiro 2009
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