É A HORA DUM NOVO ALIADO?

O discurso em El Cairo do Presidente Obama foi um evento histórico em muitos sentidos. Anetudo é destacável que um dirigente occidental se sinta legitimado para falar sobre as verdades do Islám, como se ele for um teólogo muçulmão. Em segundo termo, surprende o seu tratamento do conflito israeli-palestiniano, como se o direito de Israel e a resistência árabe a ele tivessem o mesmo peso moral.

“Durante décadas tem havido um impasse: dois povos com legítimas aspirações, cada um com uma história dramática que faz difícil alcançar um compromiso. É fázil sinalar com o dedo –para os palestinianos sinalar o desprazamento provocado pela fundação de Israel e para os israelis sinalar a constante hostilidade e ataques ao longo da sua história dentro das suas fronteiras assim como além de elas. Mas se contemplamos este conflito só desde um ponto de vista, daquela estaremos cegos ante a verdade: a única ressolução passa pelas aspirações de ambas partes de viver em sendos Estados, nos que palestinianos e israelis vivam cada um em paz e seguridade”.

Atendo-se a este discurso histórico, Obama não pode achar palavras para descrever o ataque de vários exércitos contra Israel o mesmo dia em que foi criada. Não pode descrever os ataques terroristas que seguiram o armistício de 1949. Omite também o crescente ánti-semitismo nos mass media árabes, los livros escolares árabes, nas rádios e TVs árabes, nas pregárias que se fazem nas mesquitas. Duas vezs mencionou Obama à sucursal ántisemita e ánti-cristã palestiniana da Irmandade Islâmica, Hamas: “Hamas tem apoio entre alguns palestinianos, mas também tem responsabilidades contraídas. Para jogar um papel na culminação das aspirações palestinianas, e para lograr a unificação do povo palestiniano, Hamas debe pôr fim à violência, reconhecer os acordos do passado, e reconhecer o direito de Israel a existir”.

Obama não fez menção da mensagem central de Hamas: a destrucção mundial dos judeus. O Ayatola Jomeini, o instigador da actual revolução islamista, definia a história mundial, o curso dos eventos humanos, assim: “Desde os começos, o movimento islâmico tem sido obstruído pelos judeus. Eles foram os primeiros em desenvolver propaganda ánti-islâmica e conspirações. Como é o caso”.

Noutras palavras, opôr-se a Israel, a nação dos judeus, é a força motriz da revolução islâmica, tanto da sunita como da chiíta. É a sua alma. Não existiria se cedesse na sua ambição de erradicar Israel. A destrucção de Israel é o seu objectivo final, o seu combustível, o seu corpo, a sua natureza, a sua direcção e o seu destino. Só através da destrucção dos malvados, conspirativos e obstructores judeus, a revolução islamista alcançará o seu objectivo: a resurrecção do Califato.

Obama optou por ignorar explicitamente esta ameaça, e decidiu abandoar a Israel no frio –ou melhor dito, no calor- duma explosão nuclear. Isto é o que dixo: “Nenhuma nação em solitário é quem de decidir que nações podem ter armamento nuclear”. Com o qual o Presidente queria dizer: Israel, uma solitária nação, não tem direito a negar a Iran armamento nuclear. Iran, uma ameaça existencial para Israel, não pode ser detida por Israel só –deve ser competência da comunidade internacional, segundo o Presidente.

Mediante a sua alocução em El Cairo, Obama puxo fim a aliança dos EEUU com Israel, que tem durado mais de 40 anos. Os primeiros aliados estratégicos de Israel foram Checoslováquia, a União Soviética e, especialmente, a França, que enviara os seus famosos aviões ala-delta Mirage para apoiar a vitória israeli na Guerra dos Seis Dias de 1967. Naquele ano, os EEUU, embora a ter uma cidadania que simpatizava com Israel, reemprazou os tanques que perdera Jordânia. Os franceses negaram-se a enviar mais Mirages e os EEUU duvidaram durante bastante tempo em vender ou não os F-4 Phantom a Israel.

Os EEUU agirão a partir de agora com o mesmo desprezo face Israel com que o vem fazendo a União Europeia. Este discurso não supõe nenhum progresso desde os Acordos de Oslo de 1993. Os corruptos dirigentes palestinianos têm transferido miles de milhões às contas nos seus bancos suízos, e a comunidade internacional mira para outro lado. Gaza poderia ter sido um lugar muito melhor se Hamas tivesse intentado edificar pacificamente umas instituições civis. Não o fixo. Sem necessidade alguma adicaram-se a disparar milheiros de mísseis contra Israel. E o problema é que a única razão de ser de Hamas é a sua oposição aos judeus.

A União Europeia ignora tudo isto e aferra-se à ideia dum “Estado Palestiniano viável” –o qual é um oxímoron. Os palestinianos consistem num conjunto de comunidades tribais e só fingem ter uma moderna sociedade civil. Não têm sacado adiante nenhuma instituição civil porque não interessam às famílias dirigentes palestinianas.

O famoso lobby judeu não foi capaz de prever o câmbio de direcção de Obama. O certo é que esse “lobby” sempre tem sido um mito, e a judearia norteamericana, que na sua maioria é um grupo acaudalado, progre, assimilado e só vagamente religioso, tem-se ido distanciando mais e mais de Israel, à que consideram de direitas, militarista, chauvinista e belicosa.

Para os progressistas judeus norteamericanos, Israel é um fenômeno confuso. Sintem-se vinculados a Israel pela lembrança e o legado do Holocausto, mas são muito politicamnte correctos e sintem-se como em casa nesses cámpus onde a gerações inteiras de estudantes tem-se-lhes lavado o cerebro com os trabalhos escritos pela vaca sagrada dos estudos árabes, Edward Said. A judearia norteamericana estava ao tanto de quem era o mentor espiritual do Presidente em Chicago, Jeremiah Wright, um negro razista e ántisemita, e da sua amizade com Rashid Khalidi, um intelectual palestiniano e ántisionista com o que mantinha uma sólida relação pessoal. Os judeus preferiram alinhar-se com ele em vez de preocupar-se pelas suas opiniões sobre Israel.

E agora, tras o discurso de El Cairo, seguirão dando-lhe o seu apoio e distanciando-se duma Israel que dá pê a desagradáveis fotografias de edifícios bombardeados e corpos mutilados de mulheres e crianças –os judeus norteamericanos, acostumados aos cocktails de alta sociedade no Upper West Side, prefirem que Israel se comporte “proporcionalmente” e como os decentes, civilizados e exquisitos judeus da alta sociedade, e não como guerreiros do Meio Leste. Desde as massacres de 1982 em Sabra e Shatila -cometidas pelos maronistas libaneses, mas atribuídas a Israel e a Ariel Sharon-, a judearia progre norteamericana comezou uma longa viagem que conclue num ponto sem retorno: ao igual que Obama, estám dispostos a sacrificar a Israel.

Uma pequena nação como Israel, a única e solitária democracia moderna numa parte do planeta na que as autocracias e as tiranias são a norma, não pode sobreviver sem um aliado estratégico de grande poder internacional que se veja obrigado, pela simples magnitude dos seus interesses, a jogar no complexo tabuleiro do Meio Leste. É demassiado cedo para criar um vínculo sólido com a Índia, um aliado natural de Israel. A Índia emergerá ao longo deste século como grande potença internacional, tanto militar, como económica como tecnologicamente, mas aínda não pode proporcionar a Israel o respaldo militar e diplomático que esta necessita.

Mas existe outro actor estratégico no terreno que daria a benvinda a uma aliança com Israel, especialmente às suas indústrias electrónicas de vangarda. Dos 5’7 milhões de judeus israelitas, mais de um milhão têm raízes russas. Para além doi velho ántisemitismo russo, tem existido sempre uma forte vinculação melancólica entre as duas populações. Em Rússia os judeus têm destacado sempre nas artes e as ciências.

Devido ao equilíbrio de contrapoderes com os EEUU, Rússia tem mantido ligações com Síria e Iran, mas agora necessita diversificar e modernizar a sua economia e reduzir a sua dependência do subministro de petróleo e gas natural. Poderia beneficiar-se da inventiva comercial e científica da que sírios e iranianos carecem- e que Israel possue. E Israel poderia aproveitar os vastos recursos de Rússia e a determinação do seu líder Vladimir Putin, um astuto e implacável dirigente que entende à perfeição as crudas regras do jogo de poderes internacional.

As lealdades de Obama, e as da maioria da judearia progre estadounidense, não estám com Israel. Portanto, Israel necessita urgentemente um novo aliado. Nos seus despachos do Kremlin, Putin recibiria aos seus dirigentes com os brazos abertos, pão negro, arenques marinados e umas quantas garrafas de Stoli.


LEON DE WINTER *

15 de Junho de 2009

* Leon de Winter é um dos mais afamados escritores e colunistas políticos holandeses.

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