O Rio Jordão constitui uma barreira de tipo cultural, mas não étnica. Impassível via fluvial um século atrás, o rio Jordão marcava a fronteira da civilização. Ao Leste do Jordão ficava a sémi-selvagem Arábia, mas a beira occidental amosava um certo grau de civilização, primeiro baixo a influência otomana e, a partir do século XIX, baixo a europeia. Os árabes do West Bank desenvolveram mais a sua sociedade que os seus compatriotas do East Bank; a diferência devisa-se basicamente às condições económicas. O West Bank permitia uma agricultura de subsistência, mentres que a paisagem desértica do East Bank apenas era apta para um estilo de vida nómada. Só no século XIX os árabes da beira occidental se desprazaram para a beira leste estabelecendo os primeiros núcleos de população assentada ali.
Os judeus estám legitimados religiosa e historicamente sobre o East Bank, e Transjordânia estava inicialmente incluída no território judeu. Embora os britânicos a última hora cambiaram de parescer e exigiram que a Declaração Balfour não incluísse Transjordânia, a sua visão era radicalmente distinta até 1919. Nessa época, os sionistas pretendiam colonizar Transjordânia, e os britânicos estavam de acordo até que em 1922 se viram na necessidade de procurar acomodo a um principinho iraqui sem trono. Os britânicos separaram “Irak” de Iran e “Jordânia” de Israel para dar acomodo aos dois irmãos Faisal, que foram expulsados de Síria. Há um século, Transjordânia estava escasamente habitada –arredor de 200.000 árabes numa área tres vezes mais grande que Palestina. Os judeus tinham uma população cem vezes maior arredor do mundo, mas só receberam ¼ doterritório do Mandato.
Jordânia é uma aletargada zona desértica, mas vai acurtando lentamente as suas diferências culturais com os árabes do West Bank. Isto conforma a base duma eventual unificação das duas beiras do Rio Jordão num grande Estado Palestiniano. Essa deriva é apoiada pelo crescente nacionalismo pan-palestiniano, a ambos lados do Jordão. Os palestinianos de Jordânia contemplam a identidade pan-palestiniana como um adequado contrapeso ao actual domínio da minoria beduína. Uma Jordânia (ou Palestina, como lhe queirades chamar) que se extender a ambas beiras do Jordão suporia um gravíssimo perigo para o caudal acuífero de Israel, na medida em que os ineficazes granxeiros árabes começariam a drenar água de modo insustentável. Israel não teria mais remédio que obrigar a que Jordânia desprazasse à sua população face o leste, e reclamar as fontes acuíferas.
A comunidade internacional aceita de facto que minúsculos grupos de árabes ocupem imensas parcelas de território com uma densidade povoacional prehistórica, mentres Israel se vê comprimida nuns limites fronteirizos de apenas oito milhas de ancho. Tal situação não é viável, e Israel deverá regressar ao projecto de 1919 de assentar-se em ambas beiras do Jordão.
OBADIAH SHOHER
23 Sivan 5769 / 15 Junho 2009
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