O modelo sulafricano é promovido em Israel por muitos benintencionados occidentais e, especialmente, pelos países muçulmãos. Outros muçulmãos despreçam aos estereotípicos bandoleiros palestinianos e sentem-se felizes de que Israel os reprima, embora tacitamente, sem pôr em perigo a suposta unidade inter-muçulmã. Inclusso os esquerdistas occidentais incitam a Israel a seguir o modelo sulafricano adjustando-se a uma opressão politicamente correcta dos aborigens. Os esquerdistas são destacados activistas sociais mas aderem o conceito da superioridade do homem branco; Suláfrica amosa ostensivelmente que o colonialismo cultural pode coexistir com a tolerância superficial.
A Suláfrica actual é o típico caso do banquete em tempo de pragas. Os turistas meneam a cabeza quando contemplam as suas intermináveis bairradas, reconhocendo no mais recôndito das suas conciências que o homem branco é superior. Os negócios vam adiante nos bairros brancos, e os Afrikaners conduzem automóveis caros. Os negros dam a nota de cor na política sulafricana e, inclusso, às vezes é possível achar um numa sala de juntas. Os granxeiros brancos têm-se acostumado a uma taxa de assassinatos anual do 0’3 %. A polícia está afeita a ignorar os crimes de menor quantia, como a massiva conducção de veículos sob a influência de alcool, estimada em mais dum 20 % cada noite. Os turistas asumem o 1 % de possibilidades de serem assaltados. As negras não exteriorizam um especial histerismo romântico ante a provabilidade, cifrada num 25 %, de serem violadas antes de alcançar a adolescência. E os brancos blindam as suas residências com uma mescla de muros, alambradas e detectores electrônicos que fazeriam as delícias dos alcaides de Sing Sing *.
Pondo fim ao Apartheid, Suláfrica não criou uma, senão duas sociedades: a dos afrikaners e mestizos fronte a das diversas tribos de negros. Não existe maneira de fraguar uma sociedade homogênea. Esse tipo de sociedade ideal depende de valores e culturas comuns, duma história compartida, e duns desenvolvimentos e capazidades equitativos. A sociedade tem que ser relativamente homogênea, mas nem sequer os mais ultraesquerdistas seriam capazes de imaginar uma sociedade homogênea onde convivam um 8 % de brancos amantes do trabalho e avondo desenvolvidos, com uma legião imensa de negros sem destreza laboral alguma nem ética do trabalho. Inclusso os EEUU, cuja população negra abandoou há mais de 140 anos o trabalho agrícola, não têm sido capazes de integrá-los homogeneamente. É raro que um branco nos EEUU ponha os seus assuntos nas mãos dum advogado ou um médico negro, embora se tenha graduado na melhor das Universidades. Os negros estadounidenses são relativamente poucos, em comparação, o que aínda proporciona aos brancos a esperança de lograr integrá-los. Os negros sulafricanos são excessivos como para que a minoria branca os poida integrar.
Os brancos progressistas de Occidente acham-se ante uma situação difícil. Por exemplo, proporcionam comida e medicinas à África subsahariana para aplacar a terrível taxa de mortandade. A câmbio, a população subsahariana aumenta –e agora são muitos mais os que requerem asistência. O clima sulafricano é muito mais propício para a agricultura, mas nenhum programa agrícola pode incorporar a 40 milhões de pessoas. Os EEUU, um grande consumidor de produtos agrícolas e grande exportador, emprega menos de 10 milhões de pessoas no seitor agrícola. Inclusso se os negros de Suláfrica que malvivem miragrosamente em pocilgas adquirissem técnicas agropecuárias e queimassem todos os boscos e sabanas para dar pé a uma agricultura de subsistência, seguiriam sentindo inveja dos prósperos brancos, inclinando-se pelo saqueo como uma opção preferível a ter que trabalhar as terras. A comida é barata. Alimentar inclusso a uma população desse tamanho não é um problema irresolúvel, mas isso não implica que deixem de aspirar ao que contemplam nos aparelhos de TV conectados às baterias dos seus velhos carros ou quando passeam pelos bairros brancos.
Simplesmente não há modo de fazer que África dê um salto de gigante sobre as múltiples barreiras culturais que separam a Idade do Bronze na que vivem imersos em sociedades tribais até o que são as economias modernas. Contrariamente às nações asiáticas, que estám logrando se inserir na modernidade, as tribos africanas carecem de religiões desenvolvidas –e os livros que estas implicam, a ética do trabalho e a cultura de querer aprender. Isto não quer dizer que África não possa chegar a se desenvolver. Eu tenho visto muitos africanos com um apreço surprendente pelos livros, e Moçambique supõe um exemplo de país africano que se dirige imparavelmente face o progresso. Mas os câmbios institucionais, especialmente a nível continental, sumem no retrasso a gerações e gerações tras esses exemplos pioneiros. Para além disso, demassiados actores poderosos, desde as corporações occidentais passando pelas potenças ex-coloniais, até o novo império sulafricano, têm fortes interesses em manter o atrasso dos africanos, ligando-os à ajuda internacional e a ocasionais acções de intermediação para deter enfrontamentos genocidas. África está chamada a seguir sendo o bassureiro mundial.
Em China, uma minúscula proporção da população está vinculada a uma producção industrial eficiente, e as cacarejadas exportações chinesas são meramente 2’5 vezes as da pequena Holanda; os ingressos para consumo do chinês meio são insignificantes. Inclusso nos EEUU, a maioria da população trabalha em indústrias de servizos. Se o mundo não pode empregar eficazmente a 100 milhões de relativamente bem educados norteamericanos, quais são as possibilidades de dar emprego a 700 milhões de africanos? Uma agricultura moderna e eficaz, assim como a producção industrial, requerem muita pouca mão de obra, e os africanos nem sequer têm as mãos acostumadas a trabalhar como os chineses. Qualquer que seja o ponto de vista que tenhamos com respeito às causas das diferenças étnicas, os africanos têm ficado absolutamente por detrás do resto das culturas.
A ideia subjazente do Estado post-apartheid é que o domínio económico dos brancos compensaria a igualdade política nominal dos negros. Isso funciona num mundo racional; o nosso não o é. O nosso mundo é o mundo da inveja. Os negros sulafricanos não estám dispostos a sentar-se e contemplar holgazaneando como prosperam os brancos. Os negros não se embarcarão no árduo e longo labor de agardar umas quantas gerações a ver se logram o benestar dos brancos, vegetando a costa da sua ajuda benéfica e das migas que caim das suas mesas. É mais provável que intentem expropriar a riqueza dos brancos quanto antes, importando-lhes pouco as conseqüências. Essa expropriação pode chegar por diversas vias: aumento impositivo e redistribuição da riqueza, pôr em marcha projectos de infraestruturas nos vertedeiros negros, ou directamente mediante o saqueo. Os inteligentes Afrikaners sobornarão economicamente aos políticos negros e os convencerão de que escolham a via económica antes que a do nacionalismo negro. Na medida em que sejam capazes de subjugar esse nacionalismo, os brancos estarão relativamente a salvo. A promoção de uma classe de negros aceitavelmente educados vislumbra a emergência duns futuros dirigentes potenciais. Alguns deles propugnarão soluções simples, como apoderar-se das riquezas dos brancos.
A ocupação britânica foi elevadamente beneficiosa para a Índia, mas optaram por pôr tudo patas arriba. A minoria judea foi muito beneficiosa para vários países europeus, mas optaram por aniquilá-los. Não há indícios de que os negros sulafricanos vaiam ser mais racionais que os europeus ou os índios.
A melhor política para os brancos sulafricanos seria abandoar o país em mãos dos negros reservando-se um pequeno enclave predominantemente branco. Não teria por que supôr um problema na grande extensão territorial de Suláfrica. A mentalidade colonialista dos Afrikaners, sem embargo, derivou numa mentalidade imperial, e optarão por um império condeado ao fracasso antes que a viver numa confortável e pequena comunidade.
OBADIAH SHOHER
*Correccional de Sing Sing: centro penitenciário de máxima seguridade de New York.
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