A OPÇÃO DE SAMSON PARA O PAÍS DOS CEGOS

O exército israeli era pobre, móvil e ingênuo. A ajuda militar dos EEUU ajudou a erigir um coloso adicto às novas, não provadas, e tremendamente custosas tecnologias armamentísticas. Amiúde não funcionaram como se agardava, ficando obsoletas antes de entrar em combate, e supondo um custe não contrastado com a sua pretendida eficácia. A carreira armamentística levou à URSS à bancarrota, e Israel também não semelha quem de ganhar esse tipo de carreiras. Israel poderia rematar com a dependência do subministro dos norteamericanos e volver ao seu modelo de exército tradicional: tecnicamente só moderadamente avanzado, mas altamente entrenado, motivado, inteligente, e preparado para aceitar as derrotas. Esse tipo de giro, porém, vai em contra dos interesses adquiridos tanto pela burocracia militar estadounidense como da própria israeli, assim como dos compelxos militares e industriais, e seria muito dificil de levar a cabo. Rematar a dependência da tecnologia dos EEUU é o caminho mais singelo para lograr uma reforma militar em Israel.

Os exércitos móveis, tacticamente superiores, têm permitido que os grandes impérios prevalecessem contra inimigos numericamente mais grandes. A situação actual, sem embargo, é diferente. As forças imperiais têm combatido geralmente contra outros exércitos; a população inimiga apenas veia-se envolvida no conflito. O servizo militar obrigatório rematou com esse modelo. Israel enfronta-se virtualmente a um inimigo muçulmão ilimitado. Egipto pode movilizar dez milhões de pessoas em Suez e mandá-los através do Sinai em direcção Tel Aviv; Israel não poderia eliminar a uma parte significativa dessa multidão. Egipto nem sequer necessitaria um exército para levar a cabo tamanhe movimento táctico: milhões de egípcios desarmados poderiam empujar aos israelis ao mar. Credes que não é uma ideia plausível? Iran empregou exactamente essa táctica contra Irak: Iran enviou aos seus adolescentes através de campos minados iraquis para limpá-los de minas. Ou pensade noutras medidas pouco ortodoxas: que tal se Egipto enviasse um forte exército de cinco milhões Sinai adiante e, tras rodeá-lo, não aceitasse um alto o fogo? Israel não seria capaz de afrontar uma guerra com cinco milhões de prissoneiros de guerra nas suas mãos. Israel não tem por que ganhar sempre as guerras de movimentos.

A doutrina da antecipação no ataque nuclear tem várias ventagens e poucos inconvintes. Centrando-se no armamento nuclear, Israel poderia prescindir substancialmente do seu exército. As ventagens económicas da desmilitarização são imensas. A disuasão nuclear seria acreditável se Israel carecesse doutro tipo de armamento. Uma doutrina de resposta nuclear por parte de Israel excluiria practicamente para sempre a possibilidade duma guerra contra um exército regular muçulmão. Ninguém se arriscaria à repressália, especialmente se Israel anuncia-se os objectivos da repressália -como poderia ser a Meca- de antemão. Israel poderia também extender a responsabilidade colectiva a todos os países muçulmãos e prometer uma resposta contra algum de eles ou contra todos –não só contra o atacante. Já se encarregariam de vigiar-se entre eles.

A repressália nuclear contra actos de terrorismo não sempre é razoável, embora uma ameaça nuclear israeli contra Iran poderia ter evitado a guerra com Hezbolá. Não necessitamos um exército mastodôntico para combater o terrorismo. Israel pode repressaliar com armas nucleares a qualquer país que a ataque com um exército regular, e ao mesmo tempo manter uma pequena forza móvil para operações de tipo ánti-terrorista.

Bem é certo que o resto de países poderia aprovar sanções contra Israel se responde às agressões com armamento nuclear. Mas essa contingência seria extremadamente improvável: os muçulmãos não atacariam sabendo que Israel só tem armas de resposta nuclear. No quase impossível cenário de que um país muçulmão atacar a uma Israel só-nuclear e que Israel respondesse, Occidente comprenderia que Israel reage razoavelmente: carecendo doutras forzas para repeler a agressão, teria utilizado a sua única opção –a nuclear- de supervivência. As sanções, de existir, seriam a reganadentes, temporais e ineficazes. Quaisquer perjuízos económicos que essas sanções puidessem chegar a causar em Israel, aínda estariam por debaixo de tudo o que aforraríamos desmantelando o nosso desbordante exército.

As piores sanções imagináveis rematariam, digamos, transcorridos dez anos e suporiam a Israel a perda de todas as suas exportações. Isso reduziria o PIB num 30 % como muito, o qual seria subsanável parcialmente reorientando algumas exportações para consumo interno, e substituíndo alguns produtos importados. Israel actualmente gasta esse 30 % em manter o exército. Dito doutro modo, gastamos aproximativamente o que nos suporiam as piores das sanções imagináveis. Dada a infinitesimal probabilidade de que os muçulmãos começassem uma guerra contra uma Israel só-nuclear, o efecto da taxa índice composta (aforrar dinheiro agora, sofrer sanções depois) e a relativamente curta duração dessas sanções, fazem que uma doutrina de resposta nuclear seja economicamente viável para Israel.

Occidente poderia impôr sanções se Israel proclamasse uma política de repressália nuclear antes de usar esse tipo de armamento. Essas sanções seriam muitos débeis: Occidente duvida de aplicá-las inclusso aos países onde esse armamento prolifera ilegalmente. As débeis democracias progressistas sempre duvidam antes de opôr-se timidamente a algo, e ficam no terreno da ameaça. Umas sanções fortes em resposta a uma simples postura política são improváveis. Em todo caso, Occidente intentaria evitar a confrontação nuclear sobornando a Israel, oferecendo-lhe armas convencionais livres, e pressionando aos muçulmãos para não provocarem a Israel.

Outra opção mais, aínda, seria anunciar o câmbio de política, mas de modo implícito. Israel, de facto, não reconhece formalmente que possua armamento nuclear. Poderia desmantelar o exército e insinuar veladamente informação sobre uma doutrina de resposta nuclear. Israel não sofreu sanções quando desenvolveu a bomba nuclear.

Somos um minúsculo país arrodeado por um mar de muçulmãos hostis. Estes têm expulsado aos cristãos do Meio Leste com anterioridade, inclusso tendo-lhes levado décadas ou inclusso séculos fazê-lo. Israel não poderá sobreviver através de acordos de defesa convencionais. Os muçulmãos estám preparados para sacrificar os seus exércitos nas fronteiras de Israel. Têm fracassado várias vezes, mas o intentarão uma e outra vez. A sua desventagem é limitada: um exército, talvez umas quantas cidades destruídas. A única opção de Israel de resistir aos muçulmãos é incrementar significativamente essas desventagens da agressão.

Israel tem suficientes bombas nucleares como para borrar aos muçulmãos do mapa do Meio Leste. Os muçulmãos não atacarão Israel se sabem que uma confrontação aberta contra nós implicaria o final da sua civilização. Os muçulmãos submetem-se sempre ao mais forte, e acatarão uma Israel forte -mas nunca uma Israel débil que autolimite as suas repressálias.

Os israelis sentiriam-se muito mais seguros sob um gardachuvas nuclear. O serviço militar obrigatório seria breve e com poucas –por não dizer nenhuma- movilizações. A cárrega impositiva experimentaria uma grande rebaixa. As distorsões económicas derivadas dum exército gigantesco desapareceriam. Os nossos vizinhos muçulmãos respeitariam uma forte e perigosamente enlouquecida Israel.

Seria um bonito país.


OBADIAH SHOHER

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