OS ERROS DE TZIPI


O grande erro de cantar vitória na noite das eleições não foi o primeiro de Tzipi Livni, nem sequer o segundo, desde que a dirigência de Kadima ficasse vacante na pasada primavera. O seu mais recente erro, rechaçando a mão tendida de Binyamin Netanyahu, poderia ser o último.


Antes do seu grotesco discurso na noite eleitoral, soando como uma imitação surrealista do já de por si surreal Muhammad Ali, Livni cometera a fatal equivocação de rechaçar um debate com o seu rival pelo liderádego de Kadima. Esse rival, Shaoul Mofaz, um general de carreira sem demassiada ideia da maioria dos assuntos domésticos e, para além disso, um populista cuja comprensão da economia é muito superficial, teria sido derrotado sem paliativos, inclusso pela mediocre Livni, que poderia ter demonstrado que Mofaz carece de ideias em temas como a reforma educativa, o sistema eleitoral ou a indústria sanitária.


Em vez disso, Livni deixou-se mal aconselhar, evitando a toda costa tomar postura sobre qualquer matéria. O seu razoamento era muito simples: isso funcionou bem com Ariel Sharon, quando o enfrontaram a Ehud Barak em 2001. Daquela lograram uma arrolhadora vitória para Sharon numa extranha campanha na que não se manifestou sobre nenhum tema em absoluto.


Porém, os seus conselheiros, Eyal Arad e Reuven Adler, esqueceram algo cruzial: que Sharon não necessitava apresentações, como homem cujos postulados eram famosos no mundo inteiro. Ainda mais, o seu rival naquelas eleições era já um cadavre político, que levara a Israel às falhidas conversas de Camp David e dali ao catatrófico encontro com o terrorista Arafat. Inclusso George McGovern teria sido capaz de venzer a Ehud Barak no inverno de 2001, com o devido respeito para Sharon, Arad e Adler. Assim e tudo, a táctica foi repetida por Livni, e o resultado foi que Livni aranhou a vitória por pouco, derrotando a Mofaz por uma percentagem de arredor do 1 %, num combate que deveria ter sido declarado nulo.


Contudo, quando as eleições gerais se aproximaram repetiram a mesma táctica, até que os assessores comprenderam que os votantes agardavam que se dixesse algo mais sobre distintas questões. Não é que Netanyahu se estivesse molhando demassiado –incorrendo no mesmo erro- mas ele, como Sharon, tinha uns pontos de vista avondo conhecidos tanto sobre economia como sobre assuntos de política exterior. Esse foi o momento em que os conselheiros de Livni moveram ficha, dizendo-lhe que comezasse a falar de “paz”. Livni entrou ao trapo, declarando a destro e sinistro que as eleições eram sobre a paz, e que a carreira só apresentava duas opções: Tizpi ou Bibi.


Isso foi um erro também.


Essa proposta afastou-na do centro –por não falar do eleitorado de direita- pela singela razão de que eles não acreditam que a paz esteja à volta da esquina, e opinam que a sua dificuldade implica a toda Israel, sem importar quem a dirija. O eslogam, porém, movilizou à esquerda, ao igual que as suas críticas rastreiras contra os ultraortodoxos. E assim, Livni foi por uns dias a querida da esquerda, e as suas afirmações reportaram-lhe votos…mas procedentes do lugar equivocado. Se tivesse ignorado aos seus conselheiros e se tiver centrado em assuntos menos controvertidos e mais urgentes, como a criação de emprego, o funcionamento escolar e a reforma eleitoral, poderia ter erosionado alguns votos dos simpatizantes de Lieberman e Netanyahu. Em vez disso, renunciou a esse seitor do eleitorado, e limitou-se a repartir-se os votos com uma já de por sim reduzida esquerda.


Assim e tudo Livni pensou que ganhara e, na sua delirante alucinação, acreditou também que poderia convencer a Avigdor Lieberman de traizoar aos seus votantes preferindo-a a ela como primeira ministro antes que a Netanyahu. Lieberman, puxo a coisas no seu sítio, seguiu o seu caminho, e deixou-nos para sempre com a dúvida de qual teria sido a capazidade de Livni no toma e daca como governante, inclusso em tempos menos difíceis e funestos que os que teria afrontado de ter chegado a Primeira Ministro de Israel.


E agora, tras aparecer no cenário com o rosto ainda manchado de merengue, Livni comete o seu super-erro, ao rechazar entablar conversas face uma coaligação com Netanyahu. Este é um erro nacional e pessoal.

Desde o ponto de vista nacional, dizer neste momento que não se pode unir a Netanyahu porque ele “nem sequer poderia utilizar a expressão ‘solução de dois Estados’” é absurdo. Existem na actualidade três assuntos candentes que não têm nada a ver com a solução de dois Estados, assuntos nos que não há desacordo entre Tzipi e Bibi: a economia, a reforma política e Iran. Deixá-los ferver, mentres Tzipi se engana a sim própria repetindo que o tema primordial são as infrutuosas conversas que ela manteve com Abu Mazen, tem o mesmo sentido que procurar fogir dum vizinho molesto indo a esconder-se na gaiola dum tigre.

Pouco importa agora que inclusso os israelis moderados –que aceitam o princípio dos dois Estados- duvidem cada vez mais de que vivirão para vê-los convertidos em realidade; inclusso os esquerdistas acreditam que as questões mais urgentes são a economia e Iran. A Tizpi não lhe gosta o desencanto que amosa Bibi face o plano que ela adoptou há meia década, e está disposta a abandoar o país às mãos do eixo populista –Shas, UTJ e os potenciais aliados do Likud- e que obstruam a intenção declarada de Bibi de baixar os impostos –algo que ela também quereria.


Ainda mais, durante os seus dez anos como deputada, Livni nunca fixo campanha por nada do que agora propugna –especialmente por uma reforma governamental. Ironicamente, nem sequer apoiou a iniciativa de nomear automaticamente como Primeiro Ministro ao dirigente do partido mais votado. Agora, que de súpeto, Livni tem “princípios” (e Bibi também) poderia esgrimi-los publicamente declarando a sua fê na solução dos dois Estados; agás, por suposto, que opte pelo velho sistema da rotação.


A menos que baixe da nuvem na que está instalada, Livni está abocada a levar um batacazo: se Bibi logra estabilizar a economia, a pesar de não contar com o seu apoio, todo o mérito recairá sobre Netanyahu, e merecidamente. E se a economia entra numa fase de estancamento, Bibi poderá botar a culpa a Livni por tê-lo arrojado em braços de uma coaligação despilfarradora.


Desde o ponto de vista pessoal, se Livni logra que Kadima não apoie a coaligação de governo, eventualmente poderia ser apartada da dirigência pelos seus próprios colegas. No momento adequado, e pelo preço adequado, gente como Mofaz, Tzahi Hanegbi e Zeev Boim acharão o seu caminho de volta ao Likud –de onde todos procedem e onde se sintem muito mais a gosto que na companhia que Livni tem previsto para eles compartindo as algaradas do Meretz.


Pode que Livni seja sincera e se sinta tão cómoda na extrema esquerda como semelha, mas seguro que a maioria dos seus companheiros de partido não. Nem sequer o “centro” é o seu sítio natural –agás que seja para saborear o mel do poder, claro está… Mas: estar na esquerda e, para além disso, na oposição!? Esse pode ser o sítio para o eleitorado imaginário dos que asessoraram a Livni, mas não para Kadima.


Os seus companheiros de partido começam a murmurar em voz baixa: “Livni terá que entender, mais cedo que tarde, que pode que ela esteja neste jogo pelo poder das ideias, mas nós estamos aquí pela ideia do poder”. E melhor será que o entenda rápido, antes de que a obriguem ao entender.



AMOTZ ASA-EL



1 comentarios:

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04/03/09, 10:31