Não comparto muitas, quizás a maioria, das regras jalájicas do judaísmo, embora as observo na sua maioria. Isso não me converte num hipócrita, senão num cidadão responsável da nação judea, respeitoso com a opinião dos demais judeus.
Digamos que mentres a maioria conduz a 65 kms/hora eu penso que é absurdo. Podo conduzir de modo seguro ao doble de velozidade. Seria erróneo ignorar o que é uma tradição e conduzir à velozidade que me desse a ganha.
Velaqui estou, pois: defendendo um câmbio radical das leis rabínicas, mas sendo observante de elas na medida em que constituam a Lei. Não é que a Lei seja basicamente errônea; de facto, serviu para preservar a nação judea durante o Exílio. Mas agora, na medida em que os critérios formais do Exílio têm rematado, a maior parte da legislação rabínica já não é necessária.
Os judeus já não vivem sob o domínio dos gentis. Os judeus têm regressado ao seu país desde todos os rincões do mundo. Não o figemos pela força das armas, senão mediante um arranjo legítimo com as demais nações na ONU. Portanto, não comparto a apelação do movimento jasídico Satmar à proibição talmúdica de regressar pela força (Maimónides a ignorou, em todo caso, quando formulou o mandamento positivo de conquistar e assentar-se na Terra). D’us dixo-nos através dum feixe de miragres que o Exílio rematou e que agora é responsabilidade nossa assentar-nos na Terra adequadamente.
HaShem teve grande cuidado de proibir a adoração e a superstição da prática religiosa judea. A Torá ordea aos judeus fazer um altar de pedrase terra. A explicação é que os objectos feitos pelo homem incorrem na impureza, mas a terra e as pedras permanecem puras para além do constante contacto com o sngue dos sacrifícios. Os sábios acrescentaram algo mais, que o altar -lugar central da oração judea- fosse algo simples, para dissociá-lo das práticas paganas de enchê-los de adornos. Sumade a isto a atmósfera do templo hebreu: a selvagem fetidez das prumas e entranhas das aves ardendo, os restos de sangue que –para além do que vos digam os rabinos- seriam impossíveis de limpar todos os dias. Imaginade o insuportável hedor nos dias de calima, isso que a Torá denomina “doce aroma”. Não é extranho que a Torá proiba virtualmente a presença de gente orando no Templo. A ideia era precisamente manter aos rebanhos de crentes fóra de ele.
Contrastade tudo isso com a observância rabínica: beijos e mais beijos aos rolos da Torá coroados em prata, lanças beijos às ornamentadas mezuzot, carísimas arcas talhadas em todas as sinagogas, e intermináveis serviços de pregária. O judeu médio reza hoje em dia mais horas que o mesmíssimo Rei David; e os midrashim afirmam que rezava muito.
Os incansáveis orates substituim as oferendas no judaísmo rabínico, e o establishment rabínico (não todos os rabinos) evoluiram face a mais feroz das oposições de reinstaurar os sacrifícios. Ignorando a opinião de Maimónides, agardam que o Templo baixe desde os céus, em vez de construi-lo com ladrilhos e argamassa na explanada de Al Aqsa. Mas, inclusso sem Templo, os sacrifícios seguem sendo uma obriga. Os pais de Samson faziam sacrifício baixo supervisão angélica sem necessidade de pelegrinar ao tabernáculo. Não era questão de que a multidão de judeus que viviam para além de Modiin, ou inclusso para além de Galilea, tivessem que fazer uma árdua viagem até Jerusalém em cada ocasião que estava prescrito o sacrifício –como, por exemplo, cada vez que nascia um filho. Goste-nos ou não, os antigos judeus faziam sacrifícios a D’us fóra do Templo, e não existe razão alguma para imaginar que nós somos mais piadosos do que eram eles.
O Judaísmo evolue. Os descendentes directos de Aaron não tocam o shofar, e já não existem sacerdotes hereditários com os que consultar os oráculos e as ordes. Temos a possibilidade de reconstruir honestamente a nossa religião, tratando de permanecer o mais perto possível da original, ou caíndo na simples hipocresia de pretender que as 4/5 partes dos mandamentos já estám inoperativos.
Tomemos o Shabat, por exemplo. A Torá é contundente quando afirma que ninguém pode trabalhar em Shabat nas nossas cidades: nem os escravos (os que carecem de propriedades, opinião ou religião próprias), nem os residentes estrangeiros (os conversos) nem o gando. Mas, que fazeríamos com a polícia ou os hoteis? Não todo o trabalho da polícia consiste em salvar vidas. A proibição não inclui aos membros doutras religiões, e os hoteis dam-lhes emprego a muitos deles –embora isso seria uma farsa. Os não judeus têm proibido trabalhar no Shabat em Israel porque, a fim de contas, eles devem estar também vetados em Israel.
Sim, existem sérias questões sobre a observância religiosa que os judeus deveriam resolver.
OBADIAH SHOHER
12 Sivan 5769 / 4 Junho 2009
Etiquetas: Samson option
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